quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
A Tolerância Católica do Senhor Padre
No jornal online «A Região de Águeda» descobri um interessante artigo escrito pelo reverendo Sr. padre João Paulo Sarabando, a que o ilustre prelado deu o título de “Sete Mulheres”.
Nesse artigo o reverendíssimo padre diz coisas que não podemos deixar de considerar acertadíssimas.
É que o Sr. padre diz de si próprio, por exemplo, que é lerdo e que tem um cérebro pequenino como um passarinho.
E se ele o diz, é porque isso é verdade!
Ora, e logo a abrir o seu luminoso texto, o padre lerdo conta-nos que ficou surpreendido quando viu na televisão que duas mulheres tinham finalmente encontrado «um problema sério para ser resolvido neste país» e se queriam casar.
Proclamando-se desde logo a si próprio como intérprete daquilo que para os outros são «problemas sérios» (atitude, aliás, tipicamente católica), e provavelmente por ser lerdo, o Sr. padre logo pensou que as duas mulheres o acusavam de ser ele – logo ele! – que queria impedi-las de exercer um direito estabelecido na Constituição.
Dito isto, poderíamos pensar que o Sr. padre ia pronunciar-se sobre os direitos liberdade e garantias estabelecidos na Constituição da República Portuguesa.
Que nos ia dar uma lição de direito civil e outra de direito constitucional.
Mas não!
Provavelmente por causa das suas auto-reconhecidas limitações cerebrais de passarinho, o Sr. padre nem quis saber disso.
Não: isso não lhe interessa!
Nem isso lhe cabia na sua cabeça pequenina.
O que lhe interessa e lhe cabe no cérebro pequenino de passarinho são os «Mandamentos da Lei de Deus» que, com as mãozinhas à noite por fora dos lençóis, lhe ensinaram a interpretar no Seminário.
E é um pau!
E para interpretar os Mandamentos o Sr. padre só pode recorrer-se do seu cérebro pequenino de passarinho.
Sim, porque o Sr. padre compara-se a si próprio a um passarinho.
Não sei que motivo levará o Sr. padre a comparar-se a um animal.
E logo com este animal.
Ele lá o saberá.
Ora, este animal, subitamente possuído por um peculiar sentido de interpretação do mandamento que ensina a amar o próximo como a si mesmo, dá a si próprio uma lição de caridade cristã e de tolerância tipicamente católica.
Vai daí, para não falar da Constituição ou dos «problemas sérios» das outras pessoas, que isso, pelos vistos não lhe interessa, este lerdo animal não hesita em difamar no seu brilhante artigo aquelas a que chama «as ditas cujas criaturas».
Provavelmente com a lição bem sabida, não sei se encomendada, mas decerto típica do bom católico que é e da instituição que representa, o padre lerdo e passarinho acusou as mulheres que se queriam casar de «deixar um rasto de pouca seriedade» e de não pagarem aquilo que compram.
Não apresenta provas das acusações que, diz ele, «acaba de saber».
Não discute ideias.
Difama, amesquinha, insulta, ofende!
Porque, como é católico e quer representar bem a instituição a que pertence, pensa que é a vilipendiar as pessoas que a razão lhe entra adentro pela pequenina caixa craniana de passarinho que Deus lhe deu.
E depois de ofender, e de tomar as acusações que «acaba de saber» como certas, o bom católico já pode chegar a uma conclusão tão infalível como as do Papa que bajula, e então proclama solenemente: «por aí se pode ver a seriedade desta luta!...».
E para se ver a seriedade deste padre, nada melhor do que assistir ao desabafo que faz à mágoa que tem à «televisão dita cristã» e ao dinheiro perdido que nos dá a entender que investiu na T.V.I..
E como esse dinheiro foi angariado pelo Patriarcado por ocasião da fundação daquela estação televisiva, é interessante ver o Sr. padre acusar o Cardeal Patriarca de «vendedor de banha da cobra» e do descaminho do dinheiro que lhe entregou: «em boa verdade, dinheiro roubado, porque aplicado em objectivos que nunca foram cumpridos».
O bom do Cardeal deve estar muito contente!
Mas o animal vai mais longe:
Decerto alucinado por anos e anos de abstinência sexual, o lerdo padre, com o pequenino cérebro de passarinho – e, quem sabe, até outros órgãos – todo mirradinho, coitado, por falta de uso, defende que a reivindicação dos direitos constitucionais supõe que se olhe para os dois lados.
Seria qualquer coisa assim: eu sei que tens um direito constitucional, mas como eu não concordo com ele, não o podes exercer!
Absolutamente brilhante!
E tipicamente católico, pois claro!
Mas esta alimária de bico e com o cérebro pequenino termina o seu artigo em beleza.
É que, pasme-se, o Sr. padre teve uma ideia!
Viva!!!
Já o estou a imaginar: os olhos muito abertos das pulsões sexuais reprimidas. O remorso pecaminoso de incontáveis poluções nocturnas. Quem sabe a doce dor de um cilício bem apertadinho numa perna. A saliva já a escorrer-lhe pelos cantos do bico de passarinho de cérebro pequenino, com a fina ironia que julgou encontrar.
Pensando que descobriu a pólvora com aquela cabecinha pequenina, e agigantando-se qual avestruz paramentada, diz o nosso professor Gavião que pretende pedir um direito que lhe pertence.
E qual é esse direito?
Nada mais simples:
Depois de odiar o próximo como a si mesmo, depois de levantar falsos testemunhos quando acusa «as ditas cujas criaturas» de deixar «um rasto de pouca seriedade» e o Cardeal Patriarca de lhe roubar o dinheiro da «televisão dita cristã», este bico dourado do catolicismo exacerbado, veio agora cobiçar a mulher do próximo.
Mas não se pense que é um “próximo” qualquer: não!
Este próximo tem que ser marroquino, porque os marroquinos têm sete mulheres.
E ao Sr. padre não lhe bastava uma mulher para fazer sofrer e matar a golpes de castidade.
Não: quer logo sete!
E termina com um raciocínio tão fabuloso como bem redondo:
«De modo que, se estas duas criaturas (Teresa e Lena, não é) querem um direito que não existe no nosso enquadramento jurídico, eu também quero sete mulheres como os marroquinos (e arranjo-as, porque alguns eventualmente também desejariam). Salvo seja… ».
Eu bem podia pegar-lhe na sua ideia luminosa e dizer-lhe ironicamente que, por definição, o casamento poligâmico está mais perto do casamento heterossexual do que do casamento homossexual.
Podia mesmo perguntar-lhe o que é para ele, padre de cérebro pequenino, isso do «nosso enquadramento jurídico».
Podia ainda fazer-lhe a maldade de lhe perguntar porque motivo é que a ideia da homossexualidade o perturba assim tanto.
Mas não o faço, porque estou convencido que o santo homem não ia perceber.
Aquela maldita cabecinha lerda e pequenina de passarinho!
Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus!
E termina com um raciocínio tão fabuloso como bem redondo:
«De modo que, se estas duas criaturas (Teresa e Lena, não é) querem um direito que não existe no nosso enquadramento jurídico, eu também quero sete mulheres como os marroquinos (e arranjo-as, porque alguns eventualmente também desejariam). Salvo seja… ».
Eu bem podia pegar-lhe na sua ideia luminosa e dizer-lhe ironicamente que, por definição, o casamento poligâmico está mais perto do casamento heterossexual do que do casamento homossexual.
Podia mesmo perguntar-lhe o que é para ele, padre de cérebro pequenino, isso do «nosso enquadramento jurídico».
Podia ainda fazer-lhe a maldade de lhe perguntar porque motivo é que a ideia da homossexualidade o perturba assim tanto.
Mas não o faço, porque estou convencido que o santo homem não ia perceber.
Aquela maldita cabecinha lerda e pequenina de passarinho!
Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus!