terça-feira, 14 de fevereiro de 2006
Eu cá sou contra!

Mais do que as pessoas que se manifestam “contra” porque se dizem católicas (como se alguém neste planeta pugnasse pelo casamento homossexual pela Igreja – cruzes, canhoto!), confesso que chego a ficar indignado com as pessoas que, pondo um ar de inchada superioridade moral em relação ao comum dos mortais, se manifestam definitivamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e proclamam em tom peremptório:
- Eu cá sou contra!
Só que o fazem como se esta opinião correspondesse a um voto cuja proclamação o faz imediatamente entrar numa espécie urna imaginária, onde se vai juntar a muitos outros.
E como se então, todos juntos, formassem uma espécie de autoridade moral e subitamente democrática, e uma «força de bloqueio» capaz de impedir na prática o casamento entre homossexuais em Portugal.
Mas essas pessoas estão redondamente enganadas!
Essa votação já ocorreu!
Ocorreu quando foi eleita a Assembleia Constituinte no dia 25 de Abril de 1975, que um ano mais tarde aprovou por larga maioria (e sem votos contra) uma das mais avançadas e garantísticas constituições do mundo: a Constituição da República Portuguesa.
Ocorreu quando foram eleitas as sucessivas Assembleias da República ao longo das três décadas da democracia portuguesa e que, dotadas de poderes constituintes, foram actualizando a nossa Constituição.
Ocorreu quando a Assembleia da República aprovou por unanimidade a Lei Constitucional nº 1/2004 que aditou ao no 2 do artigo 13º da Constituição a expressão «orientação sexual».
Agora só resta cumprir a Lei e o Estado de Direito Democrático em que vivemos.
Porque a verdade é que o impedimento prático do casamento homossexual é que é ilegal, inconstitucional e inequivocamente contrário ao Estado de Direito.
Como é por demais óbvio, a proclamação filosófica ou ideológica contra o casamento homossexual é absolutamente livre.
Mas é também completamente inútil!