sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006
Contrabando, contrabando!
Já não me lembro do nome do professor.
Mas lembro-me da alcunha de “Sorna” que lhe ficou indelevelmente ligada.
Por motivos tão óbvios que por mera preguiça me abstenho de explicar.
O velho «Liceu Normal Salazar» em Lourenço Marques foi o cenário de uma das mais engenhosas partidas que já vi pregar a um professor.
A vítima foi, como não podia deixar de ser, o desgraçado do Sorna.
Ainda por cima porque o Sorna tinha a irritante mania que com ele nenhum aluno copiava nos testes. E quando via algum movimento suspeito, avançava furioso para o aluno de dedo espetado e a repetir:
- Contrabando, contrabando!
Pois bem: nesse dia havia teste.
Um colega nosso (rais’parta, que não me consigo recordar do nome) lembrou-se de levar para a sala de aula um belo ramo de rosas vermelhas, alguma boa meia-dúzia delas, convenientemente embaladas em papel celofane transparente, e pô-las escondidas debaixo da carteira.
A meio do teste, ensaiou um ar comprometido e pôs-se todo encolhido a remexer ruidosamente no papel celofane das rosas.
Até que o Sorna ouviu o barulho.
Vendo o ar inegavelmente suspeito do aluno, fez como de costume e avançou para ele furibundo e com ar ameaçador, e de dedo espetado lá declarou:
- Contrabando, contrabando!
Ao que o nosso colega negou:
- Eu, stôr? Eu não! – ao mesmo tempo que fingia esconder qualquer coisa que tinha debaixo da carteira.
O Sorna, claro, não se deixou enganar:
- O que é que tens aí debaixo da carteira?
- Eu, stôr? Não tenho nada, stôr, juro!
- Mostra o que tens aí debaixo se não queres ir já p’rá rua.
Aparentemente conformado, o aluno lá tirou o «contrabando» que tinha debaixo da carteira.
Foi então que o nosso colega apareceu lentamente com o ramo de rosas cuidadosamente seguro nas mãos e, como se não acreditasse nos seus próprios olhos, ajoelhou-se de repente no chão, olhou para cima para o Sorna e com o ar mais angelical deste mundo e a voz a tremer de emoção, disse-lhe:
- Milagre, stôr!!!
O Sorna nem queria acreditar.
Não disse nem uma palavra e voltou muito vermelho para a secretária.
E nunca mais, mas nunca mais mesmo, lhe ouvimos a sua frase favorita:
- Contrabando, contrabando!
O velho «Liceu Normal Salazar» em Lourenço Marques foi o cenário de uma das mais engenhosas partidas que já vi pregar a um professor.
A vítima foi, como não podia deixar de ser, o desgraçado do Sorna.
Ainda por cima porque o Sorna tinha a irritante mania que com ele nenhum aluno copiava nos testes. E quando via algum movimento suspeito, avançava furioso para o aluno de dedo espetado e a repetir:
- Contrabando, contrabando!
Pois bem: nesse dia havia teste.
Um colega nosso (rais’parta, que não me consigo recordar do nome) lembrou-se de levar para a sala de aula um belo ramo de rosas vermelhas, alguma boa meia-dúzia delas, convenientemente embaladas em papel celofane transparente, e pô-las escondidas debaixo da carteira.
A meio do teste, ensaiou um ar comprometido e pôs-se todo encolhido a remexer ruidosamente no papel celofane das rosas.
Até que o Sorna ouviu o barulho.
Vendo o ar inegavelmente suspeito do aluno, fez como de costume e avançou para ele furibundo e com ar ameaçador, e de dedo espetado lá declarou:
- Contrabando, contrabando!
Ao que o nosso colega negou:
- Eu, stôr? Eu não! – ao mesmo tempo que fingia esconder qualquer coisa que tinha debaixo da carteira.
O Sorna, claro, não se deixou enganar:
- O que é que tens aí debaixo da carteira?
- Eu, stôr? Não tenho nada, stôr, juro!
- Mostra o que tens aí debaixo se não queres ir já p’rá rua.
Aparentemente conformado, o aluno lá tirou o «contrabando» que tinha debaixo da carteira.
Foi então que o nosso colega apareceu lentamente com o ramo de rosas cuidadosamente seguro nas mãos e, como se não acreditasse nos seus próprios olhos, ajoelhou-se de repente no chão, olhou para cima para o Sorna e com o ar mais angelical deste mundo e a voz a tremer de emoção, disse-lhe:
- Milagre, stôr!!!
O Sorna nem queria acreditar.
Não disse nem uma palavra e voltou muito vermelho para a secretária.
E nunca mais, mas nunca mais mesmo, lhe ouvimos a sua frase favorita:
- Contrabando, contrabando!