segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

 

Boas Notícias e Más Notícias



E pronto!

Tal como as sucessivas sondagens unanimemente prenunciavam, eleito logo à primeira volta, Aníbal Cavaco Silva é o novo Presidente da República de Portugal.

Estas são as más notícias, claro.

No entanto, e apesar de tudo, Cavaco Silva será agora também «o meu presidente».
Se até hoje em todas as eleições presidenciais sempre votei no candidato que foi eleito, também sempre achei abjecto que os apoiantes dos candidatos derrotados se recusassem a “aceitar como seu” o novo Presidente.
Não vou, por isso, fazer o mesmo.
Cavaco Silva é o novo Presidente da República, por muito que me vá custar habituar a essa ideia.


Quanto as resultados eleitorais, e ao contrário do que tenho visto ser adivinhado por tanta gente, acho que a enorme vantagem que Manuel Alegre alcançou sobre Mário Soares não terá a mínima consequência no interior do Partido Socialista e não “servirá de lição” para ninguém.
Bem vistas as coisas, com a eleição de Cavaco Silva à primeira volta, tão derrotado foi Soares como Alegre.

A antecipação do Congresso do PS para os próximos meses somente trará uma nova e pacífica consagração de Sócrates à frente dos destinos do Partido, e nessa altura já ninguém se lembrará das aventuras presidenciais que o secretário geral protagonizou.
Ainda que ninguém até hoje tenha percebido onde queria chegar com o relançamento de Mário Soares, que toda a gente bem sabia que estava à partida votado a um estrondoso fracasso.

Também será rapidamente esquecido o rancor que neste momento Manuel Alegre encontra no interior do Partido Socialista.
Até porque esse rancor está bem longe de ser unânime...


Mais politicamente significativo, penso, e também sem consequências de maior, terá sido o magro resultado obtido por Francisco Louçã, principalmente se comprado com o de Jerónimo de Sousa.


Rejubila agora a direita.
E faz muito bem, porque é assim que se vive quotidianamente a democracia.

Ainda que a fazer de conta que a eleição de Cavaco Silva não se deve mais do que a uma escandalosa falta de comparência da esquerda.
Ainda que a fingir que não sabe bem que qualquer Guterres ou qualquer António Vitorino teria derrotado Cavaco, também à primeira volta.
Ainda que faça de conta que não sabe que Cavaco foi eleito «por exclusão de partes» dos outros candidatos. E que isso não é um currículo lá muito abonatório para um presidente.
Ainda que vire a cara para o lado quando é acusada de ter passado um cheque em branco a um candidato presidencial beneficiado por um sebastianismo portuguesinho e bacoco.
Ainda que não saiba como vai Cavaco actuar sobre os acontecimentos importantes que no futuro se lhe vão deparar na vida portuguesa, já que ele sempre se recusou cobardemente a dizer o que pensa sobre os mais importantes e fracturantes temas nacionais.

E ainda que, já na própria noite da eleições, se sinta já o regresso da arrogância imbecil dos «anos negros do cavaquismo» e das «forças de bloqueio», desta vez misturada com um incompreensível sentimento de uma vingança raivosa e ressabiada, requentada por 30 anos de Presidentes eleitos pela esquerda.

Mas a vingança é um prato que se serve frio. E nunca se sabe quantos sapos poderá ainda a direita ter de engolir com alguma inesperada atitude de Cavaco Silva no futuro.
Pois é isso mesmo: ninguém sabe!

E só mais uma coisa:
Que não pensem os exultantes eleitores cavaquistas, ou sequer a família política que o elegeu, que uma vitória eleitoral é sinónimo obrigatório de que o Presidente da República ficou legitimado para ter sempre razão, ou que tem carta branca para fazer tudo aquilo que lhe der na veneta.
Essa legitimidade nunca existe!
Principalmente se pensarmos que a família política que elegeu Cavaco Silva é precisamente a mesma que elegeu George W. Bush., Aznar ou Berlusconi.
E isto é gente que eu definitivamente não quero para minha família.


Mas nem tudo são más notícias com estes resultados eleitorais.
Também há boas notícias.
É esperar para ver: estou absolutamente persuadido de que a eleição de Cavaco Silva trará em breve novos e inesgotáveis temas de notícias, debates e comentários à «Blogosfera».

Tal como nos bons velhos tempos do Governo de Pedro Santana Lopes...





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