quarta-feira, 2 de novembro de 2005
A Reeleição
No dia 2 de Novembro de 2004 George W. Bush foi reeleito presidente dos Estados Unidos da América.
É curioso como há um ano, com a reeleição de Bush, se assistiram por esse mundo fora a tantas manifestações de regozijo por parte dos mais variados sectores da direita mais conservadora.
Até a confortável margem da vitória sobre John Kerry serviu como uma espécie de catarse, e para fazer esquecer aos republicanos como tinha sido conseguida a vitória sobre Al Gore quatro anos antes.
Portugal não foi excepção:
Por essa blogosfera fora, e a título de exemplo, pudemos ver Pacheco Pereira a declarar orgulhosamente no «Abrupto» que se fosse americano votaria Bush, e assistimos à ironia vitoriosa do «Blasfémias».
Até o Rodrigo Moita de Deus, numa espécie de representação dos seus colegas de Blog, chamou no «Acidental» a George W. Bush o “homem milagre”!!!
Assim numa espécie de alívio, mais de consciências que político, diga-se de passagem, os nossos intelectuais da direita viram na reeleição de George W. Bush a justificação final para a Guerra do Iraque, e até como uma espécie de "referendo popular" à justeza da invasão.
E em que o povo americano foi promovido a legítimo representante do povo do resto do planeta, claro.
Mas mais do que isso, a vitória de Bush foi vista como sinónimo do sucesso das políticas liberais e conservadoras à escala global, e que hoje em dia tanto está na moda defender (que o digam os apoios à candidatura presidencial de Cavaco Silva).
Mas mais do que isso, a vitória de Bush foi vista como sinónimo do sucesso das políticas liberais e conservadoras à escala global, e que hoje em dia tanto está na moda defender (que o digam os apoios à candidatura presidencial de Cavaco Silva).
E principalmente como uma vitória pessoal de quem no mundo corporiza e é visto como o brilhante e supremo representante dessa área política, mas que - ó injustiça! - é tão maldosamente tratado pelos seus oponentes como um qualquer débil mental.
Depois, a esmagadora vitória de Bush só podia ser vista como um prenúncio da continuação do sucesso do liberalismo por esse mundo fora.
E também em Portugal, porque não?
Recordemos que quem era primeiro ministro nessa ocasião era Santana Lopes...
Agora passou um ano.
E como vai a presidência de George W. Bush?
Bem:
Para já, as sondagens (que já sei que “valem o que valem”) há muito que deixaram de ser elogiosas para o brilhante presidente americano, a quem dão agora pouco mais de 30% das intenções de voto.
Parece que as coisas começaram a correr mal quando os americanos descobriram que Michael Brown, o director do serviço de Protecção Civil lá do sítio, tinha sido nomeado mais por ser amigo pessoal do presidente do que por qualquer aptidão curricular para o cargo.
E que, como é natural, tinha dado com os burrinhos na água quando o furacão Katrina atingiu a cidade de Nova Orleans em Agosto passado.
Depois, apareceu-lhe pela frente o escândalo relacionado com o seu vice-chefe de gabinete e principal conselheiro político, Karl Rove, e que, apesar de ainda se encontrar em investigação criminal, pela vertente política de aparente encobrimento de responsabilidades das mais altas esferas da Casa Branca no caso em que está envolvido, foi já comparado ao próprio escândalo Watergate por Carl Bernstein, o jornalista que com Bob Woodward o revelou em 1972 no Washington Post.
Como se não bastasse, o próprio Lewis Libby, o chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney foi agora formalmente acusado por um júri federal por cinco crimes de perjúrio praticados durante uma investigação sobre uma fuga de informação sobre a identidade de uma agente da CIA.
O que só por si deixa também no ar muitas perguntas sobre quem estará Libby a proteger.
De seguida, no dia 3 de Outubro de 2005, veio a nomeação de Harriet Miers para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, em substituição de Sandra Day O’Connor, tida como moderada.
Obviamente que o seu principal currículo, para além de ser mulher, era ser uma fervorosa cristã evangelista e uma pessoa notoriamente conservadora, tal como já o era o seu colega John Roberts, anteriormente nomeado por George W. Bush para o Supremo Tribunal.
Mas, ao que parece Harriet Miers não era suficientemente conservadora e piedosa o bastante.
E então, 24 dias depois, George W. Bush voltou atrás com a nomeação!
E, numa inqualificável cedência à facção mais ultra-conservadora do Partido Republicano, nomeou o inefável juiz Samuel Alito, tido como um ultra-radical de direita e um fervoroso católico, conotado com as facções mais fanáticas da Opus Dei, e incondicional apoiante da pena de morte, da discriminação dos homossexuais e radicalmente contra o aborto, quaisquer que sejam as circunstâncias.
Só resta agora por explicar quem é que afinal nos Estados Unidos detém o poder efectivo de nomeação dos juizes do Supremo Tribunal...
A este propósito não há quem deixe de relacionar esta atitude com o discurso que George W. Bush proferiu já em Agosto de 2005, e em que defendeu que, a par das teorias evolucionistas de Darwin, as escolas americanas iriam também passar a ensinar que o aparecimento do homem na Terra se deve única e exclusivamente... à intervenção divina.
Tudo isto, conjugado com o descalabro das contas públicas americanas que, completamente fora de controle, não prenunciam nada de bom ao tal famoso liberalismo.
A não ser que os nossos amigos liberais tomem como exemplo o sucesso da «Halliburton»...
Finalmente, e como se não bastasse, foi atingida a cifra de 2.000 mortos só entre as tropas americanas no Iraque, o que faz relançar o debate sobre a justeza e até sobre a necessidade da invasão, e sem que esteja à vista uma solução condigna que não faça lembrar o fantasma do Vietname.
Depois, a esmagadora vitória de Bush só podia ser vista como um prenúncio da continuação do sucesso do liberalismo por esse mundo fora.
E também em Portugal, porque não?
Recordemos que quem era primeiro ministro nessa ocasião era Santana Lopes...
Agora passou um ano.
E como vai a presidência de George W. Bush?
Bem:
Para já, as sondagens (que já sei que “valem o que valem”) há muito que deixaram de ser elogiosas para o brilhante presidente americano, a quem dão agora pouco mais de 30% das intenções de voto.
Parece que as coisas começaram a correr mal quando os americanos descobriram que Michael Brown, o director do serviço de Protecção Civil lá do sítio, tinha sido nomeado mais por ser amigo pessoal do presidente do que por qualquer aptidão curricular para o cargo.
E que, como é natural, tinha dado com os burrinhos na água quando o furacão Katrina atingiu a cidade de Nova Orleans em Agosto passado.
Depois, apareceu-lhe pela frente o escândalo relacionado com o seu vice-chefe de gabinete e principal conselheiro político, Karl Rove, e que, apesar de ainda se encontrar em investigação criminal, pela vertente política de aparente encobrimento de responsabilidades das mais altas esferas da Casa Branca no caso em que está envolvido, foi já comparado ao próprio escândalo Watergate por Carl Bernstein, o jornalista que com Bob Woodward o revelou em 1972 no Washington Post.
Como se não bastasse, o próprio Lewis Libby, o chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney foi agora formalmente acusado por um júri federal por cinco crimes de perjúrio praticados durante uma investigação sobre uma fuga de informação sobre a identidade de uma agente da CIA.
O que só por si deixa também no ar muitas perguntas sobre quem estará Libby a proteger.
De seguida, no dia 3 de Outubro de 2005, veio a nomeação de Harriet Miers para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, em substituição de Sandra Day O’Connor, tida como moderada.
Obviamente que o seu principal currículo, para além de ser mulher, era ser uma fervorosa cristã evangelista e uma pessoa notoriamente conservadora, tal como já o era o seu colega John Roberts, anteriormente nomeado por George W. Bush para o Supremo Tribunal.
Mas, ao que parece Harriet Miers não era suficientemente conservadora e piedosa o bastante.
E então, 24 dias depois, George W. Bush voltou atrás com a nomeação!
E, numa inqualificável cedência à facção mais ultra-conservadora do Partido Republicano, nomeou o inefável juiz Samuel Alito, tido como um ultra-radical de direita e um fervoroso católico, conotado com as facções mais fanáticas da Opus Dei, e incondicional apoiante da pena de morte, da discriminação dos homossexuais e radicalmente contra o aborto, quaisquer que sejam as circunstâncias.
Só resta agora por explicar quem é que afinal nos Estados Unidos detém o poder efectivo de nomeação dos juizes do Supremo Tribunal...
A este propósito não há quem deixe de relacionar esta atitude com o discurso que George W. Bush proferiu já em Agosto de 2005, e em que defendeu que, a par das teorias evolucionistas de Darwin, as escolas americanas iriam também passar a ensinar que o aparecimento do homem na Terra se deve única e exclusivamente... à intervenção divina.
Tudo isto, conjugado com o descalabro das contas públicas americanas que, completamente fora de controle, não prenunciam nada de bom ao tal famoso liberalismo.
A não ser que os nossos amigos liberais tomem como exemplo o sucesso da «Halliburton»...
Finalmente, e como se não bastasse, foi atingida a cifra de 2.000 mortos só entre as tropas americanas no Iraque, o que faz relançar o debate sobre a justeza e até sobre a necessidade da invasão, e sem que esteja à vista uma solução condigna que não faça lembrar o fantasma do Vietname.
E ainda por cima o raio das armas de destruição maciça, que não há meio de aparecerem!
Pois é!
Mas o que é mais curioso é que nenhum dos indefectíveis apoiantes de George W. Bush me parece muito entusiasmado a comentar este primeiro ano do segundo mandato do presidente americano, esse brilhante “homem milagre”.
É pois com a maior curiosidade que vou por essa blogosfera fora descobrir como é comentada esta efeméride, decerto tão feliz para tanta gente...
Está, de facto, um silêncio ensurdecedor!!!
Pois é!
Mas o que é mais curioso é que nenhum dos indefectíveis apoiantes de George W. Bush me parece muito entusiasmado a comentar este primeiro ano do segundo mandato do presidente americano, esse brilhante “homem milagre”.
É pois com a maior curiosidade que vou por essa blogosfera fora descobrir como é comentada esta efeméride, decerto tão feliz para tanta gente...
Está, de facto, um silêncio ensurdecedor!!!