quarta-feira, 30 de novembro de 2005
Isto é um “supônhamos”
Contra a opinião da generalidade dos seus antigos ministros das finanças, como Miguel Beleza, Eduardo Catroga e Manuela Ferreira Leite, o PSD (como toda a restante oposição) acabou de votar contra a proposta de Orçamento de Estado para 2006.
Com esta posição Marques Mendes revelou uma manifesta falta de coragem política para assumir uma votação favorável.
Tanto mais que havia antes qualificado o Orçamento como «globalmente positivo».
E perdeu uma oportunidade única para se assumir como um grande líder de uma oposição responsável e credível, e acabou por, à direita, entregar o protagonismo do debate (e da própria oposição) ao CDS.
A um honesto reconhecimento da inevitabilidade das medidas de contenção do Orçamento, a uma pacificação social resultante de um «pacto de regime», Marques Mendes preferiu antes a capitalização popularucha do descontentamento da rua.
Senão vejamos:
Decerto ninguém me desmentirá se eu afirmar que as críticas feitas à governação de José Sócrates residem quase exclusivamente no aumento dos impostos (nomeadamente da taxa do I.V.A. e das mais recentes implicações que resultarão da Lei do Orçamento para 2006), feito à revelia das promessas eleitorais, e também ainda no desassossego resultante dos “ataques” aos benefícios sociais e corporativos de algumas classes profissionais até agora mais privilegiadas.
Aqui residirá basicamente a base do desgaste do Governo do Partido Socialista, com os óbvios reflexos que até já puderam ser observados nos resultados globais de incidência nacional das últimas eleições autárquicas.
Não vou agora aqui analisar a justeza ou a incorrecção dessas medidas. Isso fica para depois.
Mas façamos agora aqui um pequeno “supônhamos”:
Imaginemo-nos transportados para Janeiro de 2006.
Imaginemos que Cavaco Silva ganhou as eleições presidenciais.
Imaginemos que uma das primeiras medidas que Cavaco toma como Presidente da República é demitir Sócrates, dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas (o que é defendido, afinal, por tanta gente, face ao precedente criado por Sampaio com Santana Lopes).
Imaginemos que o PSD ganha as eleições e que Marques Mendes é o novo Primeiro-ministro.
Feito o “supônhamos”, agora pergunto eu:
Alguém sequer imagina que se Marques Mendes fosse Primeiro-ministro não implementaria uma política de continuação rigorosa das actuais medidas de Sócrates?
Alguém imagina que Marques Mendes cometeria a loucura de baixar os impostos ou de repor os benefícios sociais de excepção agora retirados por Sócrates?