quarta-feira, 12 de outubro de 2005

 

A gota de água



De uma leitora assídua do «Random Precision» recebi o seguinte texto, que não resisto a publicar na íntegra:


«Ontem, deixei que a música “rulasse”, como diria a minha adolescente, escolhi uma "playlist" de músicas que queria ouvir, tirei o som da Televisão e fui acompanhando os resultados das eleições autárquicas em quatro ou cinco canais pelas notas de rodapé e pelos painéis que iam aparecendo.

«Não, sem antes ter ouvido o nosso Primeiro falar em qualquer coisa como uma “festa da democracia” e que os Portugueses estavam de Parabéns, até porque, ao invés de outros anos, com alguns distúrbios e boicotes pelo meio, este ano, as eleições expressavam um claro gesto da cidadania portuguesa, honra e orgulho para Portugal e tal e tal e etc.

«Mas será que sou só eu que sinto este mal-estar e que todos se esqueceram dum pequeno pormenor - aliás seis pequenos pormenores - que seis candidatos nestas eleições são arguidos em processos crime por corrupção?
A verdade é que isto me incomoda muito mais do que meia dúzia de cidadãos a manifestarem-se contra o voto enquanto não tiverem um Centro de Saúde ou uma igreja nova.

«Festa democrática? Cidadania? Orgulho, Honra, ... devem ter sido estas as palavras mágicas para eu accionar de imediato a tecla “sem som” do meu televisor.
Aliás, sem o ruído constante da demagogia dos discursos políticos, consegui ver por exemplo, como o grande destaque televisivo (de todos os canais) foi dado aos seis magníficos, respondendo ao apelo tentador e tirânico das audiências do “Vamos lá a ver se os ladrões sempre ganham isto?”
Bem ... culpados, culpados ... eles não são, ou não sabemos se são. Eles são só A-R-G-U-I-D-O-S e o que quer que isso seja, não deve ter importância, é o que há pr’aí mais aos pontapés!

«Mas a gota de água foi a arrogância da entrada apoteótica de Valentim Loureiro, que num gesto de extrema violência arrancou o microfone de um cidadão anónimo, que ainda por cima tentava ajudá-lo, tornando clara a distribuição também pelo Norte de “grandes ordinários”.

«Decididamente, para mim Sr. Primeiro-Ministro, a “festa democrática” acabou aqui, desliguei a televisão e pensei que amanhã é outro dia, e talvez me possam esclarecer sobre o que significa afinal ser arguido num processo crime.
Até lá vou esperando que o poder Judicial faça jus à tão apregoada separação de poderes.

«Ou isto ou aquela teoria que tem vindo a ganhar cada vez mais consistência:
«Nas autarquias todos roubam, mas se tiveres obra feita no município, não faz mal...».




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