quarta-feira, 21 de setembro de 2005
A ajuda de Deus
À medida que se vai conhecendo a verdadeira dimensão das consequências do furacão «Katrina» que assolou o Sul dos Estados Unidos e, com particular violência a cidade de Nova Orleans, também se vai revelando a incomensurável incompetência da administração Bush para lidar com catástrofes de grandes dimensões.
Mas George W. Bush encontrou a receita ideal para se descartar de responsabilidades e fazer esquecer as nomeações de amigos e companheiros de evangelismo incompetentes para lugares de grande responsabilidade nos serviços da protecção civil americana: virou-se para Deus!
Foi com toda a certeza na busca da pureza divina que George W. Bush começou já a desviar os recursos financeiros e humanos dos serviços federais de segurança de luta contra o terrorismo para o combate a um novo flagelo, pelos vistos muito mais importante para a segurança da humanidade, que é... a pornografia.
Mas já há muito que o presidente norte americano tinha passado a referir-se em todos os seus discursos, com um registo cada vez mais místico e esotérico, à força que a sua fé lhe proporciona e à sua humildade e pequenez perante Deus.
Para apaziguar os críticos da inépcia do seu governo, Bush vai comparecendo a sucessivos serviços religiosos onde despudoradamente sacode a água do capote e passa a responsabilidade para quem tem as costas largas e não se pode defender:
«Peço o conforto de Deus para os homens e mulheres que tanto sofreram e rezo a Deus para que os desaparecidos encontrem um caminho seguro de regresso e para que os que morreram encontrem o repouso sagrado»
«Peço a ajuda do Todo-Poderoso para o difícil trabalho que temos pela frente».
É bem revelador da indignidade e do carácter de uma pessoa o seu persistente amesquinhamento e menosprezo perante uma divindade qualquer.
Mas já é muito preocupante que um chefe de Estado, o homem mais poderoso do planeta, que tem na sua disponibilidade invadir este ou aquele país sem prestar sequer contas à comunidade internacional, invoque a ajuda divina para a resolução dos problemas do seu país como se isso o libertasse da sua responsabilidade ou das consequências dos seus actos.
Porque, como nos ensina a História dos homens, todos os governantes que invocam a ajuda divina acabam mais tarde ou mais cedo por deixar de prestar contas à sua própria consciência para passarem a tornar-se reféns de um guru qualquer que acreditam ser o portador da «palavra de Deus».