quinta-feira, 7 de julho de 2005
Assim de repente...
Tocou o telefone.
Uma juíza de instrução criminal queria falar comigo com urgência, a propósito de um processo que patrocino.
Como é óbvio, a minha primeira impressão não podia ser outra:
- Mau! Já temos o caldo entornado!
Mas eis que a juíza começa por me cumprimentar com muita afabilidade e a pedir-me desculpa pelo incómodo.
Aí, comecei a pensar:
- Pronto! Meteu a pata na poça nalgum lado, e quer ver se se safa!
Mas não:
Explicou-me com grande naturalidade que se preparava para tomar algumas decisões no processo.
Contudo, e obviamente sem me adiantar quais eram essas decisões, referiu-me que a grande complexidade do processo crime em questão e o elevado número dos queixosos que patrocino (um estabelecimento de ensino superior e mais de uma dezena dos seus professores) poderia faze-la induzir em erro se nalguma parte estivesse a interpretar erradamente o conteúdo da minha acusação, ou até se não estivesse a entender perfeitamente a interacção entre os factos e as pessoas que intervinham no processo, quer da parte de quem acusa, quer da parte de quem é acusado.
Assim, se eu lhe tirasse algumas dúvidas e a ajudasse a entender melhor o processo na sua globalidade, sempre se evitava que eu, se eventualmente não concordasse com a sua decisão, viesse a reagir processualmente, nomeadamente requerendo a abertura da instrução.
Desse modo, disse-me, poderia abreviar-se a marcha do processo e ganhar-se muitos meses.
Como é óbvio, anuí prontamente.
Expliquei-lhe detalhadamente os meandros do caso.
Pelas perguntas que me fez mostrou conhecer a fundo o processo e foi extremamente cautelosa em não me revelar as suas intenções antecipadamente.
Depois, agradeceu-me a minha disponibilidade e desligou.
Já viram isto?
Anda aqui uma pessoa a clamar há uma data de tempo contra a justiça e contra a forma como as pessoas que nela trabalham a administram.
E, assim de repente, aparece-nos sem qualquer aviso uma juíza destas: interessada, inteligente, competente e que não se importa de descer do seu “pedestal” para decidir em consciência.
Mas onde é que isto vai parar?...