segunda-feira, 4 de julho de 2005
A Ajuda a África
Segundo o «Telegraph News» a ajuda do conjunto dos países ocidentais a África totalizou nos últimos 40 anos a assombrosa quantia de 220 mil milhões de libras.
Contudo, a “Economic and Financial Crimes Commission” da Nigéria anunciou que desde a sua independência da Inglaterra, em 1960, os responsáveis do regime militar que governou aquele país até 1999 se apropriaram da quantia de... 220 mil milhões de libras!
Calcula-se que só o General Sani Abacha, o falecido líder do regime militar nigeriano, se aboletou sozinho durante os 5 anos que esteve no poder com uma quantia que poderá aproximar-se do 3 mil milhões de libras.
Tudo cuidadosamente depositado a salvo em bancos ocidentais.
Entretanto, cerca de dois terços da população nigeriana vive na mais abjecta pobreza e cerca de 40% nem sequer tem acesso a água potável.
E, pelo que nos últimos anos tem sido repetidamente dito na comunicação social, estes números não passam de uma brincadeira de crianças para José Eduardo os Santos.
O presidente Angolano, feliz proprietário de um Boeing privado, luxuosamente transformado, é acusado de receber uma comissão por cada barril de petróleo vendido por Angola e de ter interesses directos, ainda que por intermédio de familiares, na produção diamantífera daquele país, para já não falar nas chorudas comissões dos negócios de armas, que talvez expliquem a longa duração da guerra com a UNITA.
O resultado é a vida faustosa destes nababos (com a curiosa coincidência de que o maior fausto parece provir precisamente dos presidentes dos países mais miseráveis e necessitados), e ainda as já famosas digressões para compras das suas mulheres, nas melhores e mais luxuosas lojas de Paris, Nova Iorque ou de Beverly Hills.
Só numa única visita ao Brasil a mulher de José Eduardo dos Santos gastou mais dinheiro do que o governo Angolano havia disponibilizado num ano para a abertura de uma linha de crédito às empresas do país, tendo ficado famosa a sua generosidade para conceder gorjetas de 10.000 dólares às empregadas dos hotéis em que vai ficando alojada.
Ou seja:
No rescaldo da fabulosa iniciativa que o «Live 8» constituiu, talvez se devesse chegar à conclusão que o perdão puro e simples da dívida externa do países africanos é bem capaz de não ser uma boa ideia.
Porque a maior parte da ajuda ocidental continuará sem chegar às populações que dela mais precisam, talvez esse perdão contribua somente para enriquecer e aumentar ainda mais o poder de compra dos líderes corruptos desses países, ou até para ajudar a permanência no poder de cleptocratas, como José Eduardo dos Santos, e até de assassinos sanguinários, como Robert Mugabe.
Muito melhor ideia seria, por exemplo, fazer persistir a obrigação do pagamento das dívidas, embora com a sua directa e imediata afectação a iniciativas de desenvolvimento e a programas humanitários muito concretos, através da UNICEF ou de outros organismos das Nações Unidas.
Mas, muito provavelmente, os líderes africanos considerariam essas iniciativas uma inaceitável ingerência nos assuntos internos dos seus países, e exigiriam continuar a ser eles próprios, como até agora, os únicos responsáveis pela administração dos fundos recebidos...