quinta-feira, 16 de junho de 2005

 

A História Alternativa de Portugal







Quarta-feira, 26 de Novembro de 1975
Tentativa de golpe fascista contra-revolucionário esmagado ontem pelas Forças Armadas!
Conselho da Revolução assegura controle de todo o país.
General Otelo Saraiva de Carvalho ao nosso jornal: o COPCON está vigilante.
Coronel Ramalho Eanes morto a tiro quando se exibia em pé em cima de uma «Chaimite».


Quinta feira, 27 de Novembro de 1975
Remodelação no Conselho da Revolução.
Militares contra-revolucionários impedidos de assistir à reunião de ontem.
General Morais e Silva demitido do cargo de Chefe de Estado Maior das Forças Armadas.
Vasco Lourenço demitido do comando da Região Militar de Lisboa.
Otelo Saraiva de Carvalho é empossado para aqueles dois cargos de chefia, que passará a acumular com a direcção do COPCON.
Os 1000 militares revolucionários de Tancos são reintegrados nas Forças Armadas.


Sexta-feira, 28 de Novembro de 1975
Por imposição do Conselho da Revolução, o Presidente da República, General Francisco da Costa Gomes demite o primeiro-ministro, Almirante Pinheiro de Azevedo.
O ex-primeiro-ministro, em funções somente desde o dia 19 de Setembro, está ausente em parte incerta.
O COPCON é reinvestido nos poderes revolucionários de intervenção para restabelecimento da ordem pública.
É extinto o «Regimento de Comandos da Amadora» e todos os seus elementos imediatamente passados à reserva e à disponibilidade.


Terça-feira, 2 de Dezembro de 1975
O Presidente da República, General Costa Gomes dá posse ao VII Governo Provisório.
O Dr. Álvaro Cunhal é empossado como primeiro-ministro.
Octávio Pato é o novo ministro dos Negócios Estrangeiros.
O General Vasco Gonçalves, que foi primeiro-ministro de quatro Governos provisórios, apoiou entusiasticamente esta indigitação e declarou na cerimónia da tomada de posse ao nosso jornal:
«Ou se é pela revolução ou se é pela reacção! Não há cá terceiras vias...».


Quarta-feira, 3 de Dezembro de 1975
O Conselho da Revolução dissolve a Assembleia Constituinte.
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal declarou ao nosso jornal:
«Uma Assembleia que não reflecte a realidade revolucionária de um país tem de ser dissolvida; a democracia burguesa, assegurada por partidos contra-revolucionários não pode ser mais tolerada».
Militares cercam o palácio de São Bento e asseguram o cumprimento das determinações revolucionárias do Governo.


Quinta-feira, 4 de Dezembro de 1975
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal em viagem relâmpago à União Soviética.
No aeroporto o primeiro-ministro declarou: «só os governos revolucionários dos países amigos e nossos aliados podem ajudar a nossa jovem revolução».
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Octávio Pato anunciou o pedido de entrada de Portugal no COMECON


Sexta-feira, 5 de Dezembro de 1975
O secretário geral do Partido Socialista, Dr. Mário Soares foi preso esta madrugada pelo COPCON.
Mário Soares é acusado de traição à Pátria e à Revolução Socialista, porque repudiou publicamente o ingresso de Portugal no COMECON e porque defendeu antes a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia.
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal declarou a propósito da prisão de Mário Soares:
«O lugar da contra-revolução é numa cela de prisão».


Sábado, 6 de Dezembro de 1975
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal regressa da União Soviética.
O Governo estreitou os laços revolucionários com o país irmão, e assegurou a ajuda soviética a Portugal.
O Secretário do Partido Comunista da União Soviética, camarada Leonid Brejnev, foi convidado a visitar o nosso país.
As conversações para o ingresso de Portugal no COMECON iniciam-se já no princípio do próximo ano.


Domingo, 7 de Dezembro de 1975
O Conselho da Revolução denuncia o «Pacto MFA/Partidos».
Francisco Sá carneiro, presidente do P.P.D. (Partido Popular Democrático) refugia-se em Inglaterra depois de aparentemente ter atravessado a fronteira para Espanha por barco, em Vila Real de Santo António.
Desconhece-se o paradeiro do Dr. Freitas do Amaral, líder do C.D.S. (Partido do Centro Democrático Social). Fontes próximas do líder daquele partido reaccionário declararam simplesmente:
«Não se encontra em Portugal».


Quarta-feira, 10 de Dezembro de 1975
O Conselho da Revolução publica Lei Constitucional histórica:
São proibidos os partidos políticos reaccionários ou contra-revolucionários.
Caberá ao Governo a definição daqueles conceitos.
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal declarou a este propósito ao nosso jornal:
«A Revolução não pode permitir a guarida no seu seio a quem a combate insidiosamente nas suas costas».
«Serão imediatamente proibidos todos os partidos políticos que não se enquadrem no espírito da Revolução de Abril, desde esse grupelho que se intitula do Centro, àquele que tem o desplante de ter as palavras popular e democrático na sua sigla e principalmente o partido que se arroga ser socialista».
«Só o Partido Comunista Português é um partido verdadeiramente revolucionário; o P.C.P. é o único partido que, com a ajuda do povo, em comunhão com o povo, e com o apoio dos operários, dos camponeses, dos soldados e dos marinheiros, será capaz de defender e assegurar as conquistas de Abril e a Reforma Agrária».


Sexta-feira, 12 de Dezembro de 1975
Forte de Peniche transformado em «Prisão da Revolução».
Mário Soares, o ex-secretário geral do ilegalizado Partido Socialista, um dos seus primeiros ocupantes, será amanhã transferido para aquele Forte.


Segunda-feira, 15 de Dezembro de 1975
Instituído o «Controle Militar da Informação».
Todos os órgãos de comunicação social passam a ser sujeitos ao controle revolucionário da informação que pretendam dar ao povo.
O ministro da Informação, José Casanova, declarou ao nosso jornal:
«os órgãos de comunicação que sejam verdadeiramente revolucionários, que têm a temer?».


Quarta feira, 17 de Dezembro de 1975
Fidel Castro de visita a Portugal.
«El Comandante» recebido com todas as honras no aeroporto da Portela pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro, para uma visita de três dias ao nosso país.


Quinta-feira, 18 de Dezembro de 1975
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal em entrevista exclusiva ao nosso jornal:
«A nossa revolução é constantemente minada pelos ventos reaccionários que vêm de Espanha; é reconhecido o poder de legítima defesa revolucionária às nações que são ameaçadas, e o nosso povo exige que tomemos medidas com a máxima urgência. É por isso que defendo a imediata intervenção armada de países revolucionários amigos em Espanha, de forma a derrubar o regime fascista e anacrónico de Franco.
«A História de grande sucesso de outras intervenções militares anteriores, que sempre defendi, da Hungria à Checoslováquia, e que se destinaram a esmagar opressões contra-revolucionárias, fala por si».


Segunda-feira, 22 de Dezembro de 1975
Portugal abandona a NATO.
O primeiro-ministro Dr. Álvaro Cunhal vai solicitar o ingresso de Portugal no «Movimento dos Não-Alinhados».


Segunda-feira, 6 de Janeiro de 1976
Intervenção do COPCON na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa:
Detidos no Quartel de Lanceiros da Polícia Militar dezenas de estudantes contra-revolucionários daquela faculdade.


...........


Esta pequena e singela «História de Portugal Alternativa», absolutamente irrealista, eu sei, ocorreu-me quando ouvi as mais diversas declarações sobre a personalidade de Álvaro Cunhal, de gente anónima a políticos de destaque.
E que dele disseram coisas como: «um homem de grandes ideais, patriota, fiel às suas convicções até ao fim»; «uma figura marcante da História política portuguesa, merecedora do nosso respeito»; ou ainda «um homem de ideal e que seguiu sempre esse ideal com grande coerência, honestidade e lealdade».

E ocorreu-me também esta «História» quando vi o seu funeral, transmitido até à exaustão por todas as rádios e televisões, ser acompanhado por largos milhares de pessoas que manifestavam a sua saudade e o desgosto pela sua morte, com efusivos aplausos e palavras de ordem revolucionárias.
E que, assim, saudavam a sua memória.

Eu, sinceramente, não o posso fazer!




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