quarta-feira, 1 de junho de 2005
«Deep Throat»
O «Washington Post» confirmou hoje que W. Mark Felt, um antigo sub-director do F.B.I., é a verdadeira identidade de «Deep Throat», ou «Garganta Funda» (nome inspirado num celebérrimo filme pornográfico da época), a fonte secreta que garantiu a maior parte das informações que no princípio dos anos 70 desencadearam o escândalo «Watergate».
E que em Agosto de 1974 conduziram à resignação do presidente americano Richard Nixon.
A confirmação foi feita por Bob Woodward e Carl Bernstein, os dois jornalistas do «Washington Post» que desencadearam a história, e também pelo seu editor chefe da altura, Benjamim C. Bradlee, após a revista «Vanity Fair» e a família de W. Mark Felt, agora com 91 anos, o terem identificado como a fonte privilegiada que proporcionou aos jornalistas todos os pormenores do escândalo.
Foi W. Mark Felt quem contou a Bob Woodward o arrombamento das instalações de uma sede do Partido Democrata para a colocação de escutas, bem como todas as manobras posteriores de encobrimento deste acto, e ainda todos os pormenores que revelaram o envolvimento da Casa Branca e do próprio Richard Nixon em todo o processo.
A revelação da história pelo «Washington Post» desencadeou uma investigação do Congresso e, perante a ameaça mais que provável de um “impeachment”, Nixon acabou por resignar.
Toda esta história é uma lição extraordinária:
É uma lição de profissionalismo por parte dos jornalistas envolvidos, que souberam honrar a sua palavra e guardar um segredo por mais de três décadas, só o confirmando após a revelação da família e do próprio Mark Felt.
É uma lição de civismo por parte de Mark Felt que, com enorme risco pessoal, colocou os seus valores e toda a honra de uma Nação à frente de quaisquer interesse pessoais e partidários, não compactuando com a desonestidade de uma administração corrompida.
Mas é, principalmente uma lição de democracia, pois nos Estados Unidos, apesar de se tratar de uma notícia que conduziu à demissão de um presidente, nunca passou pela cabeça de ninguém perseguir criminalmente estes jornalistas para os obrigar a revelar as suas fontes.
E se um dos pilares mais importantes de uma Democracia é a Liberdade de Imprensa, e se a confidencialidade das fontes de um jornalista é um dos principais garantes dessa mesma Liberdade, então esta é, de facto, uma extraordinária lição de Democracia.
Com que Portugal ainda tem, sem dúvida, mesmo muito a aprender...