segunda-feira, 9 de maio de 2005
Uma Nova Cruzada
De repente isto tornou-se assustador!
Em Timor-Leste a iniciativa da Igreja Católica local, levada a cabo pelos seus dois bispos, de comandar um bando de insurrectos num desafio à autoridade do Estado e de um Governo democraticamente eleito acaba de produzir resultados.
De facto, para «precaver problemas futuros» o Governo e a hierarquia católica de Timor-Leste acordaram na criação de um grupo de trabalho, onde terão assento representantes do Governo e de responsáveis eclesiásticos, e onde serão tomadas algumas das futuras decisões do país.
Para já, sabe-se que será mantida a disciplina de religião católica como cadeira curricular, e que a prática da prostituição, ainda que voluntária, passará a ser definida como crime.
Do alto da sua magnanimidade os dois bispos acabaram por concordar que a interrupção voluntária da gravidez apenas não será considerada crime quando «for absolutamente necessário evitar a morte da mãe», recusando-se no entanto a aceitá-la mesmo nos casos de violação da mulher ou de malformação do feto.
Finalmente, foi garantida a amnistia dos manifestantes que, decerto em nome de deus, feriram polícias à pedrada e torturaram «suspeitos» nas próprias casas dos bispos e com a complacência destes.
Em Espanha, os mais altos responsáveis católicos persistem em desafiar a autoridade do Estado, apelando à desobediência civil às leis que não se enquadrem nos cânones determinados pelas autoridades de outro Estado - o Vaticano - e que, pelos vistos, os cardeais e bispos espanhóis valorizam mais do que as do seu próprio país.
Dos Estados Unidos chegam sinais preocupantes da crescente influência das mais fundamentalistas e fanáticas seitas cristãs, quer nos governos estaduais quer no próprio governo federal.
De tal forma que se preparam iniciativas legislativas que conduzirão em muito breve prazo ao afastamento definitivo de qualquer conceito de Estado laico, considerado um perigoso «mito socialista».
Em pleno século XXI, aos poucos mas sistematicamente, prepara-se na única super-potência do planeta a instalação de um Estado Teocrático, com a imposição intransigente de valores de inspiração divina, como o ensino obrigatório do «criacionismo».
Com a consequente proibição do ensino da Teoria da Evolução, obviamente considerada herética.
Simultaneamente preparam-se lobbies para a elaboração de leis federais que passarão a considerar a blasfémia, a apostasia e a sodomia como crimes puníveis com a pena de morte.
Mas mais: preparam-se novas definições de actos que passarão a ser considerados bruxaria, que passará igualmente a ser um crime punido com a morte.
Como se não bastasse, e depois de não terem conseguido sucesso o ano passado, esta mesma gente tenta agora uma vez mais limitar as possibilidades de recurso para o Supremo Tribunal, impedindo a apreciação de decisões de tribunais ou autoridades administrativas que tenham sido proferidas de acordo com o «reconhecimento de deus como a soberana origem da lei, da liberdade ou de um governo».
De facto, de repente tudo isto se tornou muito assustador.
Pode até pensar-se que o que se descreveu «é mau demais» e é de tal forma aberrante que pura e simplesmente não poderá vingar e ser efectivamente levado à prática.
Mas, o que é verdade é que por todo o planeta são cada vez maiores os sinais da crescente influência das religiões – todas elas – nos domínios dos Estados e da vida dos cidadãos.
Com a complacência e até a colaboração bem activa de muitos chefes de Estado, como é o caso do presidente americano George W. Bush.
Que haja pessoas que queiram determinar a sua própria vida de acordo com as suas convicções, a sua fé, ou a sua religião – acho muito bem.
Como Voltaire, sou o primeiro a dizer:
«Não concordo com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo".
Mas não é isso que está em causa.
O que se passa é que essa mesma gente, cujos direitos eu não hesitaria em defender, em troca procura sistematicamente privar-me dos meus próprios direitos!
E acha-se detentora de uma qualquer inspiração divina que lhe concede a misteriosa e esotérica obrigação de determinar a minha vida, de me impor as suas convicções e os seus valores éticos e morais, e de me obrigar ao cumprimento de ritos e práticas medievais de uma religião que não perfilho.
E que, por ridícula e risível que me pareça, não procuro proibir.
Trata-se, na verdade, de uma nova cruzada!
Não uma cruzada de exércitos de mercenários e de escravos arrebanhados um pouco por todo o lado, e que invadem os países onde se praticam religiões distintas, violando, pilhando e devastando tudo à sua passagem.
Pelo contrário, esta nova cruzada procura agora insidiosamente minar e destruir, um a um, os mais básicos conceitos do Estado de Direito, até conseguir finalmente a instauração de um Estado teocrático ou "talibã", que pura e simplesmente elimine qualquer oposição que se atreva a surgir.
Não sei se algum dia terá sucesso.
Mas uma coisa é certa: mesmo que não concordem com o que eu digo, defenderei até a morte o MEU direito de dizê-lo!
Simultaneamente preparam-se lobbies para a elaboração de leis federais que passarão a considerar a blasfémia, a apostasia e a sodomia como crimes puníveis com a pena de morte.
Mas mais: preparam-se novas definições de actos que passarão a ser considerados bruxaria, que passará igualmente a ser um crime punido com a morte.
Como se não bastasse, e depois de não terem conseguido sucesso o ano passado, esta mesma gente tenta agora uma vez mais limitar as possibilidades de recurso para o Supremo Tribunal, impedindo a apreciação de decisões de tribunais ou autoridades administrativas que tenham sido proferidas de acordo com o «reconhecimento de deus como a soberana origem da lei, da liberdade ou de um governo».
De facto, de repente tudo isto se tornou muito assustador.
Pode até pensar-se que o que se descreveu «é mau demais» e é de tal forma aberrante que pura e simplesmente não poderá vingar e ser efectivamente levado à prática.
Mas, o que é verdade é que por todo o planeta são cada vez maiores os sinais da crescente influência das religiões – todas elas – nos domínios dos Estados e da vida dos cidadãos.
Com a complacência e até a colaboração bem activa de muitos chefes de Estado, como é o caso do presidente americano George W. Bush.
Que haja pessoas que queiram determinar a sua própria vida de acordo com as suas convicções, a sua fé, ou a sua religião – acho muito bem.
Como Voltaire, sou o primeiro a dizer:
«Não concordo com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo".
Mas não é isso que está em causa.
O que se passa é que essa mesma gente, cujos direitos eu não hesitaria em defender, em troca procura sistematicamente privar-me dos meus próprios direitos!
E acha-se detentora de uma qualquer inspiração divina que lhe concede a misteriosa e esotérica obrigação de determinar a minha vida, de me impor as suas convicções e os seus valores éticos e morais, e de me obrigar ao cumprimento de ritos e práticas medievais de uma religião que não perfilho.
E que, por ridícula e risível que me pareça, não procuro proibir.
Trata-se, na verdade, de uma nova cruzada!
Não uma cruzada de exércitos de mercenários e de escravos arrebanhados um pouco por todo o lado, e que invadem os países onde se praticam religiões distintas, violando, pilhando e devastando tudo à sua passagem.
Pelo contrário, esta nova cruzada procura agora insidiosamente minar e destruir, um a um, os mais básicos conceitos do Estado de Direito, até conseguir finalmente a instauração de um Estado teocrático ou "talibã", que pura e simplesmente elimine qualquer oposição que se atreva a surgir.
Não sei se algum dia terá sucesso.
Mas uma coisa é certa: mesmo que não concordem com o que eu digo, defenderei até a morte o MEU direito de dizê-lo!