terça-feira, 24 de maio de 2005

 

O Triste Legado


Talvez nunca se venha a conhecer verdadeiramente o estado em que os dois Governos de coligação PSD-PP deixaram o país.

Já não falo do estado das contas públicas e da desastrosa situação do défice que aquela gente nos deixou, e que, sabe-se agora, ronda os 7%.
Já não falo da inqualificável política financeira de «faz-de-conta» que nos procurou impingir uma situação de estabilidade e de rigor das contas públicas, conseguida artificialmente à custa de «receitas extraordinárias», e que só contribuiu para afundar o país num descalabro económico que ainda agora vamos começar a pagar.

E que nem ao menos têm a decência e a dignidade de reconhecer!!!

Aquilo que Portugal – e todos nós portugueses – vamos ter de pagar é bem mais grave do que isso:

Prende-se com as verdadeiras consequências do escândalo do «Caso dos Sobreiros» que denunciou a cumplicidade entre o Grupo Espírito Santo e membros do anterior Governo e dos partidos que o suportavam.

É que durante o seu mandato à frente do ministério da Defesa, Paulo Portas decidiu abrir concurso para a substituição da velha espingarda metralhadora G-3 por uma arma mais moderna.
Muito bem.

Ao concurso, orçado em mais de 75 milhões de euros, concorreram 2 empresas: a «Swiss Arms» e a alemã «Heckler & Koch».
Paulo Portas admitiu então estas duas empresas à fase de testes práticos, embora a «Swiss Arms» pareça derrotada à partida, já que a sua proposta é significativamente mais cara.
Desconheço os fundamentos da decisão, que até pode ter sido correctamente tomada.
Mas isso é completamente irrelevante.

Acontece que outras empresas da especialidade, a americana «Colt», a austríaca «Steyr», que já tinham anteriormente questionado a transparência do concurso público, vieram agora, e desta vez conjuntamente, alertar o actual titular da pasta da Defesa, Luís Amado, para as ligações da empresa virtualmente vencedora, a «Heckler & Koch», ao Grupo Espírito Santo.

Em primeiro lugar, alegam que foi a «Escom» a organizar todo o processo de contrapartidas ao Estado português.
Depois, afirmam que até os requisitos técnicos do caderno de encargos pareciam mesmo feitos de encomenda e de propósito, não só para se encaixarem na G-36, a arma da «Heckler & Koch», como também para afastarem liminarmente de qualquer possibilidade de admissão ao concurso as armas da «Colt», e da «Steyr».

Não sei se as empresas afastadas têm razão ou não.
Até é possível que não tenham.
Mas, como disse, não é nada disso que está em causa.

O que está em causa é que unicamente graças a esta espécie de concubinato entre o Grupo Espírito Santo e o Governo anterior, principalmente com os ministros do PP, o que é facto é que duas empresas estrangeiras, de renome internacional, numa atitude que decerto está a correr por esse mundo fora, estão agora a questionar a própria honorabilidade do Estado português!!!

E o pior do que tudo, bem vistas as coisas, é que têm muita razão para o fazer!!!

E então, se virmos bem, será principalmente esse o triste legado que nos deixaram os dois governos anteriores...




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