segunda-feira, 30 de maio de 2005
O Miguel Rolha
Se há político que nos últimos anos tem sabido gerir como ninguém a sua imagem pública e uma insólita reputação de competência técnica e profissional, ele é Miguel Cadilhe.
Há muito que Cadilhe sabe que para dar nas vistas não há nada melhor do que, num primeiro momento, fazer-se associar a um partido político, para logo depois o criticar em ocasiões cuidadosamente estudadas.
Isso, Miguel Cadilhe sabe-o bem, tem uma tripla vantagem:
- Desde logo, e do ponto de vista pessoal, cola-lhe uma reputação de independência intelectual, e de que põe os princípios à frente dos meros interesses político-partidários;
- Depois, fica bem visto no seu próprio partido, que assim pode exibir em público um militante de destaque que é intelectualmente independente e que, quando um dia resolver elogiar o partido, poderá fazê-lo sob essa reputação;
- Finalmente, fica bem visto nos restantes partidos, principalmente se algum deles estiver no Governo, que assim se pode aproveitar politicamente de uma crítica aos oponentes, e que desde logo goza de uma presunção de seriedade e acerto. Pois não vem ela do interior do próprio adversário?
Ganha sempre e sai sempre bem visto perante todos!
Mas o que melhor Cadilhe sabe fazer é, sem dúvida, escolher o momento certo para «atacar».
Por exemplo, lembro-me que em Dezembro passado e, já após a dissolução da Assembleia da República, quando as sondagens indicavam unanimemente uma larga vantagem do PS nas eleições que se aproximavam, Cadilhe veio a público manifestar-se «insatisfeito com o país que tem para apresentar aos investidores» e tecer duras críticas ao Governo cessante.
E, numa altura em que se adivinhava já que o Primeiro-ministro que sairia das eleições de Fevereiro seria José Sócrates, Miguel Cadilhe deu-se mesmo ao luxo de vir elogiar... a co-incineração...
Escassos dois meses depois, Cadilhe não se coibiu de se insinuar a Santana Lopes, fazendo-o cair infantilmente na esparrela de vir a público indicar o seu nome como seu próximo ministro das Finanças, se viesse a ganhar as eleições que toda a gente sabia que iria perder.
Uma vez mais uma fabulosa gestão de Cadilhe da sua imagem política, agora com um compromisso de lealdade partidária que sabia que não ia ter de cumprir, mas que acabou por fazer com que o seu nome fosse novamente sinónimo de «trunfo político».
Há poucas semanas, Miguel Cadilhe declarou numa conferência que a solução para o problema do défice seria o Governo vender... as reservas de ouro.
Claro que Cadilhe bem sabe que nem a venda das reservas de ouro significaria a resolução do défice, nem o Governo iria levar a cabo uma medida tão suicidária quanto inútil.
Mas uma vez mais os seus objectivos foram cumpridos: falou-se dele nos jornais e nos telejornais e novamente como alguém «que não tem papas na língua» (o que é sempre alguma coisa que o grande público aprecia), mesmo que seja só para dizer barbaridades.
Mas a última de Miguel Cadilhe é, de facto, a mais notável:
Num texto que, como seria de esperar, mereceu honras de primeira página do «Expresso», Miguel Cadilhe veio agora «informar» o país que afinal é o próprio Cavaco Silva quem é «o pai do monstro», esquecendo-se de que foi seu ministro das Finanças e acusando-o de ser o responsável pelo actual Sistema Retributivo da Função Pública, que representa hoje 15% do PIB.
Cá temos a táctica do costume, num «timing» que não poderia ser mais apropriado:
- Cavaco lidera todas as sondagens para as eleições presidenciais;
- A esquerda parece não encontrar ninguém que consiga contrariar essa tendência;
- E Cadilhe está a escassos meses de acabar o seu mandato como presidente do Conselho de Administração da A.P.I. (Agência Portuguesa para o Investimento)...
E assim Miguel Cadilhe vem vindo flutuando ao longo dos anos na política portuguesa, vogando calmamente ao sabor dos ventos que vão soprando em cada momento.
E, por incrível que pareça, essa mesma imagem de independência política e de enorme competência técnica tem-no mesmo acompanhado ao longo da sua presidência da A.P.I., por muito insólito, e até absurdo, que achem todos os que com ele lidam de perto.
Mas talvez só enquanto não houver quem finalmente investigue o que a A.P.I. tem, afinal, significado verdadeiramente para o investimento em Portugal, ou enquanto não houver alguém que se disponha a revelar que a maior percentagem da actividade que essa Agência de Investimentos desenvolveu nos últimos anos resulta de investimentos... nela própria...
E assim Miguel Cadilhe vem vindo flutuando ao longo dos anos na política portuguesa, vogando calmamente ao sabor dos ventos que vão soprando em cada momento.
E, por incrível que pareça, essa mesma imagem de independência política e de enorme competência técnica tem-no mesmo acompanhado ao longo da sua presidência da A.P.I., por muito insólito, e até absurdo, que achem todos os que com ele lidam de perto.
Mas talvez só enquanto não houver quem finalmente investigue o que a A.P.I. tem, afinal, significado verdadeiramente para o investimento em Portugal, ou enquanto não houver alguém que se disponha a revelar que a maior percentagem da actividade que essa Agência de Investimentos desenvolveu nos últimos anos resulta de investimentos... nela própria...