segunda-feira, 2 de maio de 2005

 

A Arrogância Bávara



O Luís, o Jorge, o Orlando e o Mané tinham um jeep UMM lindíssimo com que se dedicavam ao seu passatempo favorito: as corridas de todo-o-terreno.

Mas o crescente desgaste do jeep (clicar na imagem para a ampliar), as sucessivas mudanças regulamentares daquele tipo de desporto automóvel, aliados à falta de patrocínios publicitários obrigou-os a reconhecer que aquela brincadeira estava a ficar cara demais.
Tomaram então uma decisão: vender o jeep e todo o equipamento de competição.
Mas desde logo foi combinado entre todos que o dinheiro obtido seria depositado numa conta bancária – que foi aberta em nome do Jorge – e seria utilizado especificamente para a compra de uma moto para cada um.
E assim foi.

Num belo dia da Primavera do ano de 1998 o Luís descobriu uma espectacular moto BMW F-650, à venda num stand da «Baviera», precisamente a concessionária da marca.
Apesar de usada estava em excelente estado e o preço era convidativo: 800 contos.
Sem hesitar, o Luís fechou o negócio.
O Jorge passou o cheque (da parte do Luís da «conta do jeep»), e entregou-o à «Baviera».
No dia combinado a «Baviera» entregou a moto ao Luís e ainda uma «autorização de circulação válida por 30 dias».

Mas, passados os 30 dias da validade da tal «autorização de circulação» o Luís verificou que a «Baviera» não havia meio de por a moto em seu nome ou de lhe dar os respectivos documentos.
Foi ao stand.
E foi então que as coisas começaram a correr mal!

Apesar de há muito ter descontado o cheque e de ter feito seu o dinheiro, a «Baviera» participou ao Luís que se recusava a por a moto em seu nome se o emitente do cheque (o Jorge) não passasse uma declaração a autorizar essa operação.
Repare-se que a «Baviera» não se limitou simplesmente a «pedir» a emissão da estapafúrdia e inútil declaração (o que provavelmente teria merecido uma reacção diferente): exigiu-a arrogantemente numa inesperada chantagem, participando que, das duas uma: «ou vem a declaração ou não há documentos da moto p’ra ninguém».

Mas se as coisas começaram mal, pior continuaram.
Tentou-se marcar reuniões: a «Baviera» não quis reunir;
Escreveram-se cartas: nenhuma resposta foi dada.
Finalmente, quando o Luís pediu para falar pessoalmente com o responsável daquela área da «Baviera», puseram-no ao telefone com um cavalheiro do Porto que, sem sequer o deixar falar, lhe participou secamente:
- Ó meu caro amigo: eu não tenho nada a falar consigo porque aí em Lisboa já lhe explicaram tudo direitinho várias vezes. É simples: ou nos dá a declaração ou não há documentos.
E desligou-lhe abruptamente o telefone na cara!

Como é óbvio, lá foi o caso para tribunal.

Na acção que intentou o Luís pediu (basicamente) que o tribunal condenasse a «Baviera» a reconhecer a sua propriedade sobre a moto e a pagar-lhe uma indemnização que o compensasse da perda da sua utilização e disponibilidade.
O montante da indemnização peticionado correspondia ao «valor económico» da moto, que se fez equivaler ao custo do aluguer de uma moto de características semelhantes: na ocasião cerca de 11 contos por dia.

No decorrer da acção ainda se tentou um acordo.
O Luís propôs o seguinte: a «Baviera» punha a moto em seu nome e pagava as custas do processo. Como «indemnização» simbólica, o Luís pediu somente que lhe emprestassem um BMW Z-3 por um fim de semana.
Mas a «Baviera» não aceitou este acordo.
E repetiu: «ou vem a declaração ou não há documentos da moto p’ra ninguém!».
E o processo prosseguiu.

A acção terminou agora há uns dias, e estão já esgotadas todas as possibilidades de recurso.

A «Baviera» foi condenada a pagar ao Luís uma indemnização que (calculados já os juros contados desde 1998) chega quase, quase, quase aos 7.000 contos...



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