segunda-feira, 18 de abril de 2005

 

Mais do mesmo


Como se se tratasse de uma vulgar corrida de cavalos, andam por esse mundo fora as mais variadas apostas sobre a identidade do novo Papa, sobre a sua nacionalidade e até sobre o dia em que o conclave vai chegar a uma decisão e finalmente fará sair fumo branco da chaminé do Vaticano.

Como é natural, os católicos portugueses agitam-se impacientemente perante a hipótese de o escolhido para se sentar na cadeira de Pedro ser D. José Policarpo, já colocado no «top 10» das bolsas de apostas e tido como possuidor de um fôlego capaz de o fazer ultrapassar os mais temíveis concorrentes nos últimos metros da corrida ao mais alto lugar da Igreja católica.
De facto, D. José Policarpo poderá significar uma solução de compromisso entre os cardeais mais progressistas e os mais conservadores, e ao mesmo tempo entre os cardeais de países do terceiro mundo e dos países tradicionalmente mais influentes na escolha papal.

Vou torcer por D. José Policarpo!
Pois, mesmo que nada de importante signifique para o nosso pais (talvez antes pelo contrário), um Papa português constituiria pelo menos um imenso contributo para a iconoclastia nacional e para o sucesso da indústria nacional de manufactura de moldurinhas debruadas a plástico dourado com a imagem do dito, e que, decerto por arrastamento, traria consigo o relançamento da venda de galos de Barcelos em barro pintado.

Mas D. José Policarpo não está sozinho na corrida: o brasileiro Cláudio Hummes, o argentino Jorge Bergoglio e o austríaco Christoph Schoenborn são indicados como favoritos pela maior parte da imprensa internacional.
Em comum precede-os a fama de serem contra a globalização e os malefícios da modernidade, e ainda o facto de, como João Paulo II, serem radicalmente contra a contracepção, o aborto, o casamento homossexual, ou qualquer forma de alteração do status quo da Igreja, principalmente no que respeita ao celibato do clero ou à ordenação de mulheres.

Destes três, o conclave provavelmente preferiria o cardeal Jorge Bergoglio, que tem a seu favor o facto de ter sido colaborador activo da ditadura militar argentina de Videla, entre os anos de 1976 e 1983. Ainda na passada sexta-feira um célebre advogado de direitos humanos argentino, Marcelo Parrilli, apresentou uma queixa crime contra Jorge Bergoglio, a quem acusa de estar envolvido no rapto de dois padres oposicionistas nos anos da ditadura.

Contudo, o mais bem colocado, e aquele em que eu arriscaria o meu dinheiro se tivesse por costume apostar neste género de corridas, é sem dúvida o inefável Joseph Ratzinger, conhecido pelos seus próprios apaniguados como o «Rottweiler de Deus».
Representando a Igreja alemã, a maior financiadora da vida faustosa e de ócio do exército de habitantes da cidade do Vaticano, e significativamente escolhido pela cúria romana para celebrar a missa do funeral de Karol Wojtila, o inquisidor-mor, este moderno Torquemada da nova Inquisição, agora eufemisticamente chamada «Congregação Para a Doutrina da Fé», tem um clube de fãs e um sítio na Internet que vende t-shirts, autocolantes, canecas e bonés com a sua efígie.
Tem até um Blog que lhe tece as maiores loas e elogios, em aberta campanha eleitoral, e numa louvaminhice e glorificação pessoal, decerto inspirada em Kim Il Sung, e à qual, presumo, o ilustre prelado é completamente alheio...

Mas uma coisa é certa: pela análise dos candidatos mais bem colocados, qualquer que seja o cardeal que venha a ser transmutado em Papa, ele será sempre um fiel continuador das políticas do seu antecessor.
O novo Papa será, uma vez mais, teocraticamente absolutista, profundamente misógino e homofóbico, convictamente retrógrado e teimosamente conservador, fundamentalista e reaccionário.
E, sem dúvida, fará prevalecer os dogmas religiosos sobre as mais básicas noções de humanismo.

Os que o vão eleger velarão para que assim seja!



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