terça-feira, 1 de março de 2005
Mar Adentro
O tema da eutanásia foi novamente relançado com a atribuição do Óscar da Academia para o melhor filme estrangeiro ao filme espanhol «Mar Adentro», do realizador Alejandro Amenábar.
Baseado numa história verídica, o filme relata a vida de Ramon Sanpedro, um tetraplégico que durante 26 anos lutou pelo direito a uma morte digna, mas que logrou conseguir somente com a ajuda de uma amiga e de um complicado esquema que ele próprio engendrou.
Mas se a história relatada no filme me chocou, leio também no «Independent» de hoje uma outra história de uma crueza absolutamente perturbante:
Andrew Wragg, um inglês de 36 anos e antigo militar, assistia há anos à progressiva decadência do seu filho Jacob, de 10 anos de idade, que sofria de uma doença degenerativa que em breve o levaria à morte no meio de grande sofrimento, o «síndroma de Hunter».
Esta doença, de progressão muito rápida, causa surdez, mudez, cegueira e dupla incontinência, até levar à agonia de uma morte por asfixia.
No dia 24 de Julho do ano passado, Andrew Wragg pediu à sua mulher que saísse de casa com o outro filho do casal. Depois, ingeriu uma considerável quantidade de álcool.
De seguida, sufocou o filho até à morte com uma almofada.
Finalmente, lavado em lágrimas, telefonou à mulher e contou-lhe o que tinha acabado de fazer.
Quando chegou a casa, a mulher deparou com o marido deitado na cama a chorar convulsivamente, agarrado ao corpo do filho.
Quando percebeu o acto do marido, somente lhe perguntou:
- Diz-me por favor que não o fizeste sofrer.
- Claro que não o fiz sofrer! - Respondeu.
Andrew Wragg, que está agora a ser julgado, telefonou imediatamente à Polícia a quem confessou prontamente o seu acto. Declarou que não tinha praticado mais do que a «morte piedosa» do filho, pois tinha-o olhado nos olhos e viu que para ele não havia qualquer futuro.
«Não me julguem até conhecerem todos os factos», pediu.
No entanto, a acusação alega que as emoções do pai, por mais compreensíveis que sejam, não podem constituir justificação para o homicídio do filho.
Finalmente, lavado em lágrimas, telefonou à mulher e contou-lhe o que tinha acabado de fazer.
Quando chegou a casa, a mulher deparou com o marido deitado na cama a chorar convulsivamente, agarrado ao corpo do filho.
Quando percebeu o acto do marido, somente lhe perguntou:
- Diz-me por favor que não o fizeste sofrer.
- Claro que não o fiz sofrer! - Respondeu.
Andrew Wragg, que está agora a ser julgado, telefonou imediatamente à Polícia a quem confessou prontamente o seu acto. Declarou que não tinha praticado mais do que a «morte piedosa» do filho, pois tinha-o olhado nos olhos e viu que para ele não havia qualquer futuro.
«Não me julguem até conhecerem todos os factos», pediu.
No entanto, a acusação alega que as emoções do pai, por mais compreensíveis que sejam, não podem constituir justificação para o homicídio do filho.
A eutanásia será sempre um tema polémico e muito delicado.
Haverá sempre diferentes justificações para a defesa das posições de quem a defende e de quem a afasta liminarmente, enquanto houver também diferentes interpretações para o que se deve considerar como o início e o fim da vida.
E até para o significado da própria vida.
Não a mera vida celular ou vegetativa, mas a vida com uma perspectiva de racionalidade, de consciência, de humanidade.
Terminará a vida com a morte cerebral? Terminará antes? E quando ocorre a morte cerebral?
E quem tem o direito de definir a oportunidade da morte de outro ser humano?
E terá alguém o direito de decidir a sua própria morte?
Teremos o direito de conferir dignidade à nossa própria morte?
Quando estão em discussão conceitos de ordem ética, nunca haverá consenso.
Mas, para mim, uma coisa é certa:
em casos limite, mais do que um acto de coragem, mais até do que um acto de humanidade ou de um imperativo de consciência, a eutanásia pode muito bem ser, antes de tudo... um acto de amor!