sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

 

O Porco Judeu


No últimos anos tem-se assistido em todo o mundo Ocidental a um preocupante aumento do número de ataques racistas e anti-semitas, agora com especial incidência na Inglaterra e em França.
É curioso como parece que quanto maior e mais exacerbado é o fervor religioso de uma pessoa, mais fanática e intolerante ela é perante quem se lhe apresenta de modo diferente. Seja por ser judeu, negro, homossexual, comunista, ou qualquer outra coisa que pareça sair fora dos cânones.

Esta intolerância é para mim ainda mais chocante quando leio que na nossa civilizada Europa – 60 anos depois da libertação de Auschwitz – é cada vez mais frequente o ataque a crianças que vão a caminho da escola, e que são barbaramente espancadas pelo simples facto de serem judias.
Desde um adolescente a quem fracturaram o maxilar em três sítios, à criança de 12 anos que durante uma hora e meia teve de ser suturada pelos médicos aos profundos golpes que lhe fizeram na cara.
Ou como é o caso do adolescente nos Estados Unidos que foi amarrado e espancado até à morte por colegas, logo que estes descobriram que ele era homossexual.

Lembro-me da brilhante campanha contra o anti-semitismo que aqui há uns meses foi desenvolvida em França e que visava chocar as consciências e alertar para a incongruência que é o facto de a maior intolerância anti-semita ter origem precisamente nos mais conscientes e fiéis cristãos.
Foram exibidos cartazes com as figuras de Jesus e de Maria, onde estavam sobrepostas as inscrições “Sale Juif” e “Sale Juive” (Sujo Judeu e Suja Judia ou, numa tradução mais vulgar e corrente, “Porco Judeu” e “Porca Judia”).

E não há dúvida que chocou!

Mas não é mesmo curioso, como a profunda raiva, o autêntico ódio de morte que assistimos ser destilado perante os judeus ou até perante os homossexuais (e dos direitos de igualdade que se lhes reclamam), parecem precisamente provir de quem aparentemente perfilharia uma filosofia de tolerância, e de quem se arroga viver sob o lema «ama o teu próximo como a ti mesmo»?

Não é irónico que a maior intolerância provenha precisamente de quem se arroga campeão da tolerância?
Como se existisse até uma espécie “maldição”, ou uma infernal relação directa de causa e efeito: quanto mais cristão, mais intolerante...
E não é perfeitamente estúpido que o mais acérrimo anti-semitismo provenha de quem proclama como seu Deus precisamente... o maior de todos os judeus?

O que é facto é que toda a espécie de intolerância, seja racista, xenófoba, religiosa, homofóbica ou qualquer outra, tem de ser imediatamente encarada de frente!
Não somente porque a intolerância é estúpida, ilógica, injusta ou incongruente.
Mas, como também diziam os cartazes, principalmente por isto:
E se ela fosse um assunto de todos nós?



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