quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

 

A Confissão


Carlos Silvino, o principal arguido do processo de pedofilia da Casa Pia, começou hoje a prestar declarações no julgamento que está a decorrer no Tribunal de Monsanto.
Bibi confessou-se culpado de todos os 669 crimes de abuso sexual de menores de que é acusado, e declarou que todos os restantes seis arguidos são igualmente culpados dos factos constantes da acusação.
Questionado pela juíza, declarou: «Tanto comigo como com os restantes arguidos os factos ocorreram: eu levei os rapazes para certas casas. Tenho as datas e os dados dos locais onde eles iam para fazer filmes e festas e forrobodós e sexo à mistura».
Carlos Silvino declarou-se «completamente arrependido» dos seus actos. Disse que os praticou somente porque, durante a sua infância na Casa Pia, foi violado consecutivamente entre os quatro anos e meio e os 13 anos de idade por dois professores, dois educadores, cinco alunos mais velhos e um padre. Disse ainda que as violações na Casa Pia já vêm de há muitos anos, pois os miúdos mais novos eram normalmente violados em qualquer colégio da Casa Pia.

A táctica da defesa de Carlos Silvino é muito simples:
Bibi está ciente de que a sua condenação é inevitável. Por isso, depois de todos os truques e malabarismos processuais durante o Inquérito e a Instrução, utiliza agora todos os fundamentos que constam dos manuais e que possam constituir para si atenuantes: a colaboração com a justiça, o arrependimento, a disponibilidade para a satisfação das vítimas (ainda que meramente moral) e um determinado enquadramento “justificativo” dos actos que praticou.
Só lhe falta alegar, e provar, que está perfeitamente inserido na sociedade e enquadrado no meio social em que vive...

Mas pode muito bem acontecer a Carlos Silvino que o tiro lhe saia pela culatra:
Em primeiro lugar porque, para já, Bibi está convencido (e este raciocínio é perfeitamente comum) que os juizes têm um certo e determinado número de anos de cadeia para “distribuir” pelos arguidos e que, por isso, quantos mais anos apanharem os outros, menos sobrarão para si próprio.
Frequentemente é o inverso que acontece, já que a persistência e concertação criminosas somente avolumam o juízo de censurabilidade dos factos da acusação.
Em segundo lugar, é inequívoca a inverosimilhança das acusações que faz aos restantes arguidos. Tanto mais que, no início, começou por excluí-los completamente do processo, como são os casos de Manuel Abrantes ou Carlos Cruz. Por isso, o Tribunal poderá considerar que, ao contrário de colaborar com a Justiça, Bibi está somente a deitar-lhe poeira para os olhos.
Tanto mais que, e em terceiro lugar, Bibi não explicou ainda porque motivo é que do seu profundo conhecimento de tantos casos de pedofilia, que lhe vêm de há anos e anos e já desde criança, e sabendo-se que existem mais de duas centenas de vítimas comprovadas, afinal somente identifica precisamente... quem já é arguido no processo. Quando seria de esperar que das suas declarações ocorresse o “terramoto” anunciado por Catalina Pestana.

Mas, na prática, o julgamento ainda só teve 20 minutos.
O que permite ainda ao advogado de Carlos Silvino dizer que até agora tudo “correu bem” e ao advogado das vítima manifestar-se “encantado”.
- Como será no final?



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