terça-feira, 2 de novembro de 2004

 

Lusitanas idiossincrasias – I

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Dou hoje início no «Random Precision» a um espaço de inegável serviço e interesse público que, não desdenhando por isso eventuais subsídios estatais, analisará e procurará dar conta de algumas minudências e pequenas particularidades do povo lusitano.

Para começo desta rubrica, não podia deixar de falar nesse interessantíssimo costume que há alguns anos se arreigou profundamente nos portugueses, que agora procedem à publicitação da venda dos seus automóveis com pequenos cartazes dizendo: “trata”, “procuro novo dono”, “já inspeccionado” e outras imaginativas invenções desse género. Às vezes simplesmente um número de telemóvel.
Este costume tem origem na engraçada e errónea convicção dos portugueses de que “é proibido” propagandear a venda do seu próprio automóvel.

É aqui que entra o eterno “chico-espertismo” português:
profundamente persuadido dessa proibição, o lusitano herdeiro de Viriato e D. Afonso Henriques não hesita, contudo, em desafiá-la, pura e simplesmente violando uma lei com a qual não concorda.
Porque, como toda a gente sabe, a discordância com a razoabilidade de uma lei é fundamento inequívoco para a sua violação. Essas estúpidas leis da limitação de velocidade nas estradas ou a da porcaria da taxa de alcoolemia são exemplos mais do que esclarecedores.

Depois, e imaginando-se já perante um confronto com um qualquer fiscal governamental encarregue do “pelouro das publicitações clandestinas de vendas de automóveis”, e uma vez que inteligentemente não foi colocado um papel a dizer simplesmente “vende-se”, que faz o lusitano?
Como é mais inteligente que a besta do fiscal, e por isso colocou um papel que acaba por significar a mesma coisa mas que, de facto - e se virmos bem - afinal não diz “vende-se”, já se imagina a declarar sobranceira e vitoriosamente ao fiscal:
- Ouça lá: mas quem disse que eu estava a vender o carro? Só lá está escrito “procuro novo dono”!

Argumento absolutamente infalível que, sem dúvida, deixará o estúpido fiscal de boca aberta, imaginado-se já o consciencioso cidadão a vê-lo afastar-se com o rabo entre as pernas.
Absolutamente brilhante, não é?

Palavras para quê?
É um artista português!



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