segunda-feira, 1 de novembro de 2004

 

A Coerência

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A actual direcção do P.C.P. quer manter o método de “braço no ar” na escolha dos órgãos executivos do Comité Central, onde estatutariamente reside o verdadeiro poder do partido.
Em clara atitude de desafio e frontal desobediência à “Lei dos Partidos” que impõe a eleição dos órgãos partidários por voto secreto.
Eles lá saberão porquê...
Depois de mil e um contactos e movimentações que preparam a composição do Comité Central e a sucessão de Carlos Carvalhas na liderança do P.C.P., falta agora consultar Álvaro Cunhal, sem o que tradicionalmente não são tomadas quaisquer decisões de relevo no partido.
Apesar dos seus vetustos oitenta anos, Álvaro Cunhal continua a ser imprescindível na marcação dos destinos do P.C.P. e os seus camaradas de partido não passam nunca sem a orientação e o conselho da sua perspicácia, da sua inteligência, da sua enorme experiência política e, muito principalmente, da sua coerência.
De facto, tenho ouvido, quer dos seus pares, quer mesmo até dos seus mais acérrimos opositores políticos, referências – sempre altamente elogiosas – àquela que será a mais notável e relevante característica de Álvaro Cunhal e a que mais tem marcado a sua luta e o seu longo trajecto político: a sua coerência.
Que Álvaro Cunhal seja digno da maior admiração pelo sacrifício de uma vida pela defesa de um ideal que elegeu como seu, isso para mim não sofre contestação.
Que Cunhal seja coerente, isso é também um facto.
Mas não me parece já que essa coerência mereça elogio ou admiração quando ela provavelmente significaria que Álvaro Cunhal, pelas minhas convicções distintas das suas, espetaria comigo no “Campo Pequeno”, na Sibéria ou num “Gulag” qualquer, tanto em 1958, como em 1975 como... também agora!

Coerência?
Não. Coerência não é isto.
Isto é outra coisa!



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