domingo, 25 de fevereiro de 2007
Violência em nome de Deus
«Terror in the mind of God: The global rise of religious violence
Como escrevi diversas vezes no Diário Ateísta, considero que o fundamentalismo religioso é um epifenómeno de crises económico-sociais.
Epifenómeno que tende a agudizar-se em países sem estruturas sociais sólidas, nomeadamente sem estruturas de segurança social e de assistência médica.
De facto, as religiões do Livro evangélicas, cristianismo e islamismo, apresentam em comum o facto de que o respectivo proselitismo é disfarçado de caridade, caridade prosélita que será tanto mais efectiva quanto menos social for o Estado no país em causa.
De facto, as religiões do Livro evangélicas, cristianismo e islamismo, apresentam em comum o facto de que o respectivo proselitismo é disfarçado de caridade, caridade prosélita que será tanto mais efectiva quanto menos social for o Estado no país em causa.
Por isso, para ambas as religiões aumenta o número de crentes e o número de fanáticos no Terceiro Mundo e na América de Bush - empenhado em destruir a segurança social não ligada à fé - e diminui drasticamente o número de crentes na Europa, especialmente no norte da Europa.
Não é por isso de espantar que a primeira encíclica de Bento XVI advogasse exactamente o fim do estado social de forma a angariar mais clientes para o catolicismo numa Europa cada vez menos religiosa – e concomitantemente aumentar o número e a aceitação social de fanáticos católicos. Isto é, o ex-inquisidor mor advoga uma nova «ordem» social em que a Igreja, financiada com dinheiro estatal, se substituíria ao Estado na segurança social e espalharia a fé, a discriminação e a violência com o dinheiro de todos.
De facto, apenas a laicidade inerente ao nosso modelo democrático impede que o fanatismo/fundamentalismo cristão se exprima da mesma forma que o equivalente islâmico.
Não é por isso de espantar que a primeira encíclica de Bento XVI advogasse exactamente o fim do estado social de forma a angariar mais clientes para o catolicismo numa Europa cada vez menos religiosa – e concomitantemente aumentar o número e a aceitação social de fanáticos católicos. Isto é, o ex-inquisidor mor advoga uma nova «ordem» social em que a Igreja, financiada com dinheiro estatal, se substituíria ao Estado na segurança social e espalharia a fé, a discriminação e a violência com o dinheiro de todos.
De facto, apenas a laicidade inerente ao nosso modelo democrático impede que o fanatismo/fundamentalismo cristão se exprima da mesma forma que o equivalente islâmico.
Sem as rédeas da laicidade (que os fanáticos carpem ser radical) ninguém tenha dúvidas que ambos seriam formalmente iguais!
Basta pensar nas pretensões dos fanáticos cristãos americanos, da imposição de um direito baseado na «lei» bíblica, que prevê penas de morte para adultério, «sodomia», apostasia, heresia, aborto e demais «pecados», para confirmarmos que não existe qualquer diferença entre ambos os fundamentalismos, as suas manifestações apenas são diferentes porque se inserem em países com modelos políticos diferentes e a laicidade reprime as demências e as orgias violentas de fé a que temos assistido por parte dos fundamentalistas islâmicos!
A razão pela qual o Islão se mostra resistente à modernidade, isto é, à tendência geral de secularização, só pode ser entendida à luz do pós-colonialismo e da emergência do nacionalismo árabe, uma reacção à aculturação colonianista. Em que a falência da política na resolução dos graves problemas sociais propiciou um modelo de sociedade assente numa utopia – na realidade um «entre» bhabhiano (de Homi Bhabha), isto é, uma tentativa de recuperação de uma cultura desaparecida há séculos e como tal construída no imaginário - baseada no Islão político. De que a Palestina e o Hamas são apenas um exemplo...
Que há uma relação inquívoca entre religião e violência pode ser apreciado no número de Março da revista «Psychological Science», uma das melhores revistas de psicologia a nível mundial.
Basta pensar nas pretensões dos fanáticos cristãos americanos, da imposição de um direito baseado na «lei» bíblica, que prevê penas de morte para adultério, «sodomia», apostasia, heresia, aborto e demais «pecados», para confirmarmos que não existe qualquer diferença entre ambos os fundamentalismos, as suas manifestações apenas são diferentes porque se inserem em países com modelos políticos diferentes e a laicidade reprime as demências e as orgias violentas de fé a que temos assistido por parte dos fundamentalistas islâmicos!
A razão pela qual o Islão se mostra resistente à modernidade, isto é, à tendência geral de secularização, só pode ser entendida à luz do pós-colonialismo e da emergência do nacionalismo árabe, uma reacção à aculturação colonianista. Em que a falência da política na resolução dos graves problemas sociais propiciou um modelo de sociedade assente numa utopia – na realidade um «entre» bhabhiano (de Homi Bhabha), isto é, uma tentativa de recuperação de uma cultura desaparecida há séculos e como tal construída no imaginário - baseada no Islão político. De que a Palestina e o Hamas são apenas um exemplo...
Que há uma relação inquívoca entre religião e violência pode ser apreciado no número de Março da revista «Psychological Science», uma das melhores revistas de psicologia a nível mundial.
Num artigo deveras interessante, disponibilizado online (documento em formato pdf), intitulado «When God Sanctions Killing: Effect of Scriptural Violence on Aggression» de que recomendo a leitura.
As conclusões do estudo indicam que após a leitura de textos identificados como biblícos, os crentes agem mais violentamente que os descrentes especialmente se a passagem indicar que Deus sanciona a violência. E os livros sagrados são repositórios de violência ordenada por Deus, especialmente em relação aos «infiéis», aos que não pertencem.
Assim, é natural que o recrudescimento anacrónico do fundamentalismo, a par de uma guerra à laicidade e à ciência, seja acompanhado de um aumento da violência em nome de Deus. Há sempre um texto «sagrado» que justifica a violência contra os «outros».
E esse recrudescimento é igualmente acompanhado de ululações de perseguição e vitimização, indispensáveis para angariar clientela e inflamar ainda mais os fundamentalistas. Um inimigo a demonizar é ingrediente indispensável ao combustível para a violência religiosa, pelo que é necessário inventar perseguições - pelos infiéis de outras fés ou pelos tais laicistas radicais - e glorificar os «mártires» que se «sacrificam» em nome de uma qualquer «causa».
Na Europa os fundamentalistas católicos agitam ambas as bandeiras, os dois inimigos: a ameaça islâmica e a «guerra» contra o catolicismo movida pelos laicistas «fundamentalistas», que não deixam a Igreja ditar como vivemos.
Assim, é natural que o recrudescimento anacrónico do fundamentalismo, a par de uma guerra à laicidade e à ciência, seja acompanhado de um aumento da violência em nome de Deus. Há sempre um texto «sagrado» que justifica a violência contra os «outros».
E esse recrudescimento é igualmente acompanhado de ululações de perseguição e vitimização, indispensáveis para angariar clientela e inflamar ainda mais os fundamentalistas. Um inimigo a demonizar é ingrediente indispensável ao combustível para a violência religiosa, pelo que é necessário inventar perseguições - pelos infiéis de outras fés ou pelos tais laicistas radicais - e glorificar os «mártires» que se «sacrificam» em nome de uma qualquer «causa».
Na Europa os fundamentalistas católicos agitam ambas as bandeiras, os dois inimigos: a ameaça islâmica e a «guerra» contra o catolicismo movida pelos laicistas «fundamentalistas», que não deixam a Igreja ditar como vivemos.
É necessário desmontar as urdiduras da Igreja de que se prevê a escalada cá no burgo depois da derrota estrondosa no referendo. A leitura dos jornais deste fim-de-semana já o indica...».
- Um artigo de Palmira F. da Silva