segunda-feira, 6 de junho de 2005

 

A Previsão


O Sr. João Cardoso devia ao meu cliente quase 18.000 contos.

Escrevi-lhe uma carta, que não obteve resposta.
Como a dívida era titulada por uma letra, resolvi telefonar-lhe. Talvez um acordo evitasse os custos e a demora da acção judicial, e até o arresto da sua casa que eu já tinha preparado (e cuja construção estava até na origem da dívida).

Atendeu-me a sua secretária que, depois de me inquirir sobre o assunto que me levava a telefonar, me disse que «o Sr. Dr. estava em consulta» e, que se não fosse muito incómodo telefonasse daí a uns vinte minutos.
Quando voltei a telefonar, a secretária reconheceu-me logo a voz e disse-me prontamente:
- Vou passar ao Sr. Dr.!

Mas o Sr. Dr. não queria mesmo era pagar; nem sequer queria ouvir falar de acordos.
Nem quando lhe mencionei a letra, a acção executiva, a penhora da casa, ou mesmo quando lhe propus que, se pagasse imediatamente, lhe perdoaria os juros que chegavam já perto dos 2.000 contos.
Não negava a existência da dívida; não queria era pagar, que tinha «outros compromissos mais urgentes».

Não havia nada a fazer.
Finalmente perguntei-lhe o mais diplomaticamente que consegui:
- O senhor desculpe: a sua secretária disse-me há pouco que estava em consulta. O senhor é médico ou... advogado?
- Não – respondeu-me logo todo ufano – sou astrólogo.

Eu bem sabia que ele não ia achar piada nenhuma e que provavelmente não ia gostar nada.
Como de facto não gostou.
Mas, mesmo assim, confesso que foi mais forte do que eu, e disse-lhe:

- Então deixe-me que lhe diga uma coisa, meu caro senhor: prevejo-lhe um futuro muito negro!



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