sexta-feira, 30 de maio de 2008

 

Associação Ateísta Portuguesa: «Manifesto Ateísta»



«Manifesto Ateísta»


Na sequência da legalização da «Associação Ateísta Portuguesa», os outorgantes da respectiva escritura saúdam todos os livres-pensadores: ateus, agnósticos e cépticos, que dispensam qualquer deus para viverem e promoverem os valores da liberdade, do humanismo, da tolerância, da solidariedade e da paz.

Os ateus e ateias que integram a «Associação Ateísta Portuguesa», ou a vierem a integrar, aceitam os princípios enunciados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e respeitam a Constituição da República Portuguesa.

O objectivo da «Associação Ateísta Portuguesa» é mostrar o mérito do ateísmo enquanto premissa de uma filosofia ética e enquanto mundividência válida. Porque o ser humano é capaz de uma existência ética plena sem especular acerca do sobrenatural, e porque todas as evidências indicam que nenhum deus é real.

A «Associação Ateísta Portuguesa» defende também os interesses comuns a todos os que escolhem viver sem religião, defendendo o direito a essa escolha e a laicidade do Estado, e combatendo a discriminação e os preconceitos pessoais e sociais que possam desencorajar quem quiser libertar-se da religião que a sua tradição lhe impôs.

A criação da «Associação Ateísta Portuguesa» coincide com uma generalizada ofensiva clerical a que Portugal não ficou imune.
Apesar de o ateísmo não se definir pela mera oposição à religião e ao dogmatismo, em nome da liberdade, da igualdade e da defesa dos direitos individuais a «Associação Ateísta Portuguesa» denuncia o proselitismo agressivo e a chantagem clerical sobre as sociedades democráticas. O direito de não ter religião, ou de ser contra, é igual ao direito inalienável de crer, deixar de crer ou mudar de crença, sem medos, perseguições ou constrangimentos.

O ateísmo é uma opção filosófica de quem se assume responsável pelos seus actos e pela sua forma de viver, de quem dá valor à sua vida e à dos outros, de quem cultiva a razão e confia no método científico para construir modelos da realidade, e de quem não remete as questões do bem e do mal para seres hipotéticos nem para a esperança de uma existência após a morte.

A «Associação Ateísta Portuguesa» representa todos os que optem por esta forma de viver e defende a sua liberdade de o fazer.


Lisboa, 30 de Maio de 2008


quinta-feira, 29 de maio de 2008

 

«Associação Ateísta Portuguesa»


Escritura de constituição da

«Associação Ateísta Portuguesa»


Amanhã, dia 30 de Maio de 2008 pelas 12,00 Horas, terá lugar no Cartório Notarial da Exmª. Senhora Notária Drª. Sofia Henriques (sito na Avenida da República, n.º 6 – 1º andar Dt.º em 1050 - 191 Lisboa), a escritura de constituição da «Associação Ateísta Portuguesa».


A «Associação Ateísta Portuguesa» propõe-se e constituem seus objectivos:


1. Fazer conhecer o ateísmo como mundividência ética, filosófica e socialmente válida;
2. A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
3. A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
4. A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
5. Responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.

Os Estatutos da «Associação Ateísta Portuguesa» podem ser encontrados - AQUI

Mais pormenores poderão ser encontrados nos Blogs:
- «Random Precision» (http://www.rprecision.blogspot.com/)
- «Diário Ateísta» (http://www.ateismo.net/)

29 de Maio de 2008
A Comissão de Constituição


quarta-feira, 28 de maio de 2008

 

'till the end of love…







terça-feira, 27 de maio de 2008

 

A Tristeza de Uma Crença



Às vezes até custa a acreditar que é possível haver quem escreva num jornal baboseiras tão monumentais.
É o caso da crónica bolsada pelo abominável César das Neves no «Diário de Notícias» de ontem, com o curioso e freudiano título de «A Fragilidade de uma Crença».

Tal é a proporção de calinadas por palavra quadrada, que quase seria preciso um tratado sobre a patologia da alucinação da fé para comentar devidamente o que escreve este servo de Deus. O melhor mesmo é ler em silêncio este evangelho segundo o Beato das Neves para depois termos simplesmente pena, muita pena mesmo, desta pobre criatura.

Mas é irresistível não comentar duas ou três pequenas coisitas, até por que se referem a temas que recorrentemente aparecem ditos pelos «junkies da fé» como se tivessem descoberto a pólvora, já incapazes de distinguir a realidade da ficção, tal a overdose de hóstias que ingerem.

Depois de fechar reverentemente o seu cilício, o Beato das Neves abre as hostilidades comentando «a fragilidade intelectual da própria atitude ateísta que, com todo o respeito, é muito inconsistente».
Mas, na verdade, e com todo o respeito, o cronista é tolo!

E que fique bem claro que «tolo» não é mais do que um educado eufemismo que nem sequer merecia um sujeito que toma como filosofia de vida a crença em três deuses que afinal são um só, e que lhe exigem, todos três, reverências constantes, que passaram a História a dizimar populações, que acreditam em arbustos falantes, em paus que se transformam em cobras, em homens que nascem de virgens, em reencarnações, em mares que se abrem para passar «o povo escolhido» que até é doutra religião e tudo, e que pensa que ser monoteísta é ter três Deuses – mas que tem a lata de afirmar que quem acha tudo isto nada mais do que uma ridícula mitologia primitiva afinal é quem tem… «uma atitude intelectual inconsistente».

Mas este «consistente intelectual» não fica por aqui: ainda se dá ao luxo de analisar teologicamente o ateísmo e o resultado, como não podia deixar de ser é… tolo!
Diz esta santa alma que «recusar Deus é uma crença como as outras» e que «no fundo trata-se de ter fé na ausência divina».

Não sei de que insegurança patológica sofrem os «fiéis», de que nova espécie de «inveja» intelectual padecem para quererem chamar a si a necessidade de «acusar» o ateísmo de ser «uma crença como as outras» e de se tratar de «uma fé na ausência divina».

Não que isso interesse muito ou que constitua sequer matéria de preocupação.
Mas o que é facto é que só uma pessoa que baseia a sua vida de adulto na crença de que o seu Deus veio à Terra mandado por si mesmo, depois de ter engravidado a própria mãe, que afinal é ainda virgem, mas que subiu aos Céus em corpo e alma e aparece de vez em quando em cima das árvores a transmitir baboseiras a pastores atrasados mentais, é que era capaz de dizer estas baboseiras sem sequer se rir.

Se esta espécie de gente quer apodar o ateísmo de «uma fé na ausência divina», que o faça, que isso nem sequer me chateia. Até tem uma certa graça, admito.
Terá é de reconhecer em si próprio a mesma «fé na ausência divina» de Zeus, Afrodite, Júpiter, Vénus, Odin, Thor, Baal, Osíris, Shiva, Oxum… e até da Fada dos Dentes.

Embora, confesso, não esteja muito seguro de que o Beato das Neves não tenha muita «fé na ausência divina» da Fada dos Dentes…

Mas o melhor ainda estava para vir!
Quando já nada o fazia supor, eis que vemos um teólogo a filosofar! Claro está que o resultado não podia ser diferente do que quando um sapateiro se põe a tocar rabecão.

Não querem lá ver que este sujeito, que tem como hobby juntar-se em rebanho com outras ovelhas para mendigar de joelhos que o seu Deus modifique as leis da física só para lhe fazer a vontade, resolveu pôr-se a considerar que para os ateus «este universo, sem origem nem orientação, não tem propósito»?

Mas será que o incenso dá assim pedradas destas? Mas a A.S.A.E. não vê isto?

Mas por que raio é que alguém que fala tão poeticamente numa crónica no sorriso da sua filha, mas que afinal ama a Deus sobre todas as coisas, mesmo até sobre esse sorriso, pensa que para um ateu o Universo não tem origem, nem orientação, nem propósito?

Mas este indivíduo que não olha para trás com medo que o seu Deus o transforme numa estátua de sal, só porque o ama muito, como é bom de ver, não tem discernimento suficiente para ler aquilo que ele próprio escreve?
Nem vê ele que recorrer ao conceito de Deus, como um refúgio irracional para quem não consegue ir mais longe do que isso, e ainda por cima, admiti-lo assim abertamente em público só lhe fica mal?

Mas o pior estava para vir: já a terminar o seu textículo, este pateta de sacristia ainda teve tempo para dizer que «se Deus não existe, não existem o bem, a moral e a própria razão».
Só que dizer isto já não é uma simples cretinice. É simplesmente uma coisa triste.
Já nem mesmo é preciso qualificar quem diz que «sem Deus não existe a própria razão». Isto é só mais uma cretinice, e pronto.

Mas quando uma pessoa admite que os critérios de «bem» e de «moral» que adopta como filosofia de vida não são por si aceites como valores intrínsecos e pelo que valem ética, racionalmente e por si próprios, que não são adoptados como «seus» pelo que significam objectivamente, mas que, ao invés, precisa de um Deus que lhos ensine e lhos transmita, precisa que tais valores lhe advenham de um ser mitológico inventado na Idade do Bronze que discrimina, odeia e mata quem não o reverencia da forma adequada, então isso é de facto muito triste.
Muito triste mesmo...


domingo, 25 de maio de 2008

 

«O Casamento Entre Pessoas do Mesmo Sexo»


É este o título do livro da autoria de Carlos Pamplona Côrte-Real, Isabel Moreira e Luís Duarte d’Almeida onde se encontram coligidos os seus pareceres sobre a inconstitucionalidade das normas do Código Civil que impedem o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

«As normas expressas pelos artigos 1577.º e 1628.º, alínea e), do Código Civil - que vedam o acesso ao casamento a pessoas que não sejam de -"sexo diferente" - são inconstitucionais.
«Assentam em juízos acerca de uma pretensa inferioridade "moral" das relações afectivas homossexuais e em preconceitos sobre a qualidade das famílias constituídas por duas pessoas do mesmo sexo.
«A consequente discriminação é atentatória dos princípios constitucionais de dignidade da pessoa humana e de igualdade, e do direito fundamental a contrair casamento - também na sua dimensão de direito de uma pessoa a escolher com quem casar».

Segundo a apresentação do livro que encontramos no site da «Almedina» e que é feita pelos próprios autores,

«Coligem-se neste volume três dos vários pareceres dados no processo de recurso n.° 779/07, que em Outubro de 2007 deu entrada no Tribunal Constitucional, e que é patrocinado pelo Ilm.º Advogado Dr. Luís Grave Rodrigues.
«Os pareceres foram dados pro bono publico, e pela mesma razão se divulgam agora: aquele processo — bem como, em geral, o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo — vem suscitando discussões que ultrapassam o círculo dos debates académicos, mas em que as ideias dos juristas são objecto de atenção particular; e apesar de estarem já disponíveis opiniões contrárias, não havia ainda na literatura jurídica nacional quaisquer estudos publicados no sentido da inconstitucionalidade dos artigos 1577.° e 1628.°, alínea e), do Código Civil».


sexta-feira, 23 de maio de 2008

 

Teach your parents well…


…Their children’s hell
Will slowly go by.

And feed them on your dreams
The one they fix
The one you’ll know by.

Don’t you ever ask them why
If they told you, you would cry
So just look at them and sigh

And know they love you.




quinta-feira, 22 de maio de 2008

 

I've seen things you people wouldn't believe…




terça-feira, 20 de maio de 2008

 

Os Desígnios do Todo-Poderoso









Richard Perry Loving (29/10/1933 – 29/6/1975)

Mildred Delores Jeter Loving (22/6/1939 – 2/5/2008)


Os nomes de Richard e Mildred Loving ficarão para sempre ligados à luta pela igualdade racial nos Estados Unidos, e que culminou com a decisão proferida já em 1967 pelo Supremo Tribunal de Justiça daquele país que declarou a inconstitucionalidade das leis então ainda vigentes em 20 Estados da União, que não só proibiam mas até criminalizavam os casamentos entre pessoas de raças diferentes.

Segundo o obituário feito por José Cutileiro no «Expresso» desta semana (e de onde retirei parte dos elementos para este post) Richard Loving era filho e neto de brancos enquanto Mildred era «classificada» como preta no Estado da Virgínia, onde viviam. Foram amigos de infância, apaixonaram-se e pretenderam casar-se.
Foram até à cidade de Washington, onde os casamentos inter-raciais não eram proibidos e voltaram a sua casa já casados, e penduraram na parede do seu quarto a certidão do casamento devidamente emoldurada.

Mas no dia 11 de Julho de 1958 a polícia arrombou-lhes a porta da casa onde viviam.
Irrompeu de súbito a meio da noite no próprio quarto onde dormiam e prendeu-os sob a acusação de violarem a lei de integridade racial do Estado da Virgínia.
Foram julgados e condenados a um ano de prisão ou, em alternativa, a ficarem proibidos de voltar a residir naquele Estado por 25 anos e perpetuamente impedidos de ali regressarem os dois juntos.

A sentença proferida ficará para sempre nos anais da História da Humanidade como um dos mais abjectos exemplos de discriminação entre os seres humanos.
E, como tantas vezes acontece quando à sua frente estão pessoas completamente destituídas dos mais básicos sentimentos de ética, são até os próprios Tribunais os primeiros a pactuarem e a acolherem como aberrante sinónimo de Justiça os mais chocantes abusos dos Direitos Humanos e os mais retrógrados sentimentos de intolerância que se conhecem e se podem conceber.

A justificação dada pelo Tribunal que condenou Richard e Mildred Loving não podia ser mais clara e mais reveladora de onde provieram estes imbecis sentimentos de intolerância e ódio racial que indiscutivelmente a motivaram e obviamente fundamentaram.

De facto, a sentença condenou-os pelo «crime contra a lei de anti-miscigenação do Estado e pelos crimes contra a paz e a dignidade da comunidade» pelo facto de «estarem a coabitar como se fossem marido e mulher».

E a justificação da sentença não podia ser mais esclarecedora:

«Deus todo-poderoso criou as raças branca, preta, amarela, malaia, e vermelha e pô-las em continentes separados.
«E, se não houvesse interferência com este Seu arranjo, não surgiriam casamentos assim.
«O facto de Ele ter separado as raças mostra que não tinha intenção de as misturar».

Para evitarem ser presos, Richard e Mildred Loving abandonaram então o Estado da Virgínia.
Já em 1963 o casal escreveu a Robert Kennedy, na ocasião ministro da justiça, que os pôs em contacto com a Associação Americana de Direitos Cívicos, e começou então a sua batalha legal que culminou com a decisão do Supremo Tribunal, proferida no dia 12 de Junho de 1967, que declarou a inconstitucionalidade das leis discriminatórias e que obrigou os Estados da União a modificarem as suas legislações estaduais.

Ainda assim essas modificações legislativas levaram o seu tempo: o Estado do Alabama, por exemplo, só já no ano 2000 entendeu aboli-las por completo.
De facto, não é todos os dias que se consegue implementar uma legislação que contraria de forma tão drástica a vontade desse Deus todo-poderoso e o seu alto desígnio de separação dos seres humanos em razão das suas raças.

A história de Richard e Mildred Loving constitui um exemplo paradigmático de que é possível e vale de facto a pena lutar, e com sucesso, contra a intolerância e contra a discriminação, e principalmente contra o ódio que tantas pessoas votam aos seus semelhantes, aos seres humanos, que por qualquer motivo lhes parecem «diferentes».
Venha esse ódio de onde vier e independentemente das razões que o motivam.

Mas o que é verdade é que tanto neste nosso país, como principalmente por esse mundo fora, há ainda um longo, muito longo caminho a percorrer…


domingo, 18 de maio de 2008

 

Pois é: isto de ser uma “família” não é para qualquer um!


Um dos mais fundamentais direitos de uma verdadeira Democracia será a liberdade que cada cidadão tem de determinar e de organizar a sua vida da forma que muito bem entende.

Não é sequer necessário realçar a inalienabilidade dos direitos fundamentais dos cidadãos, do seu direito à liberdade de expressão ou à liberdade de terem um culto religioso (ou de não ter culto algum) ou de organizarem da forma que acharem mais conveniente, e em plena liberdade, a sua vida privada e familiar.

Constitui por isso um indiscutível direito fundamental, e até revestido de dignidade de consagração constitucional, o direito dos portugueses se organizarem em torno do culto religioso que mais lhes aprouver.
Tanto assim que talvez quase três quartos dos portugueses se afirmam católicos, embora muitos deles se considerem a si próprios essa coisa absolutamente abstrusa, e contraditória nos próprios termos que é serem «católicos não praticantes».

Como católicos, estes portugueses são perfeitamente livres de praticarem em plena liberdade o culto que a sua Igreja lhes determina e de acatarem os dogmas da sua religião ou o catecismo e as determinações dos ministros dessa mesma religião, com o Papa no topo de uma hierarquia bem identificada e organizada, e que por vezes até faz proclamações revestidas do dogma da sua infalibilidade.

E o que é facto é que os católicos são livres de o fazer e ninguém tem nada a ver com isso!

Outra liberdade que está ao alcance dos portugueses é a forma de organizarem a sua vida familiar a seu bel-prazer, um direito igualmente fundamental e que por isso merece também importância suficiente para se encontrar constitucionalmente consagrado.

É por isso que tantos portugueses escolhem viver juntos sem se vincularem previamente aos laços do matrimónio. Há até regiões deste nosso Portugal em que é quase «tradição» um belo dia o homem ir a casa dos pais daquela que será a sua companheira e nesse mesmo dia «juntam os trapinhos» e assim vivem até ao fim dos seus dias.
No nosso país haverá certamente centenas de milhar de pessoas que vivem em união de facto. E, uma vez mais, são livres de o fazer e ninguém tem nada a ver com isso!

Mas às vezes acontece a curiosa coincidência de haver pessoas que vivem em união de facto e serem também católicas, mesmo que se achem somente que são aquela tal coisa a que chamam «católicos não praticantes».
E uma vez mais é verdade: são perfeitamente livres, e ninguém tem nada a ver com isso!

Mas a curiosidade mais engraçada surge precisamente aqui:

Na passada sexta-feira, durante o Fórum de Associações Familiares Europeias que decorreu no Vaticano, o Papa Bento XVI, o tal chefe da Igreja Católica que os portugueses que assim o entenderem são livres de seguir (que ninguém tem nada a ver com isso) disse que os casais que vivem em união de facto afinal não são… uma família.

Disse-o assim por estas palavras:
«A revelação bíblica é antes de mais uma história de amor, a história da aliança de Deus com os homens. É por isso que a história de amor entre um homem e uma mulher na aliança do matrimónio foi assumida por Deus como símbolo da história da salvação. É precisamente por isso que a união de vida e de amor, baseada no matrimónio entre um homem e a mulher – que constitui a família – representa um bem insubstituível para toda a sociedade, a não confundir nem equiparar a outros tipos de união».

Assim sendo, a conclusão é simples e só pode ser uma:
Os milhares de portugueses que vivem em união de facto, independentemente da sua idade ou do seu sexo, de terem ou não terem filhos, de viverem juntos há muito ou há pouco tempo, mas se forem ao mesmo tempo católicos terão agora para todos os efeitos de deixar de se considerar a si próprios… UMA FAMÍLIA.

Ao fim e ao cabo, um Papa é um Papa, e as revelações bíblicas e a palavra de Deus não são para pôr em causa.

Mas é aqui que acaba a curiosidade e começa o problema:
- Como chamar então a estas pessoas ou a cada um destes grupos de pessoas que vivem em união de facto e que ao mesmo professam uma religião cujo chefe supremo (e cujas determinações decerto não hesitarão em seguir e professar) é ele próprio, o Papa Bento XVI, que não os considera… UMA FAMÍLIA?...

Sim: que nome haveremos agora de chamar a esta gente???


quinta-feira, 15 de maio de 2008

 

Deus não joga aos dados



Esta frase «Deus não joga aos dados» foi proferida por Albert Einstein e tem sido recorrentemente usada para «provar» que aquele que é considerado um dos homens mais inteligentes da História afinal… acreditava em Deus.

Não deixa de ser extremamente curiosa esta persistente mania dos crentes que tentam «converter» à irracionalidade da fé algumas das mais brilhantes mentes que a Humanidade já conheceu.

De facto, revela antes de mais uma inesperada insegurança intelectual e uma súbita necessidade de um apoio fornecido por quem é por todos reconhecidamente inteligente, como se fosse uma espécie de bóia de salvação para um manifesto «complexo de inferioridade» de quem, afinal, nem sequer parece muito seguro da sua fé.

Quando disse «Deus não joga aos dados», Einstein fê-lo num contexto muito específico de uma demonstração científica, e pretendeu não mais do que ilustrar que na Natureza nada acontece «por acaso» como algumas «pessoas de muita fé» têm a mania de afirmar quando estão a fazer de conta que percebem do assunto.

É pois fácil a confusão e esta total incompreensão por parte de quem adopta a irracionalidade como opção de vida e até como… «critério científico».

Não que fosse necessário, o curioso é que, segundo noticia a «NBC» vai ser leiloada uma carta escrita à mão por Albert Einstein em Janeiro de 1954, o ano anterior ao da sua morte.

Nesta carta Einstein deixa bem claro o que pensava sobre Deus e sobre os assuntos da religião quando afirmou:
«A palavra Deus é para mim não mais do que a expressão e o produto da fraqueza humana»
«A Bíblia é uma respeitável mas primitiva colecção de lendas que são, ainda assim, manifestamente infantis»
«Para mim, a religião judaica, como todas as outras religiões é a encarnação das mais infantis superstições».

Ou seja, se ninguém melhor do que ele o poderia fazer, Einstein deixou assim bem demonstrado que os sentimentos de admiração pelo Universo e pelos seus “mistérios”, como obviamente quaisquer outros sentimentos, incluindo um determinado sentido pessoal de estética ou de espiritualidade, só por manifesta debilidade mental e por mais do que uma óbvia imbecilidade podem ser considerados incompatíveis com o ateísmo.

E Einstein bem o deixou expresso quando disse:
«Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta».

A provar que tinha razão, são as persistentes citações que ou lhe são falsamente atribuídas ou são propositadamente interpretadas fora do contexto em que foram proferidas, e que de comum não têm mais do que uma desesperada quanto ridícula tentativa de «demonstração» de que Einstein afinal não era ateu.

A mais célebre será certamente esta:
«A Ciência sem a religião é coxa; a religião sem a Ciência é cega», que o próprio Einstein explicou para quem tinha mais dificuldade de entendimento que pretendia significar não mais do que a perfeita compatibilidade entre a compreensão e a explicação científica do Universo com uma simultânea admiração e "espanto" pelos seus insondáveis mistérios ainda não desvendados pelo Homem.

E para o explicar ainda melhor rematou:
«Eu não tento imaginar um Deus pessoal; para mim é suficiente contemplar em admiração a estrutura do mundo na medida em que os nossos inadequados sentidos nos permitirem apreciá-lo».
E ainda:
«O irracional respeito à autoridade é o maior inimigo da verdade».

Mas se dúvidas houvesse, Albert Einstein ainda nos deixou bem explícito que:

«Eu não acredito na imortalidade do homem; e considero que a ética é um conceito exclusivamente humano e não diz respeito nem depende de qualquer autoridade sobrenatural».

«Se as pessoas são boas porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável».

«A ideia de Deus é um conceito antropológico que eu não consigo levar a sério»

Numa palavra:
Como ateu convicto que era, Einstein era um homem livre porque não temia a infame chantagem de medo a que se submetem as pessoas que não têm um mínimo respeito por si próprias e se humilham perante uma vergonhosa e patética mitologia da Idade do Bronze, e não têm a coragem e a dignidade suficientes para olharem a morte de frente e para, antes, aproveitarem e desfrutarem em liberdade cada um dos momentos que a vida lhes proporciona.

Não há dúvida: Einstein era de facto uma pessoa muito inteligente!


quarta-feira, 14 de maio de 2008

 

«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis»


Esta citação de Thomas Jefferson foi a primeira coisa de que me lembrei quando li nos jornais que no discurso que ontem proferiu no Santuário de Fátima o «Presidente Para a Causa dos Santos», que é como quem diz a autoridade encarregue de ir acrescentando deuses ao Panteão católico, o já mui famoso Cardeal Saraiva Martins, decidiu voltar a comentar o projecto de lei que alterará o regime legal do divórcio litigioso actualmente vigente.

Ou seja, a propósito desta alteração a um regime legal estritamente civil, mais exactamente a uma nova forma de rescisão de um contrato de natureza exclusiva e meramente civil, e contra o qual a Igreja Católica através da Conferência Episcopal ainda assim não se cansa de se manifestar, resolveu crocitar assim o tal cardeal:

«O matrimónio é a união entre um homem e uma mulher e é um princípio que a Igreja Católica considera "completamente inegociável"».

Completamente inegociável?
Com que então, a Igreja Católica agora declara-se formalmente indisponível para «negociar» o divórcio civil?

Homessa!
Mas este sujeito perdeu a noção das realidades e da época em que vive?

Mas quem é que disse a este indivíduo paramentado de palhaço que alguém queria «negociar» as leis civis com a Igreja Católica?


terça-feira, 13 de maio de 2008

 

Errare Humanum Est…



Faz hoje anos que a Virgem Maria, a mãe de Deus, apareceu pela primeira vez em Fátima a três crianças para transmitir uma mensagem aos Humanos.
Andava preocupada com a gente, coitada.

De início a mensagem foi considerada um segredo divino tal era o seu significado simbólico e a sua enorme relevância para a História da Humanidade.
Só foi conhecida aos bochechos e depois de cuidadosamente dividida em três partes.

Ora, a mensagem da mãe de Deus era de tal forma importante que a sua última parte só foi conhecida meio século depois de nos ter sido transmitida. Era uma previsão de que um gajo vestido de branco ia sofrer um atentado.
Foi pena que não tivesse sido divulgada mais cedo, esta previsão.

É que quando os prognósticos são feitos no fim do jogo perdem toda a piada, não é?...

Mas na primeira parte a Senhora «mais brilhante que o Sol» disse de facto uma coisa de particular importância para a Humanidade: disse que devíamos rezar muito a Deus.
Ao que parece, Deus gosta muito que lhe rezem. Faz-lhe bem ao ego, dizem.

E fez bem a Virgem: porque se tem esperado mais 90 anos que o seu filho desse o recado directamente à Alexandra Solnado, vejam só a quantidade de rezas que Deus tinha perdido durante esse tempo todo.

Mas a especialidade da Virgem Santíssima era de facto a futurologia.
Pelos vistos a capacidade de adivinhação deve ser um dom especial reservado por Deus às mulheres «puríssimas», que são aquelas cujo canal vaginal só funciona no sentido catolicamente correcto, que é o sentido descendente, e que nunca foi conspurcada por essa coisa suja, horrível e pecaminosa chamada sexo.

Foi assim que vinda dos Céus, onde se encontra de corpo e alma, esta anorgásmica mãe, provavelmente com muito pouco que fazer, resolveu vir ao nosso planeta dizer-nos que a Guerra acabava nesse ano de 1917 e que os soldados portugueses estariam de volta ao solo pátrio já pelo Natal.

O pior de tudo foi que a I Guerra Mundial, a tal guerra de 1914-18 acabou, tal como o próprio nome indica... no ano de 1918.
Então não querem lá ver que a mãe de Deus se enganou, coitadita?

Ou seja:
Quer isto dizer que nesta insigne e extraordinária mensagem transmitida aos Homens a mãe de Deus numa parte fez um prognóstico no fim do jogo, noutra disse uma banalidade e na terceira, ó Céus... enganou-se!

É pois para honrar esta extraordinária mensagem que centenas de milhar de pessoas se deslocam todos os anos a Fátima para adorar e rezar à Virgem Maria e para comemorar e celebrar a extrema razoabilidade e a lucidez de tudo isto.

Dizem também que a religião católica é monoteísta...


sábado, 10 de maio de 2008

 

Megawatts! Resmas de Megawatts!!!





Quando os iluminados falam das matérias todas, como eles próprios dizem, em pé de igualdade com os mais reputados especialistas, o seu brilhantismo só se pode medir, de facto, em… Megawatts!



quarta-feira, 7 de maio de 2008

 

Como crucificar um padre



Bem sei que o programa não é lá muito propício a um debate sobre «a religião e o ateísmo» dadas as suas especiais, digamos, “peculiaridades”…

Mas, a bem da verdade, a apresentadora bem podia aprender que numa entrevista não fica lá muito bem interromper sistemática e constantemente o entrevistado, não o deixando concluir um único raciocínio.
Às vezes deparamos na televisão portuguesa com jornalistas e apresentadores de programas que bem parece que querem brilhar mais do que as pessoas que estão a entrevistar.
E então, em vez de termos um debate onde se expõem ideias ou conceitos, temos um programa em que se salta de frase para frase sem se poder seguir um fio condutor e sem se poder chegar a uma conclusão.

No final, garanto, é uma coisa muito irritante!


Neste primeiro filme do programa «As Tardes da Júlia» do passado dia 24 de Abril isso é perfeitamente notório.




Já neste segundo filme o padre Carreira das Neves demonstra bem como não há nada melhor do que uma boa dose de irracionalidade encasquetada na cabeça para levar qualquer «pessoa de fé» a dizer na mesma frase uma coisa e o seu contrário.

Por exemplo, começa este homem de Deus por negar a política da Igreja Católica contra o uso do preservativo.
Para depois, dizer que não vê qualquer inconveniente para o seu uso, que defende incondicionalmente.
Haverá alguma consequência disciplinar para isso?
É que o padre carreira das neves é professor de teologia numa Universidade!

E é que o parágrafo 2399 do «Catecismo da Igreja Católica» afirma que qualquer forma de contracepção é «moralmente inadmissível».
Como julgarão as autoridades eclesiásticas este padre que vem à televisão defender e apregoar em público práticas que o seu próprio Catecismo considera «moralmente inadmissíveis»?...

Já quanto ao aborto, é que o bom padre mete os pés pelas mãos: começa uma frase a dizer que é «contra o aborto» porque é «pela vida», para meia dúzia de segundos depois acabar a dizer que afinal e em certos casos… é a favor do aborto!

Temo pela vida eclesiástica e pela subsistência deste servo de Deus. É que o parágrafo 2272 do «Catecismo da Igreja Católica» é contra TODAS as formas de aborto (mesmo em caso de uma gravidez ectópica) que pune com a pena automática de excomunhão.

Depois, coitado, resolve dizer que «se não há racionalidade na fé, essa pessoa não tem fé» e aproveitando a embalagem ainda dispara: «a fé vai para além da razão, mas não é contra a razão».
Esta até faz pena não faz?
Coitado do homem!

Coitado dele e também das pessoas que o aplaudiram na assistência.
Mas com certeza hão-de ser perdoadas: ao fim e ao cabo não sabem o que fazem. E não é isso que preconizou um dos seus Deuses?
E enfim: será delas o Reino dos Céus…




Este terceiro filme é de ir às lágrimas!
Como se não bastasse ver uma pessoa crescida a fazer figuras tristes na televisão a falar do que não sabe, dizendo por exemplo que até há 20 anos os cientistas diziam que «tudo isto tinha aparecido por acaso», ainda somos confrontados com o triste espectáculo que é vermos o Sr. Carreira das Neves a dizer «eu sou pela evolução, não pela criação».
E pronto!

Cá temos um profissional irracionalidade, alguém que ganha a vida a vender a vida eterna aos «fiéis» a dizer que não é «pela criação», isto é, que «nada foi criado», que é como quem diz que não acredita que a «causa primeira» tenha uma origem divina.
E pronto: cá temos um padre ateu!

Já tinha ouvido falar nisto de haver padres ateus.
Não tenho nada contra; até lhes fica bem serem ateus.

Mas talvez lhes ficasse melhor um bocadinho mais de honestidade intelectual e devessem arranjar outra profissão onde não andassem a enganar os outros, e principalmente a si próprios.

E talvez não tivéssemos que assistir a esta coisa tristemente confrangedora que é ouvir um padre a dizer que «os cientistas começam agora a defender que há um sentido antrópico das coisas».
Coitado do homem!




E cá temos o quarto filme em que é possível ouvirmos um padre confessar-se a si próprio e dizer que de facto «a Bíblia tem coisas horrorosas».




No quinto filme cá temos o padre a dizer que essas coisas horrorosas que admite que a Bíblia contém «têm uma explicação na macro-narrativa da Bíblia».
E decerto que têm: fazem com ela um conjunto bem coerente!

Mas vai o padre embalado e diz-nos:
- Que afinal a Bíblia não é a palavra de Deus;
- Que Deus nunca falou com ninguém, nem sequer com Abraão ou com Moisés, e que, pelos vistos, aquilo dos 10 Mandamentos afinal é tudo uma grande treta;
- Que não é verdade que na Bíblia esteja escrito que Deus mandou Abraão matar o filho.

Enfim: ao que parece a Bíblia é uma gigantesca aldrabice…





O sexto filme vale a pena, primeiro porque podemos ouvir o Sr. Neves a dizer que «não pode meter o século XXI dentro da Bíblia».
De facto é verdade.
Só é pena que não nos explique por que raio é que a sua Igreja persiste em... meter a Bíblia dentro do século XXI…

Mas há mais: ainda podemos ter o prazer de ouvir um padre a dizer que o Jesus que ama «nem sempre foi apanhado pela Igreja na sua parte de libertação», mas muitas vezes «pela sua parte de opressão».


É muito giro isto de ver um padre referir-se «ao Jesus que ama» e à sua «parte de opressão», não é?


segunda-feira, 5 de maio de 2008

 

Violento e Ofensivo? Eu?



Esta história começa quase como um daqueles filmes épicos de grandes heróis da Segunda Guerra Mundial baseados nos contos de Alistair McLean.
Mas desta vez é uma história rigorosamente verídica.

No auge da Segunda Guerra um submarino alemão é atingido por uma carga de profundidade largada de um navio aliado. Ferido de morte, o submarino emerge e os seus tripulantes abandonam-no apressadamente antes que se afunde, esperando ser socorridos pelo próprio navio que os atingira e que se aproxima para os recolher.

De súbito, um marinheiro inglês decide cometer um acto de heróica loucura. Corre precipitadamente para submarino já quase imerso, entra no seu interior, procura a zona de comunicações, e segundos antes de o submarino se afundar consegue arrancar do seu lugar um dos mais preciosos troféus que aquela guerra insana lhe poderia oferecer: uma «Enigma»!

Era precisamente na «Enigma», uma máquina fantástica e precursora dos modernos computadores, que residia a base da codificação de todas as comunicações militares alemãs, até à ocasião completamente indecifráveis.

A «Enigma» resgatada ao mar é levada com toda a urgência para Bletchley Park, a base britânica de controle das comunicações aliadas. Da sua descodificação dependia provavelmente o decurso de toda a guerra, muito especialmente porque isso possibilitaria conhecer o paradeiro e as missões dos submarinos alemães que afundavam às centenas os navios de abastecimentos provenientes dos Estados Unidos.

Para descodificar a «Enigma» não poderia ser outro o escolhido: Alan Turing.

Alan Turing era um cientista e um matemático de excepção e é hoje considerado um dos «pais» dos computadores.
Durante os meses seguintes Turing dedicou-se dia e noite à descodificação da «Enigma». Com um sacrifício inaudito da sua vida pessoal trabalhava sem cessar, dias e dias seguidos sem dormir e quase sem se alimentar.
Muitas vezes eram os seus colegas de Bletchley Park que quase o forçavam a interromper o seu trabalho para simplesmente poder comer e dormir um pouco.

Mas o árduo trabalho de Alan Turing foi coroado de êxito e os segredos da misteriosa «Enigma» foram finalmente desvendados.

A partir de então, os aliados passaram a ter acesso às comunicações cifradas alemãs como se estas fossem emitidas em linguagem corrente e puderam ter conhecimento de inúmeros planos dos generais alemães antes mesmo de estes terem tempo de os pôr em prática.
Centenas de navios passaram a conhecer com antecedência o paradeiro dos submarinos e das esquadras de guerra alemãs e puderam desviar-se a tempo das suas rotas.
De tal forma, que muitas vezes alguns navios não eram avisados e eram propositadamente “sacrificados” simplesmente para que os alemães não suspeitassem que as suas comunicações eram lidas como num livro aberto.

É tida como verídica a história de que a espionagem alemã conseguiu descobrir uma projectada viagem ultra-secreta de Churchill ao Canadá, e projectava uma missão para abater o avião em que aquele viajaria.
A descodificação da «Enigma» permitiu aos ingleses conhecer antecipadamente o plano dos alemães e mudar o itinerário de Churchill, ao mesmo tempo que sacrificavam o avião onde originalmente deveria viajar. Como seria de esperar o avião foi abatido pelos alemães sobre o Atlântico, e todos os seus ocupantes morreram.
Entre eles viajava Glenn Milller.

A muito poucas pessoas se deverá uma mudança tão radical do curso da Segunda Guerra Mundial como a Alan Turing. Provavelmente nem sequer Churchill ou Eisenhower tenham contribuído tanto como Turing para isso.
Os historiadores são hoje unânimes: o esforço e o génio de Turing permitiram sem dúvida salvar centenas de milhar de vidas e encurtar em mais de um ano da duração da guerra.

Mas uma coisa muito curiosa sucedia na ocasião em Inglaterra: a homossexualidade era punida criminalmente. E assim permaneceu até 1967. Em Portugal assim foi até 1974.

Acontece que corria à boca pequena que Alan Turing era homossexual. Como é óbvio isso foi motivo mais do que suficiente para que Turing nunca tivesse visto o seu esforço e a sua dedicação devidamente reconhecidos ou recompensados e tivesse visto, como merecia, o seu nome escrito em letras grandes na História da Segunda Grande Guerra Mundial.
Não foi obviamente armado cavaleiro. Nem uma medalha lhe deram.

Até que já em 1952 Turing foi finalmente «apanhado» em flagrante: mantinha um relacionamento com outro homem.
Então, Alan Turing foi julgado e condenado.

Na sentença proferida pelo Tribunal inglês foram-lhe dadas duas escolhas:
- Ou cumpria dois anos de prisão numa penitenciária, sujeitando-se ao que os restantes presos pensariam de um condenado homossexual entre eles;
- Ou, em alternativa, se submetia a uma «castração» química através de injecções maciças de hormonas, que o deixariam impotente e sem desejo sexual, e ainda com o curioso efeito secundário de lhe fazer crescer os seios.

Alan Turing escolheu uma terceira solução:
Foi então que um dos mais notáveis cientistas do século XX, este génio afável, excêntrico e um pouco gago, a quem a Humanidade tanto devia, decidiu injectar cianeto numa maçã e comeu-a.
Suicidou-se no dia 7 de Junho de 1954.

*

Vem esta história a propósito de me acusarem frequentemente de, mais do que uma simples veemência, recorrer a um tom e a uma linguagem «violenta» e «ofensiva» quando me refiro às religiões e às chamadas «pessoas de fé».

Talvez isso às vezes seja verdade, concedo.

Mas como posso deixar de me indignar perante uma história de vida como a de Alan Turing, que em vez de ver ser-lhe reconhecido o seu extraordinário valor e um mérito de excepção, em vez de ser justamente honrado pelo seu inestimável contributo para com os seus semelhantes, para com a Humanidade, é antes sacrificado no altar de um moralismo imbecil e de valores proclamados por pastores analfabetos e meio atrasados mentais que viveram nos desertos do Médio Oriente há quatro mil anos, em plena Idade do Bronze?

Como posso deixar de me revoltar perante quem adopta como filosofia e princípios de vida uma moralidade de preconceito, de morte e de ódio para com mulheres e homossexuais, para com quem professa uma religião diferente ou simplesmente religião nenhuma, ou perante quem preconiza o atraso endémico da sociedade e da ciência e defende a imolação pelo fogo de quem ousa atravessar-se no seu caminho e também, como se não bastasse já, ainda considera o sexo como algo de sujo, vil e pecaminoso?

Como posso deixar de ser «violento» e «ofensivo» para com a néscia caterva de autênticos idiotas que em pleno século XXI, e em nome de uma mitologia dedicada a uma divindade imaginária, mas nem por isso menos impiedosamente assassina, ainda hoje defendem e proclamam essa mesma moralidade e esses mesmos precisos valores, não somente para si próprios, mas pretendem também impô-los a todo o custo na sociedade onde vivo?

Eu, «violento» e «ofensivo» para com as religiões e para com as «pessoas de fé»?
Eu?
Pois sim! Pobres imbecis: ainda não viram nada!!!


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