sexta-feira, 30 de março de 2007

 

O Debate



Mal vi o malfadado cartaz no PNR, logo na noite em que o colocaram, e deparei com aquela fronha horripilante, ainda por cima com aquela pose de alto como se fosse uma espécie de Mussolini de segunda categoria, lembrei-me logo daqueles dias de delírio mediático que se seguiram à iniciativa do casamento da Teresa e da Lena.

Nessa ocasião fui convidado pela «TV Record» para, disseram-me, um debate sobre o tema do casamento homossexual.
Concordei sem qualquer problema. Afinal sempre foi minha opinião que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é precisamente um dos temas que mais esclarecimentos exige que sejam prestados à maioria das pessoas.
Para além disso, estava absolutamente seguro que não era com certeza o bispo da IURD que ia moderar o debate que me ia convencer a passar a pagar dízimo a uma igreja.

E lá compareci pontualmente, num estúdio improvisado nas caves do antigo cinema Império, para um debate em directo que me asseguraram que seria visto por uma audiência de muitos milhões de pessoas em vários países.
Qual não foi o meu espanto quando me apresentaram o meu oponente de debate: precisamente este Le Pen de imitação rasca, o inefável José Pinto Coelho, líder do tal Partido Nacional Renovador, ou PNR.

Confesso que na altura ainda pensei em desistir do debate. A própria presença daquele bicharoco imundo ali mesmo ao pé me causava náuseas.
Mas o meu compromisso anterior e o alinhamento televisivo da estação a contar com isso, lá me fizeram ficar.
E ainda bem que fiquei, pois acabei por me divertir imenso, e ainda acabei o debate a rir-me como um perdido à custa do desgraçado.

Ao fim de meia dúzia de minutos percebi logo qual era o problema do indivíduo:
Pois, se logo a abrir as hostilidades, ainda que sob a capa de uma mal disfarçada cordialidade televisiva, o indizível José Pinto Coelho fez logo questão de declarar, a mim e à malta da IURD que anda ali à volta, que era um fervoroso e empedernido católico, logo nos primeiros minutos de debate me apercebi também que o indivíduo em questão não fazia a mínima ideia da tremenda injustiça que o seu Deus lhe tinha feito, e como tão imensamente o tinha prejudicado no dia da distribuição da inteligência pelos animais deste planeta.

E pimba:
Peguei-lhe nos preconceitos homofóbicos e nos seus próprios chavões, lidos talvez no «Mein Kampf» e decorados de discursos mussolínicos colados com cuspo aqui e ali naquele pequeno cérebro injustiçado pela Natureza, decompus-lhe em bocadinhos a noção legal de casamento e num instantinho pu-lo a ouvir-se a dizer a si próprio em directo na televisão que afinal, «mas só nesse caso», era a favor do casamento homossexual.

Mas depois, de repente, surpreendia-se a si próprio, abria muito os olhos e quando lá se apercebia de que o que tinha acabado de dizer não fazia sentido com a formatação que tinha encasquetada no disco rígido, arrependia-se de tudo o que tinha dito.
Às vezes até parecia que lhe faltava o ar. Corava muito, voltava atrás e dizia que não tinha dito nada daquilo.
E lá começava eu, cheio de paciência, a explicar-lhe e a repetir-lhe tudo outra vez, com o sorriso mais cínico que conseguia esboçar e sempre a falar-lhe muito devagarinho e pausadamente, com o tom mais paternalista e propositadamente irritante que consegui arranjar na altura, tal e qual como se estivesse a falar com um débil mental.
E lá o punha outra vez a ouvir-se a si próprio a dizer que afinal sempre concordava com o casamento homossexual, mas só com a condição de que os seus diversos componentes jurídicos fossem contratados não todos de uma vez, como num casamento «normal», mas... em dias diferentes...

Acho que não gostou muito da piada (ou então não a percebeu) quando, a terminar o debate, eu lhe disse assim como que em jeito de remate final:
- Em suma, se alguma conclusão podemos retirar deste debate é que o senhor afinal é a favor do casamento homossexual, mas desde que seja... em leasing!

Enfim! Foi como tirar o doce a uma criança!

A certa altura do debate não sei se tive medo ou se, pelo contrário, (tenho de aqui o confessar humildemente) tive até alguma esperança de que aquele pobre desprezado e injustiçado filho de um Deus menor, fosse beneficiado por um golpe de gloriosa misericórdia da Mãe Natureza que de repente o fizesse cair para o lado com uma oportuna síncope cardíaca quando, depois de me dizer com aquele ar artificialmente altivo que se opunha terminantemente a que em Portugal vivessem pretos, indianos, chineses «e até mesmo judeus», eu lhe perguntei calmamente:

- E o senhor tem a certeza que esses seus dois nomes «Pinto» e «Coelho» não significam que o senhor é cristão-novo?...

Moral da História, e assim como em jeito mistura de conselho e de misericordioso pedido a quem passar pelos lados do Marquês de Pombal e se deparar com o cartaz do Partido Nacional Renovador e com as estampadas fuças do seu prestimoso presidente:

Por favor, não fiquem a pensar que o Sr. José Pinto Coelho é assim um imbecil qualquer; que é um vulgar cretino homofóbico; que é um idiota xenófobo e racista; que é um estúpido débil mental; que é um estupor com as ideias deformadas por preconceitos que nem ele próprio consegue explicar; que é tão parvo e ignorante que nem sequer se apercebe do que ele próprio diz e defende.

Não!
Ele não é nada disso!
Tenham só pena.
Tenham muita pena dele, coitado...


quarta-feira, 28 de março de 2007

 

O Pesadelo dos Ateus II: A Manteiga de Amendoim



Como se não tivesse já bastado o «Argumento da Banana», foi encontrado um novo argumento que descredibiliza e destrói por completo a teoria da evolução e que uma vez mais demonstra inequivocamente que tudo o que existe no Universo resulta da criação e é obra de Deus.
Um novo argumento que é não só uma prova definitiva e absolutamente irrefutável para a existência de Deus, mas que é também um novo e autêntico pesadelo para os ateus.
Desta vez é o «Argumento da Manteiga de Amendoim»!

Absolutamente arrasador!



segunda-feira, 26 de março de 2007

 

Dois Conceitos Inseparáveis



A actual composição do poder político da Polónia, um Estado membro de pleno direito da União Europeia desde Maio de 2004, caracteriza-se por uma realidade invulgar e extremamente curiosa: o Presidente polaco, Lech Kaczynski, é também o irmão gémeo do Primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski.

Não admira assim que a proximidade familiar entre os dois governantes tenha trazido à Polónia uma grande estabilidade no relacionamento institucional entre o Presidente e o Primeiro-ministro e uma rara coincidência de intenções políticas entre ambos.
Mas há também uma outra curiosa coincidência entre os dois irmãos gémeos: são ambos conhecidos pela sua extrema religiosidade e pelo seu enorme fervor católico.
Aliás, a sua base política e social de apoio reside precisamente na ultra conservadora e Católica Apostólica Romana «Liga das Famílias Polacas», de que são militantes activistas.

Não admira, por isso, que os dois irmãos não se cansem de repetir, em total concordância, que não é por pertencerem à União Europeia que deixarão de lutar para que a Polónia mantenha a sua moral e os seus valores tradicionalmente católicos.

E para não deixarem os seus créditos por mãos alheias, os dois fervorosos e católicos irmãos começaram já a levar a cabo as iniciativas legislativas e as políticas que entendem que na Polónia representam a «moral e os valores tradicionalmente católicos» e a que resolveram chamar «A Revolução Moral».

Para já, decidiram «acertar as contas com o passado» e ameaçam perseguir judicialmente os responsáveis políticos que, após a queda do muro de Berlim (e mesmo até antes, quando era ainda temida uma possível invasão militar soviética), procuraram que a transição da Polónia para a democracia se fizesse de forma pacífica e sem ajustes de contas com o anterior regime.
Ao mesmo tempo ordenaram a abertura ao público dos arquivos da polícia política dos tempos do comunismo, visando expor e «desmascarar» todos aqueles que durante décadas colaboraram ou se conformaram com o regime então vigente.

Depois, parecendo ignorar o quanto dos indescritíveis horrores do Holocausto teve lugar em território polaco, os piedosos irmãos Kaczynski decidiram promover um discurso abertamente anti-semita, ao mesmo tempo que planeiam «proibir» a homossexualidade e impedir os homossexuais de trabalhar na função pública (tendo mesmo já começado pelo ensino), e proibiram qualquer forma de união de facto entre pessoas do mesmo sexo, estando o casamento homossexual, obviamente, fora de questão.

Ainda no âmbito da sua «Revolução Moral», os católicos gémeos anunciaram que o divórcio será terminantemente proibido e será novamente equacionada toda a legislação que possa conduzir à igualdade entre o homem e a mulher.

Claro está que o aborto é rigorosamente proibido, mesmo em caso de malformação do feto, de violação, ou de perigo de vida para a mulher grávida.
Finalmente, e como se não bastasse, e ao mesmo tempo que se tornou obrigatório o ensino da religião católica em todas as escolas do país, foi decidido que nas aulas de ciências, e a par do evolucionismo, fosse ensinado também o «criacionismo», proclamado como um teoria científica perfeitamente válida.
Embora alguns sectores católicos mais radicais não tenham ainda desistido de pura e simplesmente abolir de uma vez por todas o evolucionismo do ensino polaco, por acharem que ele é «uma ideologia do Demo».

Ao mesmo tempo, e para que não se diga que os mui católicos gémeos Kaczynski só encontram paralelo nos seus colegas cristãos evangélicos americanos, vão também aparecendo um pouco por toda a Europa muitos outros responsáveis políticos ansiosos por ganharem o «Reino dos Céus» através da proclamação da sua própria imbecilidade:
Ora na Inglaterra, onde a antiga ministra da Educação Ruth Kelly tentou implementar o ensino do criacionismo como uma «versão alternativa» à teoria da evolução; ora na Holanda, onde a ministra da Educação, Maria Van der Hoeven ainda recentemente tentou introduzir o criacionismo nos curricula escolares; ora na Itália, onde Letizia Morati, ministra da Educação de Silvio Berlusconi, chegou mesmo a retirar o ensino do evolucionismo dos programas escolares, e só a muito custo, e após indignados e massivos protestos por todo o país lá cedeu à sua reintrodução; ora na Sérvia, onde a ministra da Educação Ljiljana Colic, chegou a fazer precisamente o mesmo que a sua colega italiana, e também só a muito custo e após inúmeros protestos, lá considerou voltar atrás.

Ora bem:
Como se tudo isto fosse um claro e inequívoco exemplo, e principalmente um sério aviso do que acontece quando os católicos tomam conta do poder político de um Estado, está bom de ver o que é que, sem qualquer sombra de dúvida, existe de comum entre a perigosa, profunda e fanática imbecilidade de toda esta gente que procura ganhar o «Reino dos Céus», ora impondo o criacionismo como uma teoria científica, ora proclamando o ódio, a intolerância, a homofobia e a misoginia como sua política oficial.
Porque o que todos estes fanáticos imbecis têm em comum é, afinal, espantosamente simples: é o seu fervoroso e piedoso catolicismo!

Contudo, poderá haver quem diga que o que une toda esta gente, o que todos eles têm em comum, não é somente esse seu fervoroso e piedoso catolicismo mas é, antes, precisamente essa sua profunda e fanática imbecilidade.
Admito-o.

Mas nesse caso, então, outros dirão como é afinal tão persistente a frequência com que o fervor católico e essa tal profunda e fanática imbecilidade são coincidentes e como tantas vezes eles parecem andar tão intimamente ligados.
Tão ligados, que às vezes o catolicismo e a imbecilidade bem parecem dois conceitos que, por simples definição, são afinal geneticamente inseparáveis...


sexta-feira, 23 de março de 2007

 

Religion: the great bullshit story ever told



Nos dois filmes abaixo podemos ver a brilhante «Stand up Comedy» de George Carlin.

O primeiro filme fala de religião e o segundo dos Dez Mandamentos.
Absolutamente imperdível!!!

George Carlin e a religião:



George Carlin e os Dez Mandamentos:


segunda-feira, 19 de março de 2007

 

O Que Faz Falta



Estive este fim de semana em Espanha.
Quiseram as peculiares circunstâncias que rodearam o meu itinerário e a minha estadia, que conhecesse um membro da equipa governativa do Primeiro-ministro espanhol José Luís Rodriguez Zapatero.

Conversámos longamente e, sendo a advocacia a sua profissão de origem, cedo a conversa enveredou pela comparação dos sistemas políticos, jurídicos e judiciários dos dois países, principalmente dos sistemas portugueses, que me surpreendeu que ele conhecesse razoavelmente bem.

Mas se ficou surpreendido com a naturalidade com que todos os partidos portugueses fazem integrar nos seus grupos parlamentares deputados a que chamam «independentes» e sem qualquer afinidade, se não partidária pelos menos política, com o partido que vão representar no principal órgão de soberania, já ficou absolutamente atónito quando lhe disse que o Partido Socialista tinha feito eleger duas ou três deputadas conhecidas pelo seu feroz conservadorismo ou reconhecidas pelas suas afinidades intelectuais e até matrimoniais com a «Opus Dei».

Riu-se francamente quando lhe disse que o principal partido da oposição tinha entre os seus deputados à Assembleia da República, por exemplo, um confesso monárquico, membro até de outro partido político, mas levado às listas eleitorais pela notoriedade pública ganha com os seus medíocres dotes de fadista.

Como seria de esperar, a conversa enveredou a certa altura para o assunto do casamento homossexual, há muito já permitido em Espanha, ficando surpreendido por ter à sua frente o advogado das duas lésbicas que se tinham apresentado numa Conservatória do Registo Civil e assim tinham despoletado um processo específico e concreto actualmente a correr nos tribunais portugueses, sendo um caso que conhecia bem e acompanhava de perto.

Contei-lhe o recente indeferimento do recurso pelo Tribunal da Relação de Lisboa (cujo acórdão já se pode ler na íntegra neste site) dos meus projectos e das minhas perspectivas futuras do caso.

Finalmente, e face ao seu extraordinário conhecimento da realidade portuguesa, pedi-lhe que, segundo o seu ponto de vista, me dissesse quais as principais semelhanças e diferenças que via no Primeiro-ministro português José Sócrates e no Primeiro-ministro espanhol Zapatero.

Disse-me então que achava ambos os governantes dotados de um invulgar instinto político e de uma vontade séria e determinada de levar a cabo um projecto político e até social em que sinceramente acreditavam.
Para o provar, lembrou as inúmeras reformas administrativas por ambos levadas a cabo nos dois países, mesmo sob as fortes críticas dos interesses corporativos que iam sendo afectados.

E referiu-me então as diferenças que via entre os dois.
Primeiro, detectei-lhe algum cuidado da sua parte na escolha das palavras, decerto para não me ferir alguma susceptibilidade lusitana ou para não me parecer que se auto-elogiava.
Mas não me surpreendi quando me disse que, em primeiro lugar, achava que «talvez» Zapatero tivesse tido «melhor sorte» que Sócrates não só escolha da sua equipa ministerial, mas principalmente na composição dos seus conselheiros e assessores mais directos.

Mas depois pôs a «diplomacia» de lado e continuou:
Disse-me então que achava que, na generalidade, Portugal estava pelo menos dez anos atrasado em relação à Espanha.
E disse-me que achava que esse atraso era grave, endémico e absolutamente notório, e que iria persistir e até mesmo agravar-se enquanto Portugal não levasse a cabo as mudanças estruturais que são realmente importantes.
Deu-me os exemplos da hesitação portuguesa na construção de grandes empreendimentos nacionais, como o novo aeroporto de Lisboa, como lhe chamou, ou o TGV, que se discutiam e debatiam interminavelmente em vez de se assumirem e concretizarem de uma vez por todas.

E deu-me também o exemplo da despenalização do aborto, que não entendia porque tinha sido submetida a referendo em vez de ter sido solucionada pela via legislativa por um partido que tem maioria absoluta no parlamento, e ainda o exemplo do casamento homossexual, que é um assunto que em Portugal os partidos políticos e os sucessivos governos continuam a fingir que não existe.

E concluiu:
- São provavelmente estas as principais diferenças entre Portugal e a Espanha e também entre Sócrates e Zapatero; e são estas as diferenças que vão continuar a existir e a fazer com que Portugal continue dez anos atrasado em relação da Espanha.
Fez uma pausa e continuou:
- E que vão continuar a existir, podes acreditar, enquanto Sócrates não tiver o que tem tido Zapatero para resolver todas estas questões em Espanha, mesmo as questões sociais polémicas, como essa do casamento homossexual que tu defendes.

Perguntei-lhe então, claro está, que raio era isso que, segundo ele, Zapatero tinha que Sócrates não tem.
Riu-se muito, e então, na linguagem desbragada já habitual de «nuestros hermanos», disse-me:
- Cojones!


sexta-feira, 16 de março de 2007

 

Admite: és demasiado estúpido para seres ateu!





 

A Bíblia Fácil





quarta-feira, 14 de março de 2007

 

O Prepúcio dos Deuses



Se há coisa certa, inequívoca e absolutamente indiscutível neste mundo é a coerência e a espantosa lucidez da doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana.

Só assim se explica que, ao longo de dois mil anos, e ainda hoje, tantos milhares de fiéis, pessoas inteligentes e dotadas de uma razoabilidade a toda a prova, se orgulhem de ser católicos, ao ponto de levarem à prática a doutrina e os ensinamentos da Igreja Católica e de os vivenciar no seu quotidiano e até, tal é a sua certeza, de os tentarem impor às outras pessoas.

Os exemplos são incontáveis.
Mas poderíamos referir, a título de mero exemplo dessa lucidez e razoabilidade católicas, o «Mistério da Santíssima Trindade», que explica com uma clarividência espantosa como é que uma religião que tem três Deuses principais, uma deusa de segunda categoria e algumas dezenas de milhar de semi-deuses é, ainda assim, uma religião monoteísta.

Outro exemplo, que será, decerto, a base fundamental da origem do cristianismo é a ressurreição de Jesus Cristo e a sua posterior subida em corpo e alma aos Céus, onde está agora sentado à direita de Deus pai. O que aliás é a mesma coisa que dizer que está sentado à direita de si próprio.
Mas isso é outra conversa.

Só que, na sua procura incessante da racionalização da sua doutrina, a subida aos Céus de Jesus Cristo em corpo e alma trouxe também um problema que embaraçou e preocupou durante mais de milénio e meio todo o mundo católico.
É que, recorde-se, o Deus cristão tinha a curiosa particularidade de, ele próprio, professar outra religião que não a religião cristã.
Mas isso é também outra conversa.

De facto, Jesus Cristo era judeu. E como é tradição judaica, Jesus Cristo não escapou à circuncisão.
Ora bem.
Assim sendo, a pergunta parece mais do que óbvia:
Depois de Jesus Cristo ressuscitar e subir aos Céus em corpo e alma, qual teria sido o destino do seu sagrado prepúcio?
Não é de surpreender a perplexidade e a preocupação da Igreja Católica durante tantos séculos perante tão importante e transcendente problema.
Porque, convenhamos, não é um problema despiciendo qualquer.

Sejamos razoáveis: ao fim e ao cabo é o Prepúcio dos Deuses!

Teria o sagrado prepúcio ficada na Terra?
Não! Impossível! O prepúcio de Deus não poderia ficar por aí ao Deus dará e a apodrecer num canto qualquer ou a ser pasto dos bichos.
Teria o sagrado prepúcio regressado, por assim dizer, à sua origem, recolando-se ao Sagrado Pénis?
Também não parecia uma resposta razoável, até porque a Bíblia não diz uma palavra sobre o assunto.
E depois essa resposta implicaria estarmos para aí a falar do pénis de Jesus Cristo a torto e a direito, o que, de facto, não parecia nada boa ideia.

Mas a resposta tinha de ser encontrada.
Mas, obviamente, essa resposta teria de ser inquestionavelmente lúcida, racional e lógica, em coerência, aliás, com toda a doutrina da Igreja Católica.

Até que, já no século XVII, o célebre erudito e teólogo católico Leo Allatius resolveu finalmente o problema.
Na sua famosa obra, pelos vistos de primordial importância para toda a cristandade, «De Praeputio Domini Nostri Jesu Christi Diatriba» Leo Allatius revelou que, lá do recôndito lugar onde tinha estado em sagrado repouso desde o tempo da circuncisão, também o Santo Prepúcio subiu aos Céus ao mesmo tempo que Jesus Cristo, mas convertendo-se imediatamente, algures durante tal subida, nos anéis de Saturno.

Absolutamente brilhante!
E foi assim que uma vez mais a doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana se reencontrou com a lógica, a razoabilidade, a coerência e a lucidez de que ao longo de dois mil anos tanto se orgulham os católicos de todo o mundo.
E mais: ao mesmo tempo ainda que, note-se, acabou por fornecer a mais razoável explicação científica não só para a existência daqueles anéis, mas para nos ensinar também qual o motivo a que se deve ser Saturno um planeta assim tão bonito, que só poderia ser obra de Deus.
E a resposta, afinal tão simples, aí está: o Santo Prepúcio!


terça-feira, 13 de março de 2007

 

A Licença de Construção



O site noticioso «Ananova» conta que na China uma empresa imobiliária planeia construir na cidade de Chongqing um gigantesco empreendimento que inclui uma imensa praça estilo «Broadway», diversos apartamentos e um centro comercial.

Mas as coisas começaram a correr mal quando o proprietário de uma casa situada mesmo no centro do projectado empreendimento se recusou a vendê-la por um preço inferior a cerca de 1 milhão e 900 mil euros.

E então a empresa imobiliária não foi de modas: resolveu avançar com os trabalhos e escavou os terrenos à volta que já são seus, deixando ao teimoso proprietário a sua casa plantada numa bela ilha no meio das obras, ainda na esperança de o convencer a mudar de ideias.

Mas estou convencido de uma coisa: esta imaginativa empresa imobiliária chinesa não deve ter começado a executar um empreendimento desta envergadura sem obter primeiro uma licença de construção perfeitamente legal por parte da Câmara Municipal lá do sítio.

É tal e qual como em Lisboa...


 

De Rerum Natura



«O poeta latino Tito Lucrécio Caro, que viveu no século I a.C., escreveu um único livro: o poema De Rerum Natura.
«Nele defende a teoria atomista (Demócrito já tinha dito antes «Tudo no mundo é átomos e espaço vazio») mas fala, além de coisas da física e da química, de muitas outras coisas: biologia, psicologia, filosofia, etc.

«O blog que partilha o título com o poema de Lucrécio falará também de várias coisas do mundo, procurando expor a sua natureza. Partirá da realidade do mundo (o nosso mundo, feito de átomos e espaço vazio) para discutir o empreendimento humano da descoberta do mundo, que é a ciência, e as profundas implicações que essa descoberta tem para a nossa vida no mundo».


Este é o manifesto do novo Blog «De Rerum Natura», onde escrevem Carlos Fiolhais, Desidério Murcho, Helena Damião, Jorge Buescu, Paulo Gama Mota, Sofia Araújo e, claro está, Palmira F. da Silva.


segunda-feira, 12 de março de 2007

 

A Limpeza Espiritual



O site noticioso «News 24» relata que na cidade alemã de Konstanz um vidente foi condenado a três anos de prisão depois de ter burlado uma família a quem conseguiu extorquir todos os seus bens e deixou na mais completa miséria.

Este aldrabão (que já tinha cadastro por ter feito o mesmo a uma crédula viúva há mais de uma década), conseguiu mais uma vez os seus intentos convencendo esta família que estava afectada por uma doença causada por uma misteriosa «maldição» que exigia uma «limpeza espiritual».


Enquanto isso, em Portugal, os colegas deste aldrabão sem escrúpulos continuam impunemente a fazer o mesmo e a aproveitar-se da credulidade e da situação de fragilidade emocional ou psicológica das pessoas para as burlar, extorquindo-lhes sem qualquer remorso autênticas fortunas e enriquecendo como nababos.

E os exemplos e os nomes já famosos não faltam, desde os nacionais «professores» Bambo ou Karamba, a Paulo Cardoso, Maya, Cristina Candeias, Alexandra Solnado, etc., etc., aos «multinacionais» Uri Geller, Sylvia Browne ou John Edwards.

Pois o despudor é tal, que alguns deles até se exibem garbosamente na televisão, anunciam-se em jornais e publicam livros onde se arrogam misteriosos poderes psíquicos e «paranormais» e até que passam as tardes a falar com Jesus Cristo, todos eles procurando uma projecção mediática e uma fama que lhes permita aumentar o preço das consultas, e assim enriquecerem mais depressa a impingir as mais vergonhosas patranhas às pessoas.

Um dia virá em que a «A.S.A.E.», a já famosa «Autoridade de Segurança Alimentar e Económica», acabe de fiscalizar a qualidade da comida nos restaurantes chineses ou de averiguar a origem legal das camisas «Lacoste» na Feira do Relógio, e se passe a dedicar também a uma verdadeira «limpeza espiritual», investigando finalmente as actividades destes autênticos criminosos...


sábado, 10 de março de 2007

 

O Fim da Fé



Sam Harris é o autor de «The End of Faith», um dos mais famosos best sellers dos últimos tempos.
Em resposta a esse livro, Sam Harris recebeu milhares de cartas chamando-lhe tudo e mais alguma coisa por não acreditar em Deus.

«Letter to a Christian Nation» é a resposta a essas reacções, onde Sam Harris denuncia a influência que a fé religiosa tem na vida pública de todos os países, e em cujo prefácio afirma:

«Forty-four percent of the American population is convinced that Jesus will return to judge the living and the dead sometime in the next fifty years.
«According to the most common interpretation of biblical prophecy, Jesus will return only after things have gone horribly awry here on earth. It is, therefore, not an exaggeration to say that if the city of New York were suddenly replaced by a ball of fire, some significant percentage of the American population would see a silver lining in the subsequent mushroom cloud, as it would suggest to them that the best thing that is ever going to happen was about to happen—the return of Christ.
«It should be blindingly obvious that beliefs of this sort will do little to help us create a durable future for ourselves—socially, economically, environmentally, or geopolitically.
«Imagine the consequences if any significant component of the U.S. government actually believed that the world was about to end and that its ending would be glorious. The fact that nearly half of the American population apparently believes this, purely on the basis of religious dogma, should be considered a moral and intellectual emergency.
«The book you are about to read is my response to this emergency...»


Sobre «Letter to a Christian Nation», Richard Dawkins, autor de livros como «O Gene Egoísta» ou «The God Delusion», afirmou:
«I dare you to read this book…it will not leave you unchanged. Read it if it is the last thing you do».

Nos quatro filmes abaixo, gravados em Novembro de 2005, Sam Harris fala precisamente do seu livro «The End of Faith».

Os quatro filmes têm a duração total de 1 hora e 20 minutos.
Mas o «investimento» justifica-se plenamente: trata-se de uma palestra absolutamente magnífica, uma espantosa lição que toda a gente deveria ver.

Mas uma lição que, estou certo, muita gente não terá coragem de seguir até ao fim...

1:



2:



3:



4:



sexta-feira, 9 de março de 2007

 

O Anticristo: pacifista, ecologista e ecuménico



É já tradição olhar para o prelado escolhido para conduzir o retiro da Quaresma no Vaticano para prever as modas políticas emanadas de Roma.

Como nota Rocco Palmo, o perito no Vaticano do semanário católico The Tablet, «Desde tempos imemoriais (...) que a escolha do prelado tem sido um indicador dos ventos prevalecentes nos apartamentos papais» relembrando que quer Joseph Ratzinger quer Karol Wojtyla foram escolhidos para dirigir o retiro.

Assim sendo, a escolha de Bento XVI é no mínimo preocupante. De facto, o pregador dos exercícios espirituais da Quaresma, o cardeal Giacomo Biffi, arcebispo de Bolonha de 1984 a 2003, é no mínimo um personagem ...er... desajustado.
O arcebispo, conhecido pela sua fixação com os muçulmanos e com o Anticristo, que assevera já andar entre nós, publicou em 2005 um livro sobre este último mito, «Pinocchio, Peppone, l’Anticristo e altre divagazioni», com referências profusas a um filósofo e poeta russo, que viveu entre 1853 e 1900, Vladimir S. Soloviev.

Autor a que recorreu na sua admoestação à cúria da Quaresma, «a advertência profética de Vladimir S. Soloviev» em que avisa que «o anticristo se apresenta como pacifista, ecologista e ecuménico».

O eleito por Bento XVI para a pregação da Quaresma, que advertiu a Cúria contra os perigos do ecumenismo, uma artimanha do dito anticristo para destruir o cristianismo, explicou na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico do Vaticano, que é preciso estar atento na luta contra o relativismo.
Nomeadamente denunciando «valores relativos, como a solidariedade, o amor pela paz e o respeito pela natureza» que instigam à «idolatria» e põem «obstáculos no caminho da salvação».

As advertências de Biffi's ecoam as reflexões de Bento XVI expressas no Outono passado num encontro com os bispos suiços, em que o Papa advertiu os presentes contra a nova falsa religião, um conjunto de falsos temas morais como sejam «a paz, a não violência, justiça para todos, preocupação com os pobres e respeito pela Natureza».

Aliás, a denúncia de preocupações com o ambiente como sendo manifestações satânicas destinadas a desviar as atenções da «verdade absoluta», os delírios neolíticos conhecidos como Evangelhos, não é exclusiva dos fundamentalistas católicos.
De facto, Jerry Falwell, o fundador da Moral Majority que conseguiu trazer para a ribalta da política norte-americana teocratas sortidos, denunciou os servos do Demo disfarçados de ecologistas que aldrabam bons evangélicos com a história do aquecimento global, «a maior fraude na história da ciência».

Falwell, que acredita que a única «ciência» séria está inscrita na Bíblia, cita o Salmo 24:1-2 e Genesis 8:22, «Enquanto a terra durar, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite» para afirmar que apenas «pseudo-cientistas» e inimigos dos Estados Unidos promovem este alarmismo «ateu»...

Para além dos cientistas, equivalentes a terroristas no léxico papal, ficamos assim a saber quais são os grandes inimigos da fé segundo Bento XVI: os que têm pretensões satânicas de justiça social, os pacifistas e os ecologistas.
É sempre bom saber quais serão os novos «pecados» e os novos «inimigos» para a Igreja de Roma e para os cristãos...

- Um artigo de Palmira F. da Silva

terça-feira, 6 de março de 2007

 

Uma entrevista com Richard Dawkins



Neste pequeno excerto de uma entrevista, de pouco menos de 10 minutos, Richard Dawkins fala de religião, de fé e de ateísmo e agnosticismo.

Fala de crianças abusivamente rotuladas como pertencentes a uma religião e fanatizadas por uma «fé» que lhes ensinam que é «uma virtude» que deve ser interpretada literalmente e prevalecer sobre tudo, aconteça o que acontecer.

Fala também de mais de 42 estudos publicados na revista da «Mensa» que demonstram que existe uma directa correlação entre o QI e o nível de instrução de uma pessoa e o ateísmo.

E conclui:
«The more intelligent and educated you are, the more likely you are to be an atheist».




 

Um legado delirante



A leste de Santa Fé fica situado um dos locais mais bizarros do planeta, situado perto da pacata comunidade de Trementina, onde vivem cerca de 200 pessoas.

Uma vista aérea da zona revela uns géoglifos geométricos deveras estranhos, que poderiam passar por símbolos inscritos pelos índios Nasca (entre III AEC e VIII) no planalto do mesmo nome no Peru.

A origem destes símbolos gravados a bulldozer na encosta da montanha no deserto tem uma origem mais recente e é na realidade um monumento à estupidez e cretinice que só a religião pode induzir.
O geóglifo é o símbolo oficial de uma corporação da Igreja da Cientologia designada como Church of Spiritual Technology e, de acordo com um artigo do Washington Post de 2005, identifica a propriedade como um local apropriado para os portais de regresso das viagens no espaço-tempo de cientologistas do futuro, grandes navegantes das estrelas...

Perto destes símbolos existem mansões multimilionárias para retiros «espirituais» dos membros da Igreja da Cientologia, aqueles que acreditam nas balelas (vídeo de vinte minutos abaixo) inventadas pelo medíocre escritor de ficção científica L. Ron Hubbard.
Perto destas mansões, conhecidas dos devotos como San Miguel Ranch ou simplesmente The Ranch, fica localizado um gigantesco bunker desenhado para sobreviver a um ataque nuclear.
Esta rede de túneis revestidos a aço, mostrados em 1998 pelo programa “20/20” , albergam para a posteridade - em caixas de titânio - os dislates que saíram da pena do inventor da Dianética, religiosamente gravados em aço e a voz do vendedor de banha da cobra registada em níquel.

Hubbard, um escritor de space operas de quinta categoria combinou o seu interesse em ficção científica com o «oculto», debitando em 1950 o livro base da religião mui lucrativa que inventou, Dianetics: The Modern Science of Mental Health.
O livro afirma que todos os problemas, mentais e físicos, que afligem a humanidade são causados por traumas ou 'engrams' (memórias dolorosas) que devem ser erradicados da mente reactiva conjuntamente com os espíritos que a infectam (Body Thetans, os tais que vagueiam aos magotes pela Terra após o controle de população efectivado pelo malvado comandante da Federação Galáctica Xenu há 75 milhões de anos).

Estes traumas só podem ser ultrapassados com o auxílio de um “auditor”- um conselheiro «espiritual» pago a peso de ouro, que com o auxílio de um “E-meter,” mede a energia negativa na alma ou Thetan. Isto é, apenas a Cientologia é a «salvação» do 'Thetan' (espírito imortal), permitindo ao crente atingir o estado de OT (Operating Thetan), estado em que supostamente adoece raramente, é menos propenso a acidentes, tem memória total, QI superior a 135, imaginação criativa, vitalidade extraordinária, personalidade magnética, bom auto-controlo, etc.
Alguns ex-adeptos da seita relatam que membros OT's reclamam poder «voar» e «matar apenas com um pensamento».

Claro que não é barato chegar a este estado de «graça» OT, apenas possível pela frequência de inúmeros cursos da Igreja da Cientologia, a única competente para proceder à «limpeza» espiritual da pessoa, que «oferece» aos seus crentes um plano total de cura de custo astronómico.

Como em todas as religiões, as dúvidas não são bem-vindas dentro da Cientologia. Quem faz objecções é catalogado como subversivo, podendo mesmo ser considerado «Pessoa Supressiva», contra quem, não obstante as objecções inconvincentes de que é uma prática abandonada, tudo é válido, inclusive essa «Pessoa Supressiva» ser «privada dos seus bens ou ofendida impunemente, por todos os meios e por qualquer cientologista, podendo também ser vigarizada, atacada, ludibriada e destruída».
Hubbard chamava a esta táctica «Fair Game» (Jogo Limpo).

Para além deste legado de paranóias e tácticas de extorsão dos mais crédulos ( ou pouco dotados em termos de capacidade intelectual, as patetadas inventadas por Hubbard são tão cretinas que é necessário um défice de intelecto muito grande para se acreditar em semelhante monte de disparates), os devotos de Hubbard garantiram em Trementina que os dislates do fundador da seita sobreviverão até a um ataque nuclear.

Arrepia imaginar um Carter do futuro a explorar o legado «inestimável» encontrado nos túneis do Novo México e pensar quão limitados eram os seus antepassados que acreditavam nas tretas guardadas com tanto cuidado em envólucros de titânio...

- Um artigo de Palmira F. da Silva

segunda-feira, 5 de março de 2007

 

E vão cinco!



Os ex-padres católicos Richard Sipe, Thomas Doyle e Patrick Wall, que escreveram o livro «Sex, Priests and Secret Codes: The Catholic Church's 2,000-Year Paper Trail of Sexual Abuse», mais concretamente Sipe, um psicoterapeuta, afirma que a investigação que os três autores conduziram lhes permitiu concluir que 9% dos padres americanos dos últimos 50 anos abusaram sexualmente de menores.

Assim, não é de espantar que mais de uma dúzia de arquidioceses americanas tenham considerado a declaração de falência na sequência de milhares de acusações de pedofilia perpetrada por padres e outros eclesiásticos da ICAR – cerca de 10 000 em todos os Estados Unidos -, embora algumas tenham conseguido escapar à falência apenas com ameaças.
Por exemplo, a arquidiocese de Dallas ameaçou declarar falência e conseguiu baixar de 119 para 23 milhões de dólares as indemnizações devidas às vítimas do clero texano.

Menos sorte teve a diocese de San Diego, que acabou de abrir falência ao falhar uma tentativa análoga de resolução de 150 casos de abuso sexual de menores envolvendo 60 padres.

San Diego junta-se assim a mais quatro delegações locais da Igreja de Roma que declararam falência na sequência do escândalo da pedofilia que abalou o catolicismo americano no início de 2002: a arquidiocese de Portland no Oregon e as dioceses de Spokane – Washington -, Davenport – Iowa - e Tucson - Arizona.

De acordo com o bispo Robert H. Brom, a diocese optou pelo capítulo 11 da lei da falência americana para evitar que as indemnizações pedidas esgotassem os recursos disponíveis e outras vítimas de clérigos pedófilos ficassem assim sem possibilidade de serem compensadas.
Diria que é uma boa desculpa mas que não creio plausível. Isto é, há certamente mais vítimas mas não acredito que pela primeira vez um responsável católico pense nas vítimas e não nos cofres da Igreja.

Especialmente depois de William Skylstad, o presidente da Conferência episcopal americana, na linha de Bento XVI ter ignorado as vítimas reais dos abusos, as crianças brutalizadas, apresentando a Igreja como uma vítima inocente no escândalo da pedofilia...

- Um artigo de Palmira F. da Silva

 

O Tubo de Deus



Não há qualquer dúvida que uma das mais fantásticas inovações trazidas à Internet foi o «YouTube».
Não é de estranhar, por isso, que comecem já a proliferar sucedâneos com mais ou menos sucesso.

Claro está que o primeiro a aparecer (e que aqui fica desde já devidamente linkado para quem o quiser consultar, tudo com objectivos meramente científicos, claro está) foi o «PornoTube» que, como o próprio nome indica se dedica exclusivamente à pornografia.

Dentro do mesmo registo, apareceu agora o «GodTube».
Como também é bom de ver, este fantástico site «usa a Internet como base tecnológica para a união dos cristãos com o objectivo de encorajar e espalhar o evangelho por todo o mundo».

Então, respigado ao acaso, encontrei um fabuloso vídeo (clicar sobre a imagem à direita) em que um tal Charley consegue explicar em pouco mais de quatro minutos a diferença que, do ponto de vista de um imbecil, existe entre o Criacionismo e o Evolucionismo.

Um filme que é uma lição de vida e que é, de facto, absolutamente imperdível.

Imperdível principalmente por todos aqueles que com o tal
Charley partilham a mesma religião...

 

Fundamentalistas católicos na União Europeia



O dia 5 de Maio (de 2006) não foi na Polónia um dia de celebração.
De facto, depois do LPR (Liga das famílias polacas, extrema-direita ultra-católica) ter integrado a coligação governamental, neste dia foram nomeados ministros dois fanáticos, Andzej Lepper e Roman Giertych, o último ministro da Educação e vice primeiro ministro.

Roman Giertych é o presidente honorário de uma organização neo-nazi, a All-Polish Youth, que reformou (isto é, refundou) em 1989, na mesma linha que a tornou célebre nos anos 30, anti-semitismo primário.

O Cleveland Jewish News resume o curriculum da organização :
«A All-Polish Youth é a juventude da LPR, um partido que acredita que a Igreja Católica deve ter um papel central no governo, suspeita do capital estrangeiro e de estrangeiros em geral, é assumidamente homofóbica e está associada a um anti-semitismo do tipo do existente nos anos 30».

Roman Giertych e o irmão Fr Wojciech Giertych, o actual teólogo de Bento XVI, constituem a quarta geração de uma linha de nacionalistas católicos, fundamentalistas versão acéfalos criacionistas, e anti-semitas, iniciada pelo seu bisavô Franciszek, continuado pelo avô, Jędrzej, que o historiador Norman Davies chamou um «anti-semita profissional» e culminando no pai, Maciej.
Este último, na sua curta história no Parlamento Europeu, já causou celeuma com um louvor ao ditador católico Franco e à Guerra Civil espanhola, pelo guerra à evolução e mais recentemente com um folheto profundamente anti-semita, «Civilizações em guerra na Europa» (aqui podem ver o dito lixo em formato pdf).

Maciej ulula que não é racista já que os judeus não são uma raça, logo anti-semitismo não é equivalente a racismo.
Acho especialmente interessante que no meio de dislates sortidos e da visão à la Bento XVI da superioridade da civilização cristã, escreva no dito folheto que «o problema com esta gente é que ainda esperam o Messias quando toda a gente sabe que ele apareceu há 2000 anos em Jerusalém. Os judeus sofreram pela sua cegueira religiosa desde então».

Devido às suas convicções fundamentalistas mesmo a opinião pública polaca não aceitou de bom grado a nomeação do homofóbico, anti-semita e criacionista Roman.
Os dias seguintes à sua nomeação viram milhares de polacos nas ruas, essencialmente estudantes universitários e professores, protestando a sua nomeação, de Varsóvia a Cracóvia.

Um dos cerca de 2.000 estudantes, a estudante de sociologia Dominika Blachnicka, que protestavam a nomeação do fundamentalista católico, de acordo com a Bloomberg, afirmou:
«A All-Poland Youth usa slogans intolerantes, racistas e anti-semitas. [Giertych como minstro da Educação] é a realização do meu pior pesadelo».

Umas semanas depois, uma petição com cerca de 140 000 assinaturas pedia a sua remoção do cargo. A oposição pública ao devoto católico continua até hoje, não obstante Giertych ter prometido não introduzir os seus ideais católicos no sistema educacional polaco.

E na realidade a promessa foi de curta duração já que um escassos meses depois da nomeação de Roman o ministério da Educação polaco iniciou as hostilidades contra, claro, o evolucionismo com a afirmação por parte de Miroslaw Orzechowski, vice-ministro da Educação, que o evolucionismo é uma mentira, «uma história de carácter literário que poderia servir de guião a um filme de ficção científica».

A tentativa de introdução do criacionismo cristão nos curricula científicos polacos era apenas expectável já que o pai de Roman, o tal eurodeputado anti-semita Maciej Giertych, é um dos mais vocais criacionistas europeus.
Maciej, um botânico que contribui regularmente para a atrasadice mental que dá pelo nome Answers in Genesis, debita pérolas como «A evolução não é uma conclusão retirada de observações. É uma ideologia [do Demo]».
Na introdução do livro «Creation Rediscovered», de Gerard J. Keane, tem um assomo de lucidez e explica porque é necessário impingir o criacionismo: «para salvar o cristianismo».

A carta com os delírios criacionistas puros e duros – Maciej acredita piamente não só que o Neanderthal anda no meio de nós como terem os dinossauros e o homem coexistido – que o devoto católico escreveu à Nature em Novembro último foi seguida de inúmeros protestos e manifestações de vergonha por parte de cientistas polacos (e não só).

Com esta breve apresentação não é de espantar que o devoto Roman, que apresenta todas as virtudes católicas em elevado grau, seja igualmente um paladino de óvulos, espermatozóides e da família «tradicional».
Assim, depois de o pai escandalizar os colegas no parlamento europeu com o seu folheto anti-semita e com uma série de seminários anti-evolução, foi a vez do filho merecer as críticas europeias quando considerou que a futura Constituição Europeia deve incluir uma Carta dos Direitos das nações europeias que defenda os valores essenciais da UE – os dogmas católicos para o devoto Roman - como sejam a identidade nacional, a proibição absoluta do aborto (inaceitável mesmo quando está em risco a vida e a saúde das pecaminosas Evas ) e da concessão de quaisquer direitos a homossexuais, a que chamou «propaganda homossexual».

Com este exemplo dos extremos a que o fundamentalismo católico, mesmo dentro da UE, pode chegar, continua a mistificar-me que alguns crentes nacionais insistam que o problema do fundamentalismo islâmico se resume à parte islâmico.
E que o fundamentalismo católico é um fundamentalismo «bom» porque católico.
Combater o fogo com o fogo como pretendem os fanáticos cristãos, nomeadamente Bento XVI, ou seja, combater o fundamentalismo islâmico com fundamentalismo cristão, destruiria qualquer esperança de paz, democracia e tolerância neste conturbado planeta...

- Um artigo de Palmira F. da Silva

domingo, 4 de março de 2007

 

As Fantásticas Premonições de Paulo Portas





sábado, 3 de março de 2007

 

O Deus do Antigo Testamento



Neste pequeno filme de 36 segundos pode ser vista uma sumária definição de Richard Dawkins do Deus do Antigo Testamento.

Mas não é esse também, afinal, o mesmo Deus do Novo Testamento?....



 

Declaração de Bruxelas



A «Associação Cívica República e Laicidade» está presentemente a subscrever a «DECLARAÇÃO DE BRUXELAS», um documento que, decorrendo da iniciativa conjunta das associações International Humanist and Ethical Union (IHEU), European Humanist Federation / Fédération Humaniste Européenne (EHF-FHE) e Catholics for a Free Choice, já motivou a adesão de muitas outras agremiações cívicas europeias, bem como de inúmeros cidadãos a título individual.

Trata-se de um texto que, redigido em termos muito abrangentes, visa congregar esforços dos cidadãos europeus no sentido da afirmação e da defesa dos valores seculares e laicos da Europa, designadamente no âmbito de uma (previsivelmente) próxima iniciativa de retoma do projecto de dotar a União Europeia com uma Constituição Política.

Assim, todos aqueles que partilham dos valores humanistas, claramente emancipadores dos indivíduos e das sociedades que aquele texto claramente sustenta poderão também subscrever a título individual a «Declaração de Bruxelas» acendendo a este site em língua portuguesa, ou ainda ao site da «Associação Cívica República e Laicidade», onde também pode ser ncontrada a «Carta Europeia da Laicidade».

sexta-feira, 2 de março de 2007

 

Not Enough Evidence!



No filme abaixo pode ver-se a extraordinária entrevista concedida por Richard Dawkins a William Crawley no dia 20 de Fevereiro de 2007 na BBC.

Absolutamente brilhante!
Tanto, que tenho a certeza que muito boa gente não terá coragem de a ver até ao fim...




Mas, já agora, uma pequena explicação sobre o título deste post:
Como é relembrado por Richard Dawkins perto do final da entrevista, perguntaram um dia a Bertrand Russell o que diria ele se um dia, depois de morrer, lhe aparecesse Deus e lhe perguntasse:
- Porque não acreditaste em mim?
Ao que Bertrand Russell respondeu:
- Dir-lhe-ia: not enough evidence, God! Not enough evidence!


 

A sociedade está a emancipar-se da Igreja



A excelente entrevista de Moisés Espírito Santo à «Visão».


Catedrático da Universidade Nova de Lisboa, Moisés Espírito Santo é uma das sumidades nacionais em Sociologia das Religiões, Sociologia Rural Aprofundada, Sociologia da Vida Quotidiana e de Etno-Sociologia das Sociedades Mediterrânicas.
Além da sua obra de referência, A Religião Popular Portuguesa, e de inúmeros artigos e ensaios em revistas científicas, é autor de autor de mais dezena e meia de livros – incluindo o Dicionário Fenício-Português com10 000 vocábulos das línguas e dialectos falados pelos Fenícios e Cartagineses desde o século XXX a.C..

O resultado do referendo de dia 11 pode ser interpretado como uma perda de influência da igreja católica na nossa sociedade? A sociedade é agora mais laica ou, ao votar no «sim», a atitude do votante foi mais funcional e pragmática do que de convicções religiosas?

- A Igreja Católica já não vinha a ter a influência que tivera outrora sobre os votos dos católicos, desistindo de entrar em lice.
Agora foi o princípio da moral católica – imposta por lei a todos – que se afundou. Até porque, entre os que se dizem católicos e os que praticam de facto o catolicismo (entenda-se a prática dos 7 sacramentos «indispensáveis para a salvação» segundo a Igreja), a diferença é enorme: 80% dos portugueses dizem-se católicos, enquanto apenas entre 15 a 20 % praticam.
Isto quer dizer que a sociedade se vai autonomizando da moral e da dogmática católicas (sem deixar, eventualmente, de ser cristã). Esta votação foi um combate entre a moral católica e a moral laica. A Igreja empenhou-se totalmente no «não» (com os seus políticos confessos ou discretos e com todas as suas instituições, da Opus Dei aos movimentos paroquiais).
Desde há anos que vinha a preparar-se, discretamente, contra a IVG. Alguns párocos ou confessores vinham ameaçando de que recusariam a comunhão e o enterro católicos aos crentes favoráveis ao aborto.
Mas, porque a ameaça de excomunhão já não resulta, a hierarquia dizia distanciar-se desses «excomungadores» que, aliás, se baseavam no Código de Direito Canónico que é a lei obrigatória da Igreja Católica (para o aborto, nºs. 2270-2274 do Catecismo). Os «excomungadores» até têm razão, «lei é lei ou mude-se a lei».
Já não resultando a excomunhão, o único slogan com alguma eficácia em que a Igreja se empenhou a fundo foi a «defesa da Vida». O aborto é proibido «desde a concepção», diz o Catecismo e disse a propaganda do «não»; mas, confundir o princípio de vida existente num óvulo com a vida humana é um disparate científico que qualquer pessoa reconhece.
O que a sociedade portuguesa demonstrou nas urnas (com muito atraso relativamente à Europa) é que ela se está a emancipar da moral católica (veja-se a percentagem de católicos que se divorciam) e que se laiciza, sem deixar de ser expressamente cristã: «A César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mateus 22-21), isto é, à Ciência o que é o seu domínio e a Deus o que releva da Fé duma consciência esclarecida.

Podemos falar num poder político, crescentemente laico?

- Vamos. É a força da modernidade globalizante e da democracia. Se os políticos quiserem ser verdadeiramente «modernos», «democráticos» e «europeus» têm de legislar independentemente dos ditames duma religião ou Igreja (por mais dignas de respeito que sejam).
As sociedades modernas recusam que uma igreja imponha os seus critérios morais, matrimoniais e sexuais a toda a sociedade, longe da Inquisição em que ela tinha o monopólio das fórmulas de religião e de moral matrimonial e sexual.

No seu entender, em que domínios da sociedade e da esfera pública é que ainda existem ainda «bastiões» da igreja católica?

- No conceito tradicional de família. É aí que a Igreja Católica se entrincheira para manter a sua influência social (diferentemente doutras igrejas cristãs).
Mas também está a perder. A sociedade reproduz-se pelo triângulo pai-mãe-filhos, uma lei biológica e universal que implica a afectividade. O problema é que há tantos modelos de família e tantas constelações de afectos como culturas e sub-culturas.
O conceito católico de família fundada numa união heterossexual e indissolúvel não é bíblico (a família bíblica era poligâmica, não era triangular e era patriarcal); nem é crística (Jesus nunca se referiu à organização familiar nem à sexualidade).
A concepção católica de «família cristã» (triangular e indissolúvel) é posterior à Idade Média.
Pretender estender a todo o universo, na modernidade, uma única concepção de família (casal indissolúvel, afectos restringidos a este casal e respectivos filhos, adopção dentro deste casal indissolúvel, etc.) é uma ilusão etnocêntrica e uma prepotência cultural (muito pouco cristã).
Porque é que a Igreja se entrincheira aí? Porque é o único modelo familiar que garante a reprodução do catolicismo tradicional que, este, não necessita de conversão individual e se reproduz, exclusivamente, de pais para filhos, num meio familiar triangular e indissolúvel.
Enquanto isto, o cristianismo original, evangélico ou protestante, é individualizante e alheio às pressões da organização afectiva familiar.

A sociedade portuguesa está preparada e aberta para se lançar a discussão em torno de questões como a eutanásia, a criação de embriões para aproveitar células estaminais com fins terapêuticos e de investigação, os casamentos gay e a adopção por casais homossexuais?

- A sociedade portuguesa está preparada para aceitar toda a informação científica, sociológica e humanista. A Escola e os «média» também servem para isso.
A percentagem de gente analfabeta e incapaz de perceber a informação já é diminuta. O problema é a manipulação moralista.
Mas há o princípio do «direito universal à felicidade» que é consensual. A investigação científica, a eutanásia e o casamento entre pessoas do mesmo sexo entram neste «direito universal à felicidade».
A união gay choca contra o casamento tradicional? Mas o valor da virgindade das noivas também caducou e o direito ao divórcio (condenado pela Igreja) já é consensual.
A Igreja Católica poderá excomungar o casamento gay mas fá-lo à revelia de Jesus Cristo que nunca se referiu ao casamento e à sexualidade, enquanto o sacramento católico do matrimónio («indispensável para a salvação» dos amantes e progenitores) data do séc. XII.
Se as explicações científicas prevalecerem sobre a moral (que é um produto histórico e relativo), se se avançar o «direito de todos à felicidade» (sem prejuízo de ninguém) e se a sociologia do casamento for bem explicada, toda a sociedade aceitará essas reformas, quer a hierarquia eclesiástica queira ou não.

A Igreja cairá na tentação de tentação de cerrar fileiras para não deixar passar estas questões?

- No nosso tempo ninguém se pode opor à Ciência nem ao «direito de todos à felicidade».
Lembro que a Igreja Católica se opôs à dissecação de cadáveres (hoje autópsias) até ao séc. XVIII. Até ao séc. XX excomungou os que se propunham à cremação.
E cedeu imenso à laicidade dos Estados depois da Encíclica Sylabus (1864) que condenou o socialismo, republicanismo, o livre pensamento, a liberdade religiosa, a difusão da Bíblia?
Quem pode recusar o princípio da «Ciência para a Vida»? Ou que alguém queira morrer em paz e sem sofrimento? Ou que duas mulheres ou dois homens tenham os mesmos direitos que os outros de serem felizes sem prejudicar ninguém?
Só por inveja e sobranceria (que são anti-cristãs!...).
A hierarquia pode cerrar fileiras contra essas causas justas mas a sociedade informada com os argumentos científicos e sociológicos não a seguirá.

No plano político, para o PS a «causa» acabou com o aborto ou pensa que a maioria parlamentar estará disposta a «comprar» outras guerras?

- Não estou dentro dos planos do PS. No entanto, se ele se propõe modernizar o País não deixará para trás estas questões iniludíveis da modernidade.
São questões que não custam dinheiro, dão boa imagem ao País, favorecem a tolerância e a integração social, satisfazem as minorias e não prejudicam ninguém.
Felicidade sem custos!
Porquê e onde «comprar» outras guerras? Para «guerras», a questão económica basta.
Que melhores «bandeiras» pode deixar na História um partido do que resolver essas questões «fracturantes» que favorecem a solidariedade nacional e sem custos económicos?

Os resultados do referendo vão obrigar os partidos de direita a reflectir sobre a forma como encaram as chamadas questões «fracturantes»?

- Os partidos da direita já estão a reflectir sobre o modo de fazer oposição. Veja-se as posições de alguns membros insignes do PSD como José Júdice que até já se questionam sobre a utilidade do seu partido!
Se não melhorarem, desaparecem.
Depois da derrota do «não», que justificações podem encontrar o PSD e o CDS quando o seu eleitorado constatar que o «sim» só melhorou a condição das mulheres e que o respeito pela Vida ficou incólume?
Fazer oposição não é apenas ser «do contra». O eleitorado espera que os partidos resolvam, pelo melhor, as questões «fracturantes» e respondam, pelo melhor, ao movimento inelutável da maré da modernidade.
A História está repleta de memórias de partidos que morreram por se tornarem inúteis.
Nós sabemos que o eleitorado português nem sempre se tem regulou pela reflexão individual: seguia os chefes carismáticos, premiava a «imagem» em menosprezo dos méritos e das realizações, mas isso está a acabar.
O «sim» ao aborto é o começo duma nova atitude, entre nós, de o eleitorado decidir pelo pragmatismo e não pelo carisma dos chefes tradicionais.


quinta-feira, 1 de março de 2007

 

Défice de Inteligência



A proposta de lei sobre o aborto foi já apresentada na Assembleia da República.
A proposta, muito equilibrada e moderada, propõe um período de reflexão de três dias e a criação de um registo nacional de médicos objectores de consciência. Em relação ao acompanhamento este é facultativo.
Como disse José Sócrates, «o acompanhamento é um direito da mulher, não um dever» e é apenas necessário garantir que «se [a mulher] achar que necessita dele, ele estará disponível».

Como era expectável, a Igreja Católica, depois de perder nas urnas o referendo, quer ganhá-lo na secretaria e não se conforma com a proposta de lei.
Assim por intermédio de Isilda Pegado ulula estridentemente que «esta lei vem contra aquilo que foram as promessas eleitorais».

Se bem me lembro, e eu andei activamente em campanha, o SIM fez campanha, contra todas as falácias e mentiras do NÃO, pela despenalização da IVG, até às 10 semanas, por opção da mulher em estabelecimento autorizado de saúde. E diria que é isso que está regulamentado nesta proposta.
Se a mulher tiver dúvidas em relação à sua opção tem à sua disposição todo o acompanhamento que desejar, se não as tiver não faz sentido abrigá-la a um acompanhamento indesejado.
Mas a opção final deve ser da mulher não de qualquer comissão de dissuasão!

Mas, como ironiza Fernanda Câncio num post absolutamente imperdível no Glória Fácil, «a dra isilda pegado considera que quem defendeu, na campanha para o referendo, a despenalização do aborto até às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado, não pode estar agora a querer possibilitar a realização legal de abortos às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento legalmente autorizado.»

Para além de considerar que as portuguesas são débeis mentais sem capacidade de decisão autónoma que devem ser obrigatoriamente dissuadidas da sua opção por uma IVG, Isilda Pegado considera que «três dias são ‘uma brincadeira’», provavelmente querendo um período de reflexão de, sei lá, pelo menos 2 semanas.

Considerando que durante a campanha a devota católica jurava a pés juntos que nenhuma mulher sabia estar grávida antes das 8 semanas, diria que duas semanas seria o prazo mínimo «consensual» para os fundamentalistas do NÃO!

Não deixa ainda de ser curioso que Isilda Pegado considere «gravíssimo» e um «estigma» - não uma honra - a existência de uma lista de objectores de consciência e sugira uma lista «dos médicos que fazem aborto».
Quiçá para os denunciar como «assassinos» num site de defesa intransigente da vida como alguns análogos norte-americanos

Nunca deixará de me surpreender a desonestidade intelectual e o totalitarismo dos fundamentalistas católicos que depois de derrotados nas urnas na sua pretensão de impor a todos a (i)moral de alguns, pretendem agora ser «obrigação do Estado» fazê-lo!


- Um artigo de Palmira F. da Silva

 

Atirem-me água benta – III



Dia 19 de Fevereiro o primeiro-ministro italiano Romano Prodi teve uma reunião no Vaticano com o secretário de estado, Tarcisio Bertone, em que discutiu o execrado (pelo Vaticano) projecto de lei, já aprovado na câmara dos deputados do parlamento italiano, que reconheceria alguns direitos civis às uniões de facto.
O encontro decorreu no âmbito do aniversário do tratado de Latrão, celebrado entre Pio XI e Benito Mussolini em 11 de Fevereiro de 1929, que reconheceu o Vaticano como um Estado dentro de um Estado.

À saída do encontro, que contou mais tarde com a presença de outros membros do governo italiano e dignitários católicos, incluindo o presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Camillo Ruini, o gabinete de Prodi declarou que as conversações «cordiais e serenas» ajudaram a «fortalecer» as relações Itália-Vaticano.

Dois dias depois, a 21 de Fevereiro, Prodi demitiu-se do cargo, surpreendente e desnecessariamente, como resultado de uma derrota no Senado em questões de política externa, nomeadamente referentes ao envolvimento italiano na força da Nato no Afeganistão.
Aparentemente por uma deserção da extrema-esquerda, na realidade pela abstenção (ou ausência) de sete senadores vitalícios.
Os dois mui irrelevantes senadores comunistas terão certamente ficado muito surpreendidos com as aparentes consequências do seu voto contra. Tão surpreendidos quanto verem a abstenção do representante da Confindustria (o patronato italiano) Sergio Pininfarina, e dos «representantes» do Vaticano, o devoto ex-presidente Francesco Cossiga e o democrata-cristão Giulio Andreotti... O timing, as circunstâncias da demissão de Prodi e os desenvolvimentos seguintes merecem uma inspecção mais aprofundada.

Assim, Prodi reúne-se com representantes do Vaticano na segunda-feira para discutir um projecto de lei rejeitado pela ICAR e que seria aprovado no Senado na quarta-feira.
Prodi demite-se nessa quarta-feira, apesar de tal não ser exigido na Constituição italiana, providencialmente antes de o projecto ser aprovado.

Quinta-feira a imprensa internacional estava cheia de rumores, sobre eleições antecipadas, Silvio Berlusconi e a possibilidade de Prodi retomar o cargo.

Sexta-feira à noite, a Catholic World News, a BBC e a Reuters anunciam que Prodi chegou a um acordo de 12 pontos fundamentais com os membros da sua coligação. Entre os quais se inclui o respeito pelos compromissos internacionais italianos, nomeadamente aqueles que supostamente levaram à queda do governo.
E onde não está, como anuncia euforicamente a agência noticiosa católica, o projecto de lei que regulamentaria as uniões de facto.

No sábado, 24 de Fevereiro o president Giorgio Napolitano convidou Romano Prodi a permanecer como primeiro-ministro procurando uma maioria mais sólida no Senado.
Ontem Romano Prodi recebeu um voto de confiança por parte do Senado que garante a continuidade de seu governo de centro-esquerda, com 162 votos favoráveis e 157 contra.

Isto é, tudo fica na mesma excepto um ponto: enquanto o anterior governo de Prodi esperava o apoio no Parlamento dos seus parceiros de coligação no projecto de lei sobre as uniões de facto, uma das promessas eleitorais de Prodi, o futuro governo deu liberdade de voto sobre o tema!

Diria assim que o Liberazione tinha razão sobre a guerra do Vaticano ao anterior executivo de Prodi e que o dito encontro celebrando o tratado de Latrão fez jus à ocasião e de facto ajudou a clarificar a natureza das relações Itália sob Prodi – Vaticano.
Depois deste golpe palaciano que apenas serviu os interesses de Bento XVI, vamos em breve ver se é desta que os muitos italianos que vivem em união de facto vão ver os seus direitos reconhecidos...


- Um artigo de Palmira F. da Silva

 

A Quintessência da Tolerância



Os últimos tempos têm sido fertéis na reinterpretação católica dos termos tolerância - simplesmente a atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adoptada por si mesmo - e intolerância, expressas abundantemente em tudo quanto é comunicação social cá no burgo.

Assim, especialmente desde a guerra dos cartoons, que os escribas ao serviço da ICAR se têm desdobrado em acusações estridentes de intolerância e «laicismo radical» a todos os que se opõem ao proselitismo católico por utilização abusiva do espaço público – no sentido de espaço do Estado, supostamente laico- ou à imposição a todos dos disparates em que acreditam.

Mas, não contentes com os insultos que prodigamente distribuem a quem não aceita e segue os ditames e a pseudo-moral da Igreja de Roma, especialmente em tudo o que diga respeito a sexualidade, – e aqui recordo Friedrich Nietzsche no Ecce Homo, «a moralidade cristã é a mais maligna forma de toda a falsidade» - alguns escribas devotam-se a inventar perseguições por parte daqueles que denigrem, porque, como Nietzsche afirma na Genealogia da Moral, «o cristianismo (ou a moralidade dos escravos) necessita um ambiente hostil para funcionar».

Assim, numa tentativa de angariar dividendos políticos para os «mártires» perseguidos pelos «fanáticos» laicos, em alturas de pré-campanha para o referendo assistimos à importação cá para o burgo de uma das invenções mais lucrativas para os cofres das igrejas e organizações cristãs americanas: a guerra ao Natal!

Invenção abundantemente debitada nas páginas do Público, em artigos que subentendiam estar a Associação República e Laicidade - uma «quadrilha de idiotas», «importante colecção de cretinos» e «estúpidos sem fronteiras» nas palavras de Bento Domingues, O.P. -, empenhada, com «manifesta tolice», «burrice mais aguda» e «maldade», numa inventada «guerra» ao Natal, manifesta, por exemplo, na utilização de «Boas Festas» em vez de «Bom Natal».
Quiçá o frei achasse normal e desejável o Estado obrigar todos, não crentes na mitologia cristã inclusive, a incorporar no léxico do quotidiano os termos dessa mitologia...

O que traduz o conceito de tolerância católica: não se atrevam a dizer o que pensam e muito menos reivindicar direito a agir abertamente de acordo com o que pensam, só o podem fazer na clandestinidade, caso contrário demonstram ... intolerância!
Qualquer crítica à religião ou seus representantes, afirmação pública da laicidade ou reivindicações contrárias aos dogmas da Igreja é assim considerado como intolerância. Claro que os dignitários afirmarem que urge combater o ateísmo porque quem não aceita a «verdade absoluta» católica é obviamente um imoral servo do Mal, responsável por todos os males do mundo e arredores é a quintessência da tolerância.

Como refere o Ricardo Alves no Esquerda Republicana, «se o sr. Domingues tivesse escrito que os africanos são ‘cretinos’, seria racista. Se tivesse designado os judeus por «quadrilha de idiotas», seria anti-semita. Se tivesse chamado ‘estúpidos’ aos brasileiros ou aos chineses, seria xenófobo. Se o Público tivesse editado um artigo aludindo à ‘burrice’ católica, dez bispos gritariam ‘a ICAR está a ser perseguida’. Se o alvo fossem os muçulmanos, haveria uma crise internacional.»

Como o alvo destes mimos são os laicistas, pressupostos ateus, os crentes acham normais e tolerantes as palavras do frei. Assim como acham normal que os bispos nacionais chamem burros inconscientes e desprovidos de «valores éticos fundamentais» a todos os que no referendo não votaram de acordo com as «ordens» da Igreja!

Todos têm o direito a acreditar no que quiserem, em astrologia, quiromancia, reikis «quânticos», psicografia, que Xenu está vivo e confinado por campos de força alimentados por uma bateria eterna, que o Elvis está vivo mas foi raptado por extraterrestres, que a Terra e o Universo foram criadas por Apsu, Haashch’eelti’i, Olodumare, Gisoolg, Ungambikula, Odin, Deus e restantes mitos sortidos.
Agora, ninguém tem o direito a exigir que eu «respeite» quaisquer disparates coibindo-me de os criticar, muito menos tem o direito a exigir que eu aja como se esses disparates fossem a «verdade absoluta».
Defendo o direito à livre expressão daqueles que pretendam ser o Universo uma abóbora gigante mas não aceito que queiram proibir o ensino de astrofísica ou o consumo de pevides!

Nunca deixará de me mistificar que considerem intolerância não aceitar a imposição a todos dos delírios esquizofrénicos que consideram «verdades reveladas» aqueles que mimoseiam com epítetos de intolerantes fundamentalistas «laicos», os idiotas, cretinos, estúpidos, inconscientes e imorais que se atrevem a não pensar como eles!


- Um artigo de Palmira F. da Silva

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