terça-feira, 31 de janeiro de 2006

 

Tudo vale a pena…



A pouco mais de 24 horas de se apresentarem na 7ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa para iniciarem o processo do seu casamento, a Teresa e a Lena ainda estão absolutamente perplexas com as inesperadas dimensões do impacto mediático desta sua iniciativa.

Ainda antes da sua comparência na Conservatória já os três canais de televisão e praticamente todos os jornais portugueses as entrevistaram e fizeram reportagens mais ou menos alargadas sobre o assunto.
Para além disso, foram também já contactadas para entrevistas pela T.V.E e pela Agência France Press.

Todos os órgãos de informação são unânimes em reconhecer a sua coragem e, simultaneamente, em criticar a hipocrisia do poder político português, que persiste em ignorar o problema quando, pela via legislativa, podia muito bem dar-lhe imediatamente uma resposta digna e humana.
Quem sabe a divulgação desta notícia no estrangeiro desperte algumas consciências...


Como não podia deixar de ser, perguntei à Teresa e à Lena como estavam a viver toda esta exposição pública e toda esta devassa da sua vida privada.
Responderam-me relatando-me um pequeno acontecimento:

Depois dos três artigos publicados pelo «Público» e da reportagem da SIC, a Teresa e a Lena passeavam calmamente no passado Domingo numa rua da pequena cidade onde vivem.
Até que uma senhora que passava de automóvel as reconheceu. Parou subitamente, abriu o vidro do carro e disse-lhes:

- Parabéns pela vossa coragem!

E sem dizer mais nada, prosseguiu o seu caminho.

E disseram-me:
- Pergunta-nos se valeu a pena? Depois de anos a ser discriminadas e de humilhações sem fim, uma pessoa que não conhecemos de lado nenhum diz-nos isto na rua?
- Só por isto já tudo valeu a pena!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

 

O Leitor de Pensamentos



Este «The Flash Mind Reader» é, de facto, o mais interessante passatempo deste género que tenho encontrado.

As instruções são simples:

1 – Escolha um número qualquer de dois algarismos;
2 – Some esses dois algarismos;
3 – Subtraia esse total ao número original.
4 – Procure no quadro o número correspondente ao total agora obtido, e encontre o símbolo que lhe está associado.
5 – Concentre-se nesse símbolo e clique no círculo grande azul que se encontra à esquerda;
6 – Como por magia, o símbolo que aparece dentro do círculo é igual ao símbolo do número correspondente ao total obtido.

Para tentar de novo, clicar no rectângulo «Try Again».
Pode tentar as vezes que quiser: é pura magia!!!

Para aceder ao passatempo clicar -> AQUI.


sábado, 28 de janeiro de 2006

 

A Coragem



O envolvimento e a resposta mediática à notícia do «primeiro passo» da Teresa e da Lena no sentido do seu casamento, têm sido simplesmente espectaculares.

Nesta sexta-feira a notícia foi já largamente divulgada nalguns jornais: «Diário Digital», «Público», «24 Horas» e «Independente».
Nos próximos dias a notícia continuará a correr a comunicação social, desta vez com especial incidência nas rádios e televisões (penso que, para já, no sábado, no jornal da noite da SIC, e na próxima terça-feira no programa da manhã da TVI).

A notícia de hoje do «Público» pode ser lida -> aqui.

Repetidamente solicitadas com sucessivas entrevistas, a Teresa e a Lena têm sido incansáveis a explicar e a divulgar a sua iniciativa.
E a sua coragem tem sido inexcedível.

É simplesmente notável como a Teresa e a Lena decidiram expor a sua vida privada e a sua intimidade, com consequências e reflexos na sua vida pessoal que nem sequer sonhamos imaginar.
Tudo em nome de uma causa e de um sonho.

E tudo isto porque os políticos portugueses – da Assembleia da República aos sucessivos Governos – persistem em enterrar a cabeça na areia e fingem ignorar um problema que diz respeito à mais básica dignidade humana e, se virmos bem, ao puro e simples respeito pelos direitos, liberdades e garantias já assegurados na própria Constituição da República Portuguesa.

Não seria tudo mais simples se os nossos políticos e os nossos governantes tivessem a coragem política, e até pessoal, para legislar sobre esta matéria?

Nem era precisa muita:
Bastava-lhes somente um pouco da coragem que têm a Teresa e a Lena!


quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

 

O Primeiro Passo



A Teresa e a Lena vivem juntas há quase três anos.

O amor que a Teresa e a Lena vivem e que sentem uma pela outra levou-as a projectar e a planear uma vida conjunta pelo resto dos seus dias.

Por isso, e como é natural, querem constituir uma família em plena comunhão das suas vidas.
Querem celebrar um compromisso formal e solene entre ambas, que as vincule reciprocamente tanto do ponto de vista patrimonial como do ponto de vista moral.
Querem formar uma sociedade familiar que integre todos os seus bens, e querem celebrar um compromisso mútuo de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
Querem também que a família que pretendem formar seja reconhecida e tenha plena eficácia jurídica na sociedade em que vivem.

Querem, numa palavra, casar-se!

Por isso, no próximo dia 1 de Fevereiro de 2006 pelas 14,30 Horas a Teresa e a Lena vão apresentar-se na 7ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (sita na Avenida Fontes Pereira de Melo, nº 7 – 1º andar em 1050-115 Lisboa), onde requereram já a abertura do respectivo processo de publicações, precisamente para se casarem.

A Teresa e a Lena têm todo o seu processo legal de casamento perfeita e legalmente instruído junto daquela Conservatória do Registo Civil. Como cidadãs gozam de total e inequívoca capacidade matrimonial para se poderem casar.

Mas, acontece que "um pequeno detalhe" se interpõe entre elas e os seus planos de uma vida familiar livre e de uma plena comunhão de vida legalmente reconhecida:
É que o artigo 1.577º do Código Civil português ainda define o casamento como «o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida».
Ou seja, apesar de o casamento não ser mais do que um simples e mero contrato, de natureza exclusivamente civil, o que é facto é que a lei civil inexplicavelmente ainda restringe e limita a sua celebração a pessoas de sexo diferente.

Mas, no entanto, acontece que o artigo 13º da Constituição da República Portuguesa estabelece de forma perfeitamente clara o princípio da igualdade entre todos os cidadãos, e a absoluta interdição de qualquer forma de distinção entre eles:
«1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
«2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual».

Então, a conclusão só pode ser uma:
A expressão «de sexo diferente» contida no corpo do artigo 1.577º do Código Civil é, absoluta e inequivocamente INCONSTITUCIONAL!

Por isso, a Teresa e a Lena não têm qualquer dúvida nem hesitação em se apresentarem naquele dia na 7ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, para, como duas cidadãs livres e no gozo pleno dos seus direitos, procurarem exercer um direito de cidadania tão simples como é o de celebrarem um mero contrato de natureza exclusivamente civil.
Mas, se a sua pretensão vier a ser recusada pelo Conservador do Registo Civil, com base precisamente no facto de serem do mesmo sexo, a Teresa e a Lena não se conformarão: de imediato interporão recurso judicial dessa decisão, se preciso for até ao Tribunal Constitucional.

É que a inconstitucionalidade do artigo 1.577º do Código Civil, que restringe a celebração de contratos de casamento a pessoas de sexo diferente é tão óbvia, que a decisão jurisdicional que vier a decidir sobre o caso só poderá ser uma: permitir o seu casamento!

Ao contrário do que acontece em tantos países por esse mundo fora, e mesmo até aqui na nossa vizinha Espanha, em Portugal os cidadãos ainda não podem celebrar livremente contratos de casamento sem quaisquer restrições ou discriminações em razão da sua orientação sexual.

A Teresa e a Lena sabem que até que isso aconteça, muitos passos terão ainda de ser dados.

Mas uma coisa é certa:
- Este é o primeiro!


 

Deus caritas est



O Papa Bento XVI acabou de publicar a sua primeira Encíclica.


Com o título «Deus caritas est» (Deus é amor) esta Encíclica fala de caridade e de marxismo mas, estranhamente e por incrível que pareça, é na sua grande maioria dedicada... ao sexo.

Confesso que não entendo esta persistente obsessão da Igreja Católica pelo sexo.
Nem entendo esta fobia em considerar sujo e pecaminoso tudo o que se relacione com o sexo ou com o relacionamento erótico entre as pessoas.

É como se a abstinência sexual forçada tornasse esta gente doentiamente obcecada pelo tema e, como uns vulgares tarados sexuais, não os deixasse ver mais nada à frente e os impelisse compulsivamente a não falar de outra coisa.
E a arrogarem-se até em especialistas na matéria.

Até lhes fica mal: pôr o Papa ou a Madre Teresa de Calcutá a falar de sexo é a mesma coisa que pôr Saddam Hussein a falar de direitos humanos ou pôr Cavaco Silva a falar de bolo-rei ou a dar uma conferência de imprensa a dizer o que pensa.

Nesta Encíclica, o Papa Bento XVI considerou que o sexo sem amor incondicional torna os homens e as mulheres em simples mercadorias.

É pena o Papa não saber que o mesmo acontece ao amor incondicional sem sexo...


quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

 

Uma classe muito curiosa



Segundo o «Diário de Notícias», mal ouviram o Governo anunciar o fim da obrigatoriedade da realização por escritura pública notarial dos actos da vida corrente das sociedades comerciais, e da transferência da formalização desses mesmos actos directamente para as Conservatórias do Registo Comercial, os Notários portugueses ficaram furiosos e indignados, e ameaçam agora processar o Estado por este lhes estar a «defraudar as suas expectativas».

É curioso o fenómeno notarial português.
Tanto, que a sua análise exaustiva ocuparia não um post, mas um Blog inteiro.

Mas não deixa de ser interessante realçar o espírito corporativo de uma classe que tanto se indigna contra um Governo que se prepara para eliminar uma série de actos burocráticos inúteis, porquanto sujeitos a uma dupla fiscalização estúpida e que só faz os empresários perder tempo e dinheiro.

Basta pensar que a escritura de uma normal cessão de duas quotas de uma sociedade comercial com o capital social de € 5.000,00, que se faz em 10 minutos, pode custar mais de 150 contos!
Para depois o Conservador do Registo Comercial verificar novamente se está tudo bem.

Pelos vistos, não teremos de estranhar se um dia destes os Notários portugueses vierem a decretar uma greve para exigência da reposição de actos burocráticos, estes e outros, tendo em vista, obviamente, a cobrança dos respectivos emolumentos.
Quem sabe, exigirão o regresso do papel selado!
Viva a burocracia!

Não menos interessante é o facto de que os Notários privados portugueses só são privados a prazo, pois foi-lhe concedida a possibilidade de regressarem ao funcionalismo público no caso de não se darem bem na vida privada.

Mas mesmo muito mais interessante é termos assistido ao fenómeno bizarro da transformação dos Cartórios Notariais do Estado em Cartórios Notariais privados.

É que, desde que são privados, os Notários portugueses contrataram em regime privado para os mesmos Cartórios metade dos trabalhadores que tinham quando eram todos funcionários públicos.
Mas curiosamente, agora que são privados fazem com metade dos funcionários o dobro das escrituras, e deixou praticamente de haver dificuldades na sua marcação para meia dúzia de dias depois.

Não há dúvida:
Os funcionários públicos portugueses são, de facto, uma classe muito curiosa...


terça-feira, 24 de janeiro de 2006

 

Simples Perguntas



O presidente norte-americano George W. Bush declarou a um grupo de activistas anti-aborto que estes estavam a prosseguir uma causa nobre e que decerto a venceriam.

Em entrevista ao «Expresso» os candidatos presidenciais Mário Soares, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã declaram-se abertamente favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Dos candidatos derrotados nas eleições presidenciais portuguesas até ao débil mental presidente americano, sabemos o que todos eles pensam sobre estes temas, que tanto ocupam a actualidade mundial em todo o mundo.

Mas alguém me sabe dizer o que pensa Aníbal Cavaco Silva sobre esses mesmos temas?
Algum dos votantes de Cavaco Silva (mais de metade dos portugueses) me poderá dizer com toda a certeza qual seria a atitude do presidente eleito caso lhe fosse submetida para promulgação uma lei que versasse sobre qualquer um destes dois temas?

É que, até pelo gáudio arrogante que tenho visto em tantos dos seus apoiantes, não me passa pela cabeça que possa ter havido alguém tão imbecil que tenha votado em Cavaco Silva sem conhecer sem sombra de dúvida as respostas a estas simples perguntas...


segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

 

Boas Notícias e Más Notícias



E pronto!

Tal como as sucessivas sondagens unanimemente prenunciavam, eleito logo à primeira volta, Aníbal Cavaco Silva é o novo Presidente da República de Portugal.

Estas são as más notícias, claro.

No entanto, e apesar de tudo, Cavaco Silva será agora também «o meu presidente».
Se até hoje em todas as eleições presidenciais sempre votei no candidato que foi eleito, também sempre achei abjecto que os apoiantes dos candidatos derrotados se recusassem a “aceitar como seu” o novo Presidente.
Não vou, por isso, fazer o mesmo.
Cavaco Silva é o novo Presidente da República, por muito que me vá custar habituar a essa ideia.


Quanto as resultados eleitorais, e ao contrário do que tenho visto ser adivinhado por tanta gente, acho que a enorme vantagem que Manuel Alegre alcançou sobre Mário Soares não terá a mínima consequência no interior do Partido Socialista e não “servirá de lição” para ninguém.
Bem vistas as coisas, com a eleição de Cavaco Silva à primeira volta, tão derrotado foi Soares como Alegre.

A antecipação do Congresso do PS para os próximos meses somente trará uma nova e pacífica consagração de Sócrates à frente dos destinos do Partido, e nessa altura já ninguém se lembrará das aventuras presidenciais que o secretário geral protagonizou.
Ainda que ninguém até hoje tenha percebido onde queria chegar com o relançamento de Mário Soares, que toda a gente bem sabia que estava à partida votado a um estrondoso fracasso.

Também será rapidamente esquecido o rancor que neste momento Manuel Alegre encontra no interior do Partido Socialista.
Até porque esse rancor está bem longe de ser unânime...


Mais politicamente significativo, penso, e também sem consequências de maior, terá sido o magro resultado obtido por Francisco Louçã, principalmente se comprado com o de Jerónimo de Sousa.


Rejubila agora a direita.
E faz muito bem, porque é assim que se vive quotidianamente a democracia.

Ainda que a fazer de conta que a eleição de Cavaco Silva não se deve mais do que a uma escandalosa falta de comparência da esquerda.
Ainda que a fingir que não sabe bem que qualquer Guterres ou qualquer António Vitorino teria derrotado Cavaco, também à primeira volta.
Ainda que faça de conta que não sabe que Cavaco foi eleito «por exclusão de partes» dos outros candidatos. E que isso não é um currículo lá muito abonatório para um presidente.
Ainda que vire a cara para o lado quando é acusada de ter passado um cheque em branco a um candidato presidencial beneficiado por um sebastianismo portuguesinho e bacoco.
Ainda que não saiba como vai Cavaco actuar sobre os acontecimentos importantes que no futuro se lhe vão deparar na vida portuguesa, já que ele sempre se recusou cobardemente a dizer o que pensa sobre os mais importantes e fracturantes temas nacionais.

E ainda que, já na própria noite da eleições, se sinta já o regresso da arrogância imbecil dos «anos negros do cavaquismo» e das «forças de bloqueio», desta vez misturada com um incompreensível sentimento de uma vingança raivosa e ressabiada, requentada por 30 anos de Presidentes eleitos pela esquerda.

Mas a vingança é um prato que se serve frio. E nunca se sabe quantos sapos poderá ainda a direita ter de engolir com alguma inesperada atitude de Cavaco Silva no futuro.
Pois é isso mesmo: ninguém sabe!

E só mais uma coisa:
Que não pensem os exultantes eleitores cavaquistas, ou sequer a família política que o elegeu, que uma vitória eleitoral é sinónimo obrigatório de que o Presidente da República ficou legitimado para ter sempre razão, ou que tem carta branca para fazer tudo aquilo que lhe der na veneta.
Essa legitimidade nunca existe!
Principalmente se pensarmos que a família política que elegeu Cavaco Silva é precisamente a mesma que elegeu George W. Bush., Aznar ou Berlusconi.
E isto é gente que eu definitivamente não quero para minha família.


Mas nem tudo são más notícias com estes resultados eleitorais.
Também há boas notícias.
É esperar para ver: estou absolutamente persuadido de que a eleição de Cavaco Silva trará em breve novos e inesgotáveis temas de notícias, debates e comentários à «Blogosfera».

Tal como nos bons velhos tempos do Governo de Pedro Santana Lopes...



sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

 

Porque não voto nos outros



Qualquer eleição num Estado democrático, já aqui o tenho dito, representa um «contrato político» que o candidato que se apresenta a votos faz com aqueles que o elegeram.

Perante um determinado programa político que esse candidato propõe aos eleitores, estes, por sua vez, prefiguram a sua actuação futura à frente do órgão para que foi eleito, e «contratam» com ele o cumprimento desse programa, dessa linha de actuação.
O eleitor vota no seu candidato, escolhendo-o como seu representante político, porque espera dele, uma vez eleito, uma actuação semelhante à que ele próprio teria se estivesse no seu lugar.

Não haverá eleição de cariz mais vincadamente político que a do Presidente da República.

Depois de uma eleição legislativa o eleitor ainda entenderá que o novo Primeiro-ministro aumente os impostos quando prometeu que não o faria, alegando alterações de circunstâncias técnicas, financeiras ou políticas.
Pode até mesmo vir a ser elogiado por uma espécie de “coragem política” para preferir um desígnio nacional em detrimento de uma promessa eleitoral que decidiu não cumprir.

Mas a um candidato a Presidente da República, até porque vivemos num regime semi-presidencialista, exige-se-lhe que clarifique de modo inequívoco o seu programa político e que se apresente claramente perante o eleitorado com quem quer «contratar politicamente», prefigurando-lhe a sua linha de actuação política em determinadas situações concretas e precisas que se lhe deparem no futuro, sejam rotineiras sejam de excepção.

Por isso, exige-se a um candidato a Presidente da República que se defina ideologicamente.
Até porque, como é óbvio, é a ideologia política de uma pessoa que, num quadro de actuação política, determina o seu modo de actuação perante uma situação concreta e precisa.

É por isso que não voto em Cavaco Silva!

Em primeiro lugar porque a ideologia e a filosofia política que se enquadram no partido político em que Cavaco Silva está filiado, não correspondem nem de perto nem de longe às que perfilho.
Um partido liberal e conservador, e que tão bem se tem dado ideologicamente em Governos de coligação com o CDS, não faz, de facto, o meu género.

Em segundo lugar porque Cavaco Silva não divulgou uma única cláusula «do contrato político» que quer fazer com os eleitores portugueses.

Para além de meia-dúzia de considerações genéricas de cariz técnico-financeiro, que ele sabe bem que nada têm a ver com as competências presidenciais, Cavaco foge sistematicamente a qualquer forma de clarificação política e ideológica da sua pessoa.
Cavaco quer dar-se bem com gregos e com troianos, e foge como o Diabo da cruz de qualquer definição ou esclarecimento sobre uma determinada actuação perante um acontecimento preciso e concreto que se lhe prefigure no futuro.

E não há nada que mais me repugne do que uma pessoa de meias tintas, que se quer dar bem ao mesmo tempo com Deus e com o Diabo e que não tem coragem, verticalidade e honestidade políticas para se definir e se apresentar de peito aberto aos eleitores: «meus amigos para o melhor e para o pior é assim que eu penso, é assim que eu sou; quem concordar que vote em mim».

Cavaco não é assim: é um candidato que se apresenta aos eleitores de má fé e com a reserva mental de quem sabe bem que cada vez que abre a boca perde votos.
A demonstrá-lo estão as sucessivas quedas nas sondagens logo que a campanha eleitoral o obrigou a uma maior exposição pública e mediática.
Quem sabe com mais uns dias de campanha as coisas não seriam diferentes.

Lembro-me, por exemplo, da primeira página do «Expresso» que, à simples pergunta sobre o que pensavam os candidatos presidenciais sobre o casamento homossexual, trazia a resposta inequívoca e afirmativa de todos demais os candidatos.
A resposta de Cavaco Silva era bem elucidativa: «talvez».

Cavaco Silva é um hipócrita político que não diz o que pensa.
Porque não tem coragem para o fazer.

E se me repugnam as pessoas de meias tintas e os candidatos que não têm coragem de se assumir política e ideologicamente, o sentimento que nutro pelas pessoas que votam neles às cegas e lhes dão um voto em branco em nome não sabem bem de quê, confesso que não é muito diferente.

O que disse sobre Cavaco Silva vale também para Manuel Alegre.
Bem mais próximo da minha «família política», Manuel Alegre não teve a dignidade para suspender a sua militância no Partido Socialista nem teve a hombridade de suspender o seu mandato de deputado.

Pelo contrário, no dia da votação do Orçamento de Estado, e apesar de manter o seu lugar de deputado (e de vice-presidente) faltou cobardemente à sessão, para não ter de se assumir politicamente com um voto, qualquer que fosse o sentido que lhe quisesse dar, já que foi para isso que foi eleito.
Fugindo a uma definição e clarificação honesta das suas ideias e às suas responsabilidades, e adoptando uma postura de meias tintas para não ter de explicar porque votava - ou contra ou a favor - Manuel Alegre perdeu o meu respeito como candidato presidencial.


Depois temos Francisco Louçã.
Louçã não passa de papagaio bem falante, que anda a esconder às pessoas o que é isso do trotskismo, e quais as conclusões da «4ª Internacional» que ainda hoje defende e perfilha.
Os votos de Francisco Louçã provêm de uma moda de defesa de tudo e mais alguma coisa que cheire a «politicamente correcto»: uma espécie de defesa do «meio ambiente político», tradicionalmente de esquerda mas, afinal, completamente destituída de sentido ideológico.
Sob a capa de um discurso proferido com uma voz estudadamente serena, pausada e sincopada, que tenta passar uma mensagem de «bom sendo político», se virmos bem Francisco Louçã não apresenta uma única solução alternativa para as críticas sucessivas que faz a tudo e a toda a gente.
E também não se clarifica nem define ideologicamente, porque sabe bem que o trotskismo rende muito poucos votos nos dias de correm.

Já o leninismo ainda vai rendendo alguns votos.
Mas não é por isso que Jerónimo de Sousa terá o meu.

Jerónimo de Sousa representa um partido que ainda hoje associo a uma ideologia ditatorial que identifico com os Gulags, com uma polícia política feroz e criminosa e com assassínios em massa tão bárbaros como os de Hitler, Pol Pot ou Mao Tsé Tung.
Um partido que defende assumidamente Fidel Castro, que justifica os seus campos de concentração com o embargo americano a Cuba e se engasga com perplexidade quando lhe falam na Coreia do Norte.
Jerónimo de Sousa representa ainda a corporização de um sistema político que, se estivesse em vigor em Portugal, nem sequer me permitiria escrever estas palavras.


Resta-nos Mário Soares.
Confesso que ainda hoje não vejo com bons olhos a candidatura de Mário Soares.
Nem nunca entendi muito bem esta sua candidatura, serôdia e aparentemente despropositada.
Preferia continuar a vê-lo como uma espécie de «senador», de um irmão mais velho da Pátria a quem se pede um conselho numa hora difícil.

Mas a candidatura aí está e os candidatos são estes.
Em quem votar, afinal?

Mário Soares é um político e um homem corajoso que nunca teve qualquer problema em se assumir e definir política e ideologicamente.
É dos políticos a quem a democracia portuguesa mais deve.

Acontece que durante dois mandatos, durante dez anos, Mário Soares, em quem votei duas vezes para a Presidência da República, sempre cumpriu pontual e escrupulosamente o «contrato político» que com ele eu tinha celebrado.
Pelo que é de prever que, caso seja eleito, o cumpra novamente.

E acontece ainda que eu estive com Mário Soares no dia 19 de Julho de 1975 na manifestação da Fonte Luminosa.

Em quem votar então, senão em Mário Soares?


quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

 

Curiosa Coincidência



A Igreja Católica, as Igrejas Evangélicas americanas e as suas inúmeras organizações fanático-dependentes estão em completo estado de choque:

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos acabou de rejeitar uma iniciativa legislativa de responsabilidade pessoal do próprio presidente americano George W. Bush, que visava revogar o precursor e inédito sistema legal do estado do Oregon, que vigora já desde 1994, e que permite o suicídio assistido a doentes em estado declaradamente terminal.

Por uma maioria de 6-3, o Supremo Tribunal considerou que o Governo Federal não tem autoridade legal para proibir ou punir criminalmente os médicos daquele estado por darem aos seus pacientes acesso a doses letais de medicamentos com o objectivo de lhes abreviarem a morte.

Contudo, e como não podia deixar de ser, estes fanáticos activistas sempre cega e persistentemente determinados em decidir a vida dos outros, não desistiram ainda: declararam já que nada na decisão judicial sugere que o Congresso não está dotado de autoridade constitucional para revogar a lei, planeando agora influenciar aquele órgão legislativo americano precisamente nesse sentido.


Curiosamente, são precisamente estas mesmas organizações religiosas que têm vindo a apelar a um generalizado e maciço boicote nacional a grandes empresas como a Microsoft, Hewlett-Packard, Boeing, Nike e muitas outras, que ultimamente se têm distinguido pelo apoio declarado aos direitos civis dos homossexuais.

Com uma indisfarçada ameaça, os mais proeminentes servidores religiosos declararam já que estas companhias “nem sabem com quem se meteram”, e que claramente subestimaram o poder dos consumidores religiosos, somente porque elas têm manifestado o seu apoio a uma iniciativa legislativa que visa tão simplesmente proibir a discriminação dos cidadãos também em razão da sua «orientação sexual».

Esta iniciativa legislativa tem sido apresentada e sistematicamente rejeitada no Senado, ano após ano nos últimos trinta anos, embora este ano a anunciada mudança do sentido de voto por parte de um senador republicano crie tantas expectativas na sua aprovação como tanta raiva nos seus opositores.

Unidas por uma homofobia fanática de incompreensível violência, as Igrejas cristãs americanas evocam mesmo, sempre em tom de ameaça, o exemplo das próprias eleições presidenciais americanas, cujo resultado, lembram, foi determinado pelo apelo «aos valores morais do país».

De facto, é muito curioso como são precisamente as organizações religiosas quem mais fanaticamente se distingue pela falta de respeito pela dignidade das pessoas e pelos mais básicos direitos humanos.
Seja pelo direito à vida.
Seja pelo direito à morte.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

 

O Papagaio



Segundo a CNN, Chris Taylor, um programador de computadores vivia com Suzy Collins, sua companheira, num apartamento em Leeds, no norte de Inglaterra, onde possuíam um belo papagaio africano cinzento.

Estavam os dois sentados muito bem na sala quando o papagaio começou a palrar qualquer coisa como «Amo-te, Gary!».

Foi só quando o bom do Chris viu o ar inesperadamente embaraçado da Suzy que percebeu tudo: a sua companheira andava a enganá-lo com o tal Gary no próprio apartamento do casal.
E ainda por cima à frente do papagaio!

E quando o papagaio começou a imitar a sua voz ao telefone a dizer «olá Gary», a boa da Suzy não teve outro remédio senão confessar tudo ao Chris, e lá se foi o relacionamento entre ambos por água abaixo.
De tal forma que o Chris até se viu livre do papagaio e tudo.

Não há dúvida:
Os papagaios assumem um papel cada vez mais preponderante e influente na nossa sociedade!


terça-feira, 17 de janeiro de 2006

 

As Duas Metades



Segundo a «Reuters», um estudo de um sexólogo italiano descobriu que os casais que possuem um aparelho de televisão no quarto de dormir têm relações sexuais com metade da frequência que os casais que não o têm.

Segundo consta, mal foi divulgada esta notícia o Vaticano (onde, como é sabido, se encontram os mais reputados especialistas em sexologia do mundo) decidiu aconselhar todos os padres, bispos, cardeais e até o próprio Papa, a colocar nos seus quartos de dormir dois aparelhos de televisão:

O primeiro destina-se a eliminar metade do desejo sexual dos ilustres clérigos; o outro aparelho serve para eliminar a segunda metade...



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

 

O Milagre das Rosas



Era uma vez...
...um rei chamado D. Dinis e uma rainha chamada D. Isabel.

A rainha D. Isabel era muito piedosa. Apesar de espanhola, era também muito caridosa e bondosa, e por isso dava muitas esmolas aos pobrezinhos.

Tantas, que o rei já estava a ver o caso mal parado, pois todos o dias era uma rebaldaria de pobres à espera à porta do castelo, com o mau aspecto que se calcula que isso dava.
Vai daí, e como para além disso a coisa já estava a ficar demasiado dispendiosa para o erário público, o rei proibiu a rainha de uma vez por todas dar mais esmolas aos pobres.

Mas a rainha era tão piedosa, caridosa e bondosa (apesar de espanhola), e tão temente a Deus e seus correligionários, que resolveu desobedecer ao rei, e continuou a dar esmolas aos pobrezinhos que paravam por ali à volta do castelo a dar mau aspecto.

Um belo dia, andava a boa da rainha, coitada, na faina da distribuição, levando no seu manto real moedas e pão para aquela boa gente (moedas e pão misturados aos trambolhões dentro de um manto não é uma coisa lá muito higiénica, mas enfim, os pobres não são muito exigentes) quando, de súbito, provavelmente vindo de algum regabofe em Odivelas (terra, aliás, muito propícia a essas coisas), lhe saltou o rei ao caminho.

O rei, que não era nada parvo, viu logo o que a rainha andava a fazer contra as suas ordens expressas, e perguntou-lhe em tom irónico:

- Que levais aí no regaço, Senhora?”
Ao que a piedosa rainha lhe respondeu:
- São rosas, Senhor!
- Rosas em Janeiro? – perguntou o rei, já com um sorrisinho malandro a bailar-lhe nos lábios.

Mas eis que a caridosa rainha abriu o manto e, perante a grande admiração geral, as moedas e os pães que levava no regaço tinham-se milagrosamente transformado em viçosas, belas e frescas rosas, tão lindas como jamais se vira.

A moral desta bela e pungente história é tipicamente cristã:
Quando te vires à rasca, mente descaradamente!
Não só Deus te ajuda, como ainda podes vir a ser canonizado...


sábado, 14 de janeiro de 2006

 

O Pedido







sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

 

A Verdadeira Vítima



Noticia a «NBC» que Mehmet Ali Agca, o homem que na Praça de São Pedro disparou contra João Paulo II no dia 13 de Maio de 1981, foi libertado após mais de 25 anos de prisão, que cumpriu não só por este atentado mas também pela morte de um jornalista turco.

Dois anos depois do atentado o Papa João Paulo II visitou Ali Agca na prisão e disse-lhe que o perdoava.



No ano 2000 a Igreja Católica surpreendeu o mundo inteiro, ao decidir finalmente revelar a terceira parte do segredo de Fátima.
Segundo foi anunciado, o segredo há tanto tempo guardado estava relacionado com a previsão do atentado contra o Papa em 1981, precisamente no dia 13 de Maio.
O próprio João Paulo II referiu que tinha sido a Virgem Maria a salvar-lhe a vida.

Ou seja: a acreditar-se nas aparições da Virgem Maria em Fátima e nas mensagens que foram por esta transmitidas à Humanidade, quer então dizer que o atentado contra João Paulo II estava já previamente determinado.
Era impossível que não acontecesse!

É inconcebível que a mãe de Deus se engane!
Estava “escrito” há já 64 anos que, no dia 13 de Maio de 1981, haveria inexoravelmente de acontecer na Praça de São Pedro um atentado ao Papa João Paulo II.

Ali Agca agiu, portanto, sem qualquer possibilidade de determinação própria e sem que, afinal, tivesse sequer liberdade de escolha de não disparar contra o Papa.

Quer então isto dizer que o próprio Ali Agca foi um simples fantoche, o escolhido entre biliões de humanos para ser o mero instrumento dos insondáveis desígnios de Deus e da realização das previsões da respectiva mãe.

Agiu sem livre arbítrio!

Agiu sem que a sua vontade tivesse sido livre para se comportar de maneira diferente.
Pois, se o tivesse feito, as previsões da Virgem não se teriam cumprido e os desígnios de Deus teriam falhado estrondosamente.
O que, como é óbvio, é absolutamente impensável.

Ora, se assim foi, não terá Mehemed Ali Agca sido preso injustamente?
Em toda esta história, não terá sido ele a verdadeira vítima?

Não teria ele antes merecido o agradecimento reconhecido de todos os cristãos, um louvor público e até uma estátua na própria Praça de São Pedro por, desinteressadamente e com o sacrifício da sua própria liberdade, ter disparado contra o Papa para cumprir a vontade de Deus e as previsões da Virgem Maria?..


quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

 

Mais vale Prevenir...



Segundo o «Detroit Free Press», o bispo auxiliar de Detroit, Thomas Gumbleton, de 75 anos, pôs a sua congregação em alvoroço quando admitiu ter ele próprio em criança sido vítima de abusos sexuais por parte de um padre.

Como se não bastasse já para a confusão criada, o bispo ainda propôs a revogação da lei que impede que as vítimas possam processar a Igreja Católica nos casos mais antigos de violações praticadas por membros do clero católico.
O bispo Gumbleton considera que muitos desses abusadores não prestaram ainda contas dos seus actos, e que os mesmos deviam ser denunciados publicamente.

Mas desde logo as autoridades eclesiásticas americanas e a «Conferência dos Bispos Católicos», reunida em Washington, D.C., rejeitaram peremptoriamente tal ideia, preferindo manter a actual lei.

Não fosse o diabo tecê-las!...



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

 

O Grande Aldrabão



Um dos mais famosos “psíquicos” de todo o mundo é sem sombra de dúvidas Uri Geller.
Nascido em Israel em 1946, mas a viver actualmente em Inglaterra, este famoso aldrabão proclama ser detentor de poderes paranormais que lhe permitem dobrar colheres e garfos com a força da mente, pôr relógios estragados a trabalhar, prever o futuro e outras habilidades assim do género.

Como não podia deixar de ser, Uri Geller depressa enriqueceu à custa dos papalvos que acreditam nos seus poderes, e é frequente vê-lo em programas de televisão e em espectáculos privados, cobrando rios de dinheiro por cada aparição.

Talvez um dia, quem sabe, tenhamos a sorte de o ver na televisão portuguesa ao lado de algumas das suas famosas colegas lusitanas, como Cristina Candeias ou a Maya, a quem é igualmente concedida a graça de enganar as pessoas por intermédio de aparições televisivas.

Mas atenção: quando lhe chamam "aldrabão" ou o acusam de ser uma "fraude", Uri Geller vai aos arames e não hesita em por esse mundo fora processar judicialmente e pedir indemnizações de milhões de dólares a quem se atreve a fazê-lo.
Uma vez até processou um ilusionista que se atrevia a duplicar as suas habilidades em palco!

Claro que não só nunca ganhou nenhuma acção judicial, nem viu um único cêntimo das indemnizações que pediu, como também até hoje não conseguiu ainda explicar como é que não conseguiu prever que ia perder todas as acções que intentou contra os seus detractores.


Um dos seus mais famosos críticos é James Randi, que escreveu um livro precisamente a desmascarar os truques e as artimanhas do artista, e que sobre ele disse ironicamente:
«Se o Uri Geller dobra colheres com a força da mente, então está a fazê-lo da maneira mais difícil...».

Mas a mais famosa actuação de Uri Geller, onde pode efectivamente dar largas aos seus extraordinários poderes paranormais, terá ocorrido em 1973 durante o programa televisivo «Tonight Show», na ocasião apresentado por Johnny Carson:
Estava previsto que Uri Geller demonstrasse as sua habilidades psíquicas em directo, dobrando colheres com a força da mente e identificando objectos escondidos.

Mas o azar bateu à porta do pobre do Uri Geller: é que James Randi, conhecia o produtor do programa televisivo e às escondidas... trocou-lhe as colheres que iam ser dobradas com a força da mente durante o espectáculo.

Começa o programa em directo e, como está bom de ver, o Uri Geller nada de dobrar uma única colherzinha com a força da mente.
Mal viu que as colheres tinham sido trocadas, nem sequer tentou!
Balbuciou umas desculpas esfarrapadas sobre os seus poderes, que não podiam ser "ligados e desligados" assim de qualquer maneira, e acabou assim a sua brilhante exibição televisiva.

Um pequeno vídeo do desgraçado do Uri Geller a dar com os burrinhos na água em directo na televisão pode ser visto -> aqui

É de ir às lágrimas!


terça-feira, 10 de janeiro de 2006

 

Os Direitos do Fumador



Na última edição do semanário «Expresso», num artigo que intitula «Os Direitos do Fumador», Daniel Oliveira revolta-se contra a mais recentes políticas anti-tabágicas que ganham terreno por esse mundo fora.
E conclui:
«Começa a ser altura de os fumadores exigirem alguns direitos. Os mais básicos de todos: o direito ao respeito pela sua liberdade, pela sua saúde, pela sua carteira e pela sua inteligência».

Depois, Daniel Oliveira propõe com alguma graça aquilo a que chama uma «Carta dos Direitos Fundamentais do Fumador» onde exige «espaços arejados e confortáveis para fumar», onde pede «respeito pelas dependências dos cidadãos», que o tabaco baixe para um preço «justo» e se revolta contra a «linguagem alarmista, moralista e ofensiva» de quem alerta para os riscos do tabaco.

E logo em primeiro lugar proclama:
«Fumar é um direito. A saúde é um bem individual e a forma como cada cidadão a trata apenas a si próprio diz respeito».

Mas o Daniel Oliveira está redondamente enganado: fumar não é um direito!
Nem a saúde é um bem individual, nem a forma como cada cidadão trata de si lhe diz respeito exclusivo!

Parece é que o Daniel Oliveira quer tudo: quer um lugar arejado para fumar em liberdade, quer tabaco baratinho, quer respeito pela sua dependência e no fim... ainda quer que eu lhe pague a operação para lhe extirpar um pulmão minado pelo cancro!
É que a forma como cada cidadão trata da sua saúde nunca lhe dirá respeito exclusivo, enquanto a conta do Hospital for paga pelos impostos dos outros cidadãos.

E não será a saúde de cada um de nós também um pouco pertença dos nossos familiares e amigos e, muito principalmente, dos nossos filhos?
Fumar não será também uma escolha em que cada um deles é diariamente preterido?

Mas o Daniel Oliveira não quer saber disso: quer é que não o chateiem com mensagens «moralistas e ofensivas», enquanto na mesa ao lado do restaurante me atira fumo para cima enquanto eu estou a comer, ou quando se borrifa para a saúde dos colegas de trabalho no “open space”.
Porque o Daniel Oliveira tem as suas prioridades bem definidas e não quer que lhas baralhem com pequenas minudências.
O que quer é ir em paz num carro fechado com os filhos, a entupi-los com fumo durante um engarrafamento interminável, sem ter alguém a chagar-lhe os ouvidos sobre aquilo que está a fazer às crianças.

No seu texto Daniel Oliveira indigna-se profundamente quando um fumador é comparado àquilo a que ele próprio chama «um qualquer alarve sem educação».
Mas quando leio o medo da morte nos olhos de um amigo que fumou desabridamente durante 30 anos e que agora está a fazer quimioterapia, não posso deixar de perguntar:
- E o que é um fumador senão precisamente isso: um alarve sem educação?


segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

 

A Culpa



«Os nossos males estão sobejamente diagnosticados e todos os conhecemos: não produzimos, não valorizamos o mérito, não corremos riscos.
Os sindicatos defendem os que têm emprego seguro até à eternidade contra os que não têm emprego; os patrões apostam no Estado clientelar contra o mercado livre; o Estado defende o carreirismo e a filiação partidária contra o mérito e a independência.
Um país assim só pode ser um país falhado. Se nada mudar radicalmente, nós vamos ser um país falhado.

«Domingo, 1 de Janeiro, arrostando com filas de trânsito e arriscando acidentes, tive de tratar do regresso do meu filho mais novo a Lisboa, porque no dia seguinte abriam as aulas no ensino público e no liceu central onde estuda e onde se imagina que todos os professores públicos gostariam de estar colocados.
Das cinco aulas marcadas para segunda-feira, teve uma; das quatro marcadas para terça, teve outra: todos os restantes professores estavam de «baixa».
Ou seja, prolongaram as férias que nós não tivemos porque acreditámos que o seu compromisso com a reabertura das aulas era para levar a sério.
E, todavia, o Sindicato dos Professores quer-nos fazer crer que a profissão é tão violenta que não aguentam trinta e cinco anos até à reforma, mesmo que, em alguns casos, um terço dos trinta e cinco anos tenha sido passado de «baixa».

(Miguel Sousa Tavares in «Expresso» de 7/01/2006)



Que fique bem claro que esta transcrição parcial de mais um dos «desabafos» frequentemente brilhantes de Miguel Sousa Tavares não pretende ser «mais um post do "Random Precision" contra os professores».
Até porque os professores que conto entre os meus familiares e grandes amigos não me permitiriam tal indiscritível aleivosia.

E mesmo até porque a situação descrita (que, por incrível que pareça, se repetiu exactamente da mesma forma com a estudante do secundário cá de casa), sendo embora uma constatação de facto absolutamente indesmentível, tem para os professores uma explicação lógica e bem simples:

- Então não são conhecidas as mais recentes medidas da ministra da Educação contra os professores?
- Então já foi esquecida a autêntica afronta da ministra a toda a classe dos professores com a obrigação do cumprimento de 35 horas semanais nos estabelecimentos de ensino?

Então que não se estranhe!
Pois por muito acertado que seja o que Miguel Sousa Tavares escreve, a explicação só pode ser uma:
- A culpa é da ministra!


 

Bolhas



Quem é que não gosta de pegar num bom pedaço daquelas embalagens de plástico com bolhas de ar e rebentá-las metodicamente, uma a uma, saboreando placidamente aquele barulho profundamente irritante que fazem, quanto mais não seja para chatear até à medula as pessoas que estão por perto?

Então, porque não fazê-lo on line?
É simples:
Basta clicar na imagem –>




domingo, 8 de janeiro de 2006

 

Descubra as Diferenças



Embora sob outro título, o texto que se segue é a tradução (mais ou menos livre) do editorial da edição deste Sábado do «Washington Post».



«O cristão evangelista de televisão Pat Robertson e o presidente do Irão Mahmoud Ahmadinejad têm uma entre ambos uma inequívoca e ultrajante afinidade.
Desta vez a sua opção mútua pela indecência coloca-os numa categoria muito própria e só deles.
Enquanto Ariel Sharon está hospitalizado e criticamente incapacitado, Pat Robertson, um dos mais conhecidos extremistas religiosos dos Estados Unidos e o seu “colega” iraniano – não existem diferenças quando se trata de demagogia religiosa – sugeriram que o Primeiro-ministro israelita “estava mesmo a pedi-las”.

No seu show televisivo «The 700 Club» difundido pela «Christian Broadcasting Network», Robertson afirmou que a Bíblia diz claramente que Deus é inimigo daqueles que “dividem a sua terra”.
Por isso, Pat Robertson desejou o mal para Ariel Sharon ou para qualquer outro Primeiro-ministro de Israel que divida a terra de Deus.

Enquanto Pat Robertson proclamava estes brilhantes pensamentos sobre um homem que luta pela sua vida, o presidente iraniano expressou a sua inequívoca esperança que Ariel Sharon simplesmente morresse.
Pat Robertson and Mahmoud Ahmadinejad provavelmente estão já para além de qualquer ponto em que possam vir a ter qualquer forma de constrangimento ou vergonha.
Mas não estão livres da forte condenação que ambos inegavelmente merecem.
Nem é preciso citar os desprezíveis comentários feitos por ambos estes homens no passado. Até porque não é de prever que qualquer um deles cesse este vergonhoso comportamento.

Mahmoud Ahmadinejad, o presidente de um país com um lamentável historial sobre direitos humanos e um programa nuclear, é perigoso.
Pat Robertson é simplesmente patético.

Mas ambos têm em comum uma auto-consciência que os cega, tanto quanto os distancia da maioria das pessoas que pensam que os seus comentários são repulsivos.
Mas basta saber, pensamos, que ao mesmo tempo que à cabeceira de Ariel Sharon chegam de todas as partes do mundo mensagens de esperança, Pat Robertson e Mahmoud Ahmadinejad ainda se têm um ao outro».


sábado, 7 de janeiro de 2006

 

Músicas de Outros Tempos
















sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

 

Syd Barrett



No dia 6 de Janeiro de 1946 nasceu Roger Keith Barrett.


Foi no ano de 1965 que Roger Keith Barrett, ou “Syd” Barrett, formou com Roger Waters, uma das mais famosas bandas de Rock ‘n Roll de todos os tempos: os Pink Floyd.
O nome da banda foi inspirado em dois músicos americanos de “blues” que ambos admiravam: Pink Anderson e Floyd Council.
A formação original dos Pink Floyd incluía ainda Richard William Wright (Rick Wright) e Nicholas Berkeley Mason (Nick Mason).

Músico exímio e um compositor e letrista absolutamente notável, Syd Barrett começou já em 1968 a demonstrar sinais de completa deterioração física e mental, a que não seria estranho o abuso do mais variado tipo de drogas e químicos.

Em palco era frequente esquecer-se das músicas, das letras e muitas vezes até onde estava, permanecendo subitamente apático, para desespero dos outros membros do grupo.

Para o substituir, principalmente nos espectáculos ao vivo, foi então contactado David Gilmour, um amigo de infância de Syd Barrett e Roger Waters.

O segundo álbum dos Pink Floyd, “A Saucerfull of Secrets”, inclui já músicas de Gilmour e Barrett, embora nenhuma onde ambos tenham tocado juntos.

Mas o estado mental de Syd Barrett foi-se agravando progressivamente. Até que, ainda em 1968, os outros membros da banda, que iam a caminho de um concerto, pura e simplesmente o não foram buscar.

Depois de uma curta carreira a solo de pouco sucesso comercial, Syd Barrett vive agora na sua casa de Cambridgeshire, em Inglaterra, de onde raramente sai, dedicando-se unicamente a escrever e a pintar.

A loucura de Syd Barrett foi de sobremaneira marcante na discografia dos Pink Floyd, com especial relevo nos álbuns “Atom Heart Mother”, “The Dark Side of the Moon” e muito especialmente em “Wish You Were Here”, onde se destaca a música «Shine On You Crazy Diamond», que lhe é dedicada.

A propósito de Syd Barrett, com quem ainda hoje é difícil manter um contacto regular dada a sua persistente incoerência, David Gilmour contou-me recentemente um acontecimento deveras chocante:

Em 1975 os Pink Floyd encontravam-se em estúdio para gravar o álbum «Wish You Were Here». No dia em que procediam à gravação da música «Shine On You Crazy Diamond», David Gilmour surpreendeu-se com a presença no estúdio de um homem andrajosamente vestido e com um aspecto miserável, que se encontrava a assistir aos trabalhos.

Sendo a admissão de pessoas estranhas às gravações rigorosamente interdita, de imediato David Gilmour inquiriu o engenheiro de som, Brian Humphries, sob a presença no estúdio de tão insólita personagem.

Foi então que Humphries lhe disse que aquele homem sentado a um canto, de ar apático e pobremente vestido, era precisamente Syd Barrett, que ele tinha convidado para assistir à gravação da música que lhe era dedicada.

Mas que nenhum dos elementos da banda tinha sequer reconhecido...



Shine On You Crazy Diamond


Remember when you were young, you shone like the sun.
Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes,
like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond!
You were caught on the cross fire of childhood and stardom, blown on the steel breeze.
Come on you target for faraway laughter,
come on you stranger, you legend, you martyr, and shine!

You reached for the secret too soon, you cried for the moon.
Shine on you crazy diamond.

Threatened by shadows at night, and exposed in the light.
Shine on you crazy diamond.
Well you wore out your welcome

with random precision,

rode on the steel breeze.
Come on you raver, you seer of visions,
come on you painter, you piper, you prisoner, and shine!

Nobody knows where you are, how near or how far.
Shine on you crazy diamond.
Pile on many more layers and I'll be joining you there.
Shine on you crazy diamond.
And we'll bask in the shadow of yesterday's triumph,
and sail on the steel breeze.
Come on you boy child, you winner and loser,
come on you miner for truth and delusion, and shine!



 

Com a boca na botija



Segundo a Associated Press, Lonnie Lathan, um pastor baptista e membro do comité executivo da «Convenção Baptista do Sul», a maior Igreja Protestante dos Estados Unidos, foi preso em Oklahoma City sob a acusação de «lascívia», por ter sido apanhado em flagrante a propor a um polícia à paisana que fosse com ele para um quarto de hotel para lhe fazer sexo oral.

Quando foi libertado o bom do reverendo declarou que tinha sido apanhado numa cilada já que se encontrava no local somente a... pregar.
Isto apesar de o local ser conhecido por ser normalmente frequentado por prostitutos masculinos.

O reverendo Lonnie Lathan tornou-se conhecido pelo vigor não só com que se manifestou contra a homossexualidade e contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas também pelo apoio à política da sua Igreja de tentar convencer os homossexuais «a aceitarem Jesus Cristo como seu salvador e a rejeitarem o seu estilo de vida destrutivo e de pecado» para assim se tornarem heterossexuais.

Confesso que sempre achei curioso e ao mesmo tempo difícil de compreender o entusiasmo fanático com que tantas pessoas, principalmente padres, pastores e similares, se proclamam contra os homossexuais e contra a sua luta por uma simples igualdade de direitos na sociedade.

Talvez, quem sabe, esteja aqui a explicação...




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)



quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

 

Os Pequenos e Médios Aldrabões



O princípio do ano é sempre a melhor ocasião para nos rirmos um bocado com as previsões feitas para o ano anterior pelos astrólogos, tarólogos, “psíquicos”, bruxos e outros aldrabões do género.
Mas o que é facto é que estes autênticos facínoras continuam a pulular impunemente por todo o lado e a extorquir dinheiro à credulidade e, tantas vezes, à fragilidade emocional das pessoas.

Anthony Carr será talvez o “psíquico” mais famoso em todo o mundo e alardeia mesmo no seu site uma panóplia de celebridades que o terão procurado pelos seus serviços.

O que é facto é que as previsões de Anthony Carr falam por si!
E também pela imbecil credulidade de quem nele acredita e o transformou em milionário.

Depois de em 1999 ter previsto, por exemplo, que Muhammad Ali recuperaria milagrosamente da sua doença de Parkinson, em Janeiro de 2000 Anthony Carr previu que o célebre actor Christopher Reeve se levantaria da sua cadeira de rodas e voltava a andar, e em 2004 que o actor Richard Harris ficaria curado do cancro de que padecia.

Já em 2002 previra que O. J. Simpson admitiria a sua culpa nos homicídios de que foi acusado e que novas provas surgiriam a confirmar essa culpa, que a ponte Golden Gate, em São Francisco ruiria, causando milhares de mortos e que um dos filhos do príncipe Carlos de Inglaterra morreria num acidente.

Para 2004, Carr previu que na Coreia do Norte seriam detonadas acidentalmente armas nucleares, matando milhares de pessoas; que Saddam Hussein seria morto a tiro num atentado em que uma mulher estaria envolvida; que os cientistas levariam a bom termo a primeira gravidez masculina, que resultaria no nascimento de uma criança do sexo masculino; que Osama Bin Laden seria levado para Nova York; que ocorreria um grande terramoto na área de Hollywood e que Colin Powell seria eleito presidente dos Estados Unidos depois de se mudar para o Partido Democrata.

Para o ano de 2005 este brilhante psíquico fez previsões verdadeiramente assombrosas:
Previu que o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger seria confrontado com rumores publicados num jornal daquele estado de que seria homossexual;
Que a apresentadora de televisão Martha Stewart seria internada numa instituição mental por sofrer de esquizofrenia paranóica aguda;
Que o actor Ben Affleck passaria a pesar mais de 150 quilos;
Que o actor Matt LeBlanc da série televisiva "Friends" morreria num trágico acidente de moto;
Que o criador da série "Simpsons", Matt Groening seria assassinado pelo seu amante gay, nada menos que o actor Kevin Spacey, que seria condenado pelo crime.

Depois, anunciou que o prémio Nobel da paz de 2005 seria entregue à famosa apresentadora de televisão Oprah Winfrey.

Mas não ficou por aqui:
Finalmente, previu que seria lançada uma nave espacial tripulada para o planeta Marte e que um homicídio ocorreria a bordo;
Que Osama Bin Laden seria esmagado por um cometa que lhe iria cair em cima;
Que um novo tsunami devastaria a cidade de Tóquio;
Que seriam descobertos novos escritos originais do apóstolo São Paulo que revelariam que... comer com um garfo é pecado.

De facto, absolutamente brilhante!
E uma lição para as previsões comezinhas e medíocres dos mais famosos aldrabões portugueses, de Paulo Cardoso a Miguel de Sousa, passando pela Maya e pela Cristina Candeias, e por Maria Flávia de Monsaraz, José Luís Santos, Paula Chambel, Nuno Michaels, pelos professores Mambos e Karambas e por tantos outros, timidamente remetidos à classe dos «pequenos e médios aldrabões», e que nem sequer são capazes de pensar em grande e fazer previsões como deve ser e verdadeiramente fantásticas, como este seu colega de sucesso.

Anthony Carr chegou mesmo a prever para o ano de 2002 a inversão das polaridades do planeta Terra e que a partir de então «o que estaria em cima passaria a estar em baixo e vice-versa».

Isto sim! Isto é que são previsões!
Aldrabão por aldrabão, ao menos pensem em grande!




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)



segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

 

Indícios de Perseguição



Com o título «Indícios de Perseguição», o matutino «Correio da Manhã» publica hoje uma notícia em que relaciona os recentes destinos profissionais de Pedro Namora, Felícia Cabrita e Manuela Moura Guedes com o facto de serem «três personalidades que sempre defenderam as vítimas de abusos sexuais da Casa Pia».

Diz aquele jornal que «três anos depois do escândalo ter sido tornado público, Pedro Namora foi despedido da Câmara Municipal de Odivelas, Felícia Cabrita teve de deixar o ‘Diário de Notícias’ e Moura Guedes abandonou a apresentação do ‘Jornal Nacional’, da TVI».

A mais despudorada e abjecta desonestidade intelectual de algum jornalismo em Portugal continua a encontrar no «Correio da Manhã» o seu exemplo mais paradigmático.

Com o «Processo Casa Pia» as grandes parangonas e a ânsia desmedida em vender mais uns jornais ou alcançar mais uns pontinhos no «share» encontraram principalmente no «Correio da Manhã», no «Diário de Notícias» e na «T.V.I.» o coito ideal para alguns jornalistas sem escrúpulos “condenarem” previamente e lançarem para a lama os nomes de pessoas que bem sabem que ficarão com a sua honra e reputação manchadas para todo o sempre, sejam ou não condenadas pelos Tribunais.
E que são, afinal, os únicos responsáveis pela condenação – perpétua – a que todos os arguidos foram já sujeitos na opinião pública.

Mas a falta de profissionalismo e a frequente imbecilidade de alguns destes jornalistas, aliadas a uma persistência condenatória e persecutória cuja motivação tenho até dificuldade em entender, leva-os frequentemente ao ridículo, como é o caso precisamente do artigo de hoje do «Correio da Manhã».

Decerto para se defender de algum súbito ataque de profissionalismo que o obrigasse a concretizar as insinuações e as acusações veladas que faz, o jornalista chega ao cúmulo de dar ao seu artigo o título de «indícios de perseguição».

E então, com o caso de Pedro Namora, começa por dizer que «o antigo casapiano confirmou que foi despedido da Câmara de Odivelas» (sem se esquecer de dizer que se trata de uma Câmara gerida pelo Partido Socialista), para depois vir insinuar que, apesar desse despedimento movido pelo P.S., o inefável Namora «fez questão de garantir que irá “continuar a dar a cara em defesa” dos jovens que foram abusados sexualmente...».
Ou seja, quer o brilhante jornalista dizer que os leitores do «Correio da Manhã» podem ficar descansados: não é com esta «perseguição indiciada» que lhe foi movida pelo Partido Socialista que Pedro Namora vai deixar de defender os jovens!
O partido Socialista que se cuide!!!

Pois é:
Mas o que este inebriante jornalista se esqueceu foi de um pequeno pormenor: foi de contar a verdade!

E a verdade é que Pedro Namora foi contratado temporariamente como avençado para a Câmara Municipal de Odivelas para um cargo de confiança política de um vereador da C.D.U.
Terminado o seu período de vigência, o contrato de Pedro Namora extinguiu-se naturalmente no final do prazo, sendo absolutamente normal que o novo vereador não lho tenha renovado por não querer no seu gabinete alguém da confiança política do anterior vereador, tanto mais que depois das últimas eleições autárquicas a C.D.U. deixou de ter pelouros na vereação da Câmara de Odivelas.


Depois, vem o brilhante jornalista falar de Felícia Cabrita.
Uma vez mais inebriado pelos «indícios», o articulista diz que «Felícia Cabrita não esconde que o processo Casa Pia "pode" estar relacionado com a sua saída do ‘Diário de Notícias’».
Mas, apesar de tudo, não se esquece de dizer que foi a própria Felícia Cabrita... quem quis deixar o jornal...
E, ó miséria das misérias, quis deixar o jornal não por estar a ser perseguida mas... com medo de um dia vir a ser perseguida!!!


Mas o brilhantismo do articulista vai muito mais longe: querendo ansiosamente relacionar a saída de Manuela Moura Guedes da apresentação do jornal da T.V.I. com uma qualquer espécie de perseguição de que terá sido vítima por causa do «caso Casa Pia», e fazendo de conta que se esquece que o seu director é o seu próprio marido, chega o encantador jornalista a dizer na mesma frase que Manuela Moura Guedes «não quis abordar as razões que a levaram a deixar a apresentação do ‘Jornal Nacional’» e que «em relação ao processo Casa Pia está de “consciência tranquila”».

Como indício de perseguição, não está de facto nada mal!

Mas mais:
Como já tinha acabado os «indícios», resolveu o jornalista acabar o seu artigo passando aos seus leitores um atestado de completos «atrasados mentais».
Vais daí, e citando Felícia Cabrita, não hesita em dizer que «o poder político tentou “tirar” Catalina Pestana da Provedoria da Casa Pia».

Chamando agora eufemisticamente «poder político» ao Partido Socialista a quem, assim, uma vez mais «indicia» uma ligação política e pessoal ao “caso Casa Pia», o jornalista insulta autenticamente os seus leitores quando lhes quer fazer crer que o Governo tentou “tirar” a Provedora da Casa Pia e, pasme-se... não conseguiu!...

Mas era bom que tivesse tirado:
Espero ainda um dia vir a entender quais são as verdadeiras responsabilidades e qual a real extensão do papel de Catalina Pestana em todo este processo.
Como ainda um dia, talvez, virei a entender porque razão Catalina Pestana, funcionária da Casa Pia durante mais de 20 anos, parece ser a única pessoa que no seu interior não conhecia os abusos das crianças.
E como, com pompa e circunstância, um belo dia anunciou publicamente que iria causar um autêntico «terramoto» com a revelação e divulgação dos nomes de comprovados pedófilos e como, de repente, se calou subitamente, como se agora já quisesse proteger o seu anonimato...

Uma coisa é certa:
Se é opinião unânime que uma investigação reconhecidamente incompetente, aliada a uma acusação apressada e quase exclusiva de figuras mediáticas, só terá contribuído para a impunidade de muitos dos verdadeiros pedófilos, talvez um dia se venha a conhecer qual a verdadeira responsabilidade e as autênticas intenções de quem esteve à frente quer da investigação criminal quer também da sobre-exposição mediática que todo este caso teve.


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