terça-feira, 14 de dezembro de 2004

 

O pacto de não agressão


Em conferência de imprensa conjunta, Santana Lopes e Paulo Portas celebraram hoje um acordo de coligação pós-eleitoral entre o P.S.D. e o P.P., e anunciaram que os dois partidos vão concorrer sozinhos às eleições de Fevereiro.

É incrível como Paulo Portas entre almoços, abraços e palmadinhas nas costas, endrominou por completo o seu amigo de longa data Pedro Santana Lopes. E com ele todo o PSD.
Portas sabe bem que, nas próximas eleições, o desgaste eleitoral que se vai sentir recairá principalmente sobre o PSD.
Tenta, por isso, demarcar-se de tal desgaste, fazendo de conta que as coisas más deste Governo são da responsabilidade do PSD, e que as coisas boas são, apesar de tudo, resultado da extrema competência dos ministros do PP.
E faz isto sem que o PSD esteja sequer a aperceber-se da faca que tem espetada nas costas.

Paulo Portas até andou a fazer de conta que queria uma coligação pré-eleitoral. Coligação que chegou mesmo a ser anunciada quando o Conselho Nacional do PSD declarou que estava disposto a celebrá-la, pensando inocentemente que estava a premiar e a dar lealmente a mão ao seu velho e fiel parceiro de coligação governamental.
Mas, em concreto, Portas tudo fez para gorar qualquer acordo: ora reclamando à partida uma garantia mínima de 19 candidatos em lugares elegíveis, ora fazendo exigências de composição em futuros governos, de aceitação completamente impossível por parte dos social-democratas.

Paulo Portas sabe bem como demarcar-se do desgaste eleitoral que aí vem:
Em primeiro lugar, e porque o desgaste à esquerda em princípio não o afecta, ajudará desinteressadamente o PSD a minimizar as perdas por esse lado. Em harmoniosa concertação, e como há já algum tempo assistimos, iniciaram ambos os mais abjectos ataques pessoais a Jorge Sampaio e a Sócrates, e recomeçaram o repisar constante da tecla da “herança socialista”, procurando evitar fugas de votos para esse lado.
Mas Portas sabe que toda a capitalização do desgaste do PSD à direita será feita em proveito do PP, e até em seu benefício pessoal. E quanto maior for o desgaste, maior será o benefício.
Sem que seja preciso mexer uma palha!
Porque sabe o desgaste ocorre por si próprio, e existe já neste momento, Portas pode até dar-se ao luxo de celebrar acordos com o PSD, com o benefício adicional de não ter agora de preocupar-se com inesperados ataques nesse flanco.
Paulo Portas tem mesmo o desplante de declarar ironicamente na conferência de imprensa, e nas barbas de Santana Lopes, que «a decisão de concorrer em listas próprias, com valores próprios e programas distintos oferece, na sua opinião, um maior poder de escolha dos portugueses».
Pois claro que oferece!!!

Ou seja: o que o PSD e o PP fizeram não foi um acordo “pós-eleitoral”.
Foi um pacto de não agressão que, bem vistas as coisas, não serve rigorosamente para nada ao PSD ou a Santana Lopes.
Serve unicamente ao PP e a Paulo Portas.
Que uma vez mais, e desde há quase três anos a esta parte, lhes tem constantemente vindo a comer as papas na cabeça!



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